O zumba no caneco…

Estes rapazes e raparigas de capa e batina, com instrumentos musicais a tiracolo, com as as capas no chão a pedirem dinheiro para uma qualquer viagem de  curso, cheiram-me a carnaval, a “fazer de conta”, aquilo não é nada para arranjar dinheiro para uma viagem.

Hoje no Mosteiro dos Jerónimos lá vi uma “Tuna académica” e fiquei com a ideia que é de uma das novas Universidades, há por ali muita novidade quanto à vestimenta, parece que sairam do atlier da Ana Salazar, barretes, casacas à maneira, botas a condizer. Cheira-me a fim de semana bem passado, com uma noitada no Bairro Alto e umas quecas longe das vistas .Estamos a melhorar, até agora o que se via (na mais bela praça do Mundo) eram excursões de gente da terceira idade, garrafão na mão e uns petiscos de fazer água na boca, saboreados entre os belos jardins e àrvores frondosas.

Mas, estava eu, com a “tuna”, os rapazes e as raparigas têm um grande orgulho em serem alunos universitários e tocarem um qualquer instrumento porque não fraquejam, não desistem, não param um minuto que seja. E, ali estão, com o pézinho a dar para o lado compassadamente, e nem se apercebem do alívio na cara dos turistas quando se vêm livres deles.

É que visitar o mosteiro com aquelas dezenas de pessoas à nossa frente é penitência suficiente!

Golos do FCP em Belém:

E com Hulk a coisa pia mais fino, como o Sr. Ricardo Esbulho Costa bem sabe!

http://rd3.videos.sapo.pt/play?file=http://rd3.videos.sapo.pt/ZoT0D6UdLkUsiTYBVLYj/mov/1

[Read more…]

Mãe Querida

Ao longo dos anos já me habituei à constante preocupação do Prof. Cavaco Silva com o que os outros pensam de nós. A sua carreira política é pródiga em momentos como este último: “O Presidente da República felicitou hoje o novo líder do PSD, Pedro Passos Coelho, sublinhando que Portugal precisa de estabilidade política porque, neste momento, “depende muito” da apreciação de outros países”.

A minha mãe, uma santa, também pensa assim. Ao longo da minha vida sempre lhe ouvi tiradas como: “coloca uma gravata, filho, olha que eles estão a olhar para ti”. Lá fui e vou resistindo como posso, explicando-lhe que não é a gravata que nos torna melhores, etc e tal. Quando era mais novo e um valente cábula na faculdade, a minha mãe consumia-me a alma com as comparações com primos e vizinhos. É por isso que a minha mãe é uma santa. O que ela aturou.

Ora, o Prof. Cavaco Silva é a modos que a minha mãezinha, um Santo. Anda sempre preocupado com o que os outros possam pensar destes imberbes. Quando foi Primeiro-ministro, fartou-se de recordar a oposição do que os outros, no caso a Europa, podiam pensar de Portugal ao ouvi-los dizer aquelas coisas. Agora, enquanto Presidente da República, anda preocupado com o que possa Pedro Passos Coelho vir a fazer e dizer. É o espírito maternal a vir ao de cima.

Até no modo: a minha mãe adorava mandar recados. Mas a Maria da Conceição é a minha mãe e a uma mãe perdoa-se tudo. A uma mãe, claro está.

marx,durkheim e a teoria da infância

Para os meus discentes do Curso de Antropologia do ano académico 2001-2002, que me motivaram para a pesquisa destas ideias.

Não é a infância de Marx e Durkheim que eu refiro. Refiro-me ao que eles afirmaram sobra a infância, o meu tema preferido, o da criança.

O fundador da Sociologia francesa, espalhada pelo mundo,Émile Durkheim

Pouco se sabe do facto de Émile Durkheim ter usado, em conjunto com a sua equipa, o método do materialismo histórico para a sua análise da vida social. No entanto, no seu livro escrito em 1888 e publicado como obra póstuma em 1928, Le Socialisme, Durkheim, faz uma apreciação da obra de Marx, tal como a descreve em Dezembro de 1897, na Revue Philosophique, no seu Essais sur la conception materialiste de l’histoire.

Que Durkheim saiba de infância, é um dado adquirido. Que Durkheim se baseie na obra da Marx, é desconhecido.

No seu livro, também póstumo de 1925, L’Education Morale, Durkheim diz que o filho de um filólogo não herda um único vocábulo. O que a criança recebe dos seus pais, são faculdades muito gerais…há uma considerável distância entre as qualidades naturais da infância e a forma especial que devem adquirir para serem utilizadas durante a vida…. Ao longo de duzentas páginas ou mais, o nosso autor desenvolve a sua teoria sobre a educação moral e a pedagogia, para acrescentar mais à frente que a existência de classes sociais, caracterizadas pela importante desigualdade de quem tem e de quem apenas possui a sua capacidade de produção como força de trabalho, torna impossível que contratos justos sejam negociados, entre um possuidor e um não possuidor de meios de produção (a minha síntese). O sistema de estratificação social existente, constrange uma troca igual de bens e serviços, ofendendo assim as expectativas dos povos das sociedades industriais. A exploração impossibilita…uma igualdade necessária para exprimir a vontade…. (a minha tradução).

As ideias expressas nas páginas 209 e seguintes, delimitam a sua ideia original do desenvolvimento das capacidades da criança. Estas parecem depender da classe social, como refere Durkheim e os seus comentaristas.

[Read more…]

A gentileza dos estranhos

Será porque a vida se vai fazendo mais dura, com a famigerada crise, a precariedade laboral, o aumento da violência, a fragmentação do tecido social, a desestruturação da família, será por tudo isto que nos fomos esquecendo da amabilidade?

Há dias, no supermercado, uma senhora em cujo rosto se viam as marcas de muitas aflições, sorria docemente aos comentários que o meu filho ia fazendo e insistiu em que passássemos à sua frente, porque a fila era prioritária para idosos, grávidas e pessoas com crianças. E era, de facto, mas eu nem me lembrava disso porque raramente alguém me havia cedido passagem mesmo quando eu estava grávida ou quando o meu filho ainda era um bebé de colo.

E muito menos se havia visto por ali quem cedesse passagem a alguém por ter apenas um ou dois artigos ou por parecer debilitado, ou simplesmente porque se tem tempo e atrás está alguém que aparenta estar genuinamente apressado. Desconfiamos das intenções de quem pede alguma coisa, tememos ser tomados por parvos e já nem ouvimos, levantamos a mão, abanamos ligeiramente a cabeça, em jeito de quem diz “dispenso” e passamos ao largo.

Há uns anos tive a experiência de estar noutro continente, numa cidade de milhões de habitantes, a distribuir panfletos à saída do metro. [Read more…]

Umas papas de sarrabulho!

Num pequenino restaurante do Porto, onde se comem, a meu ver, as melhores papas de sarrabulho, estava eu deliciando-me com uma tigelinha das ditas. Ao meu lado esquerdo, de pé e encostados ao balcão, encontravam-se dois homens com aspecto de imigrantes ucranianos, bebericando cada um o seu copo de vinho tinto.

Quando viram as minhas papas fumegantes, um deles perguntou ao dono do restaurante quanto custava uma malga de papas. Um euro e meio, respondeu o patrão. O homem contou os trocos na palma da mão, encolheu os ombros e meteu os trocos no bolso. [Read more…]

Salvar a Pátria! (aqui está um texto que deve ser lido !)

Quando comecei a trabalhar, a pátria precisava de ser salva dos desvarios do PREC e por isso pagámos mais impostos. Depois, nos anos 80, houve um choque petrolífero, salvo erro, e tivemos de voltar a salvar a pátria. Veio o FMI, ficámos sem um mês de salário e pagámos mais impostos. Mais tarde, nos anos 90, houve mais uns problemas e lá voltámos a pagar mais, para a pátria não se afundar. Por alturas do Governo de Guterres fui declarado ‘rico’ e perdi benefícios fiscais que eram, até então, universais, como o abono de família. Nessa altura, escrevi uma crónica a dizer que estava a ficar pobre de ser ‘rico’… Depois, veio o Governo de Durão Barroso, com a drª Manuela Ferreira Leite, e lembraram-se de algo novo para salvar a pátria: aumentar os impostos! Seguiu-se o engº Sócrates, também depois de uma bem-sucedida campanha (como a do dr. Barroso) a dizer que não aumentaria os impostos. Mas, compungido e triste e, claro, para salvar a pátria, aumentou-os! Depois de uma grande vitória que os ministros todos comemoraram, por conseguirem reequilibrar o défice do Estado, o engº Sócrates vê-se obrigado a salvar a pátria e eu volto a ser requisitado para abrir mão de mais benefícios (reforma, prestações sociais, etc.), e – de uma forma inovadora – pagando mais impostos. [Read more…]

as mulheres não gostam de nós II parte

o homem confessa

Torno a perguntar porque é que as mulheres não gostam de nós. E torno a ficar sem resposta. Será que não há colaboração entre ela e ele? Será que o homem a abandona reiteradamente? Será que o gosto e o desgosto mudam com o tempo e a idade? Ou será apenas que a mulher gosta de mandar, ser obedecida e seduzir por meio do desgosto do homem que verdadeiramente ama?

Um casal não é unicamente uma junção de dois. Esses dois, inseridos numa época histórica e num contexto social, têm vários papeis a cumprir ao longo do tempo. O mais importante é o de serem pais e ocuparem-se dos filhos. Não apenas da sua saúde e bem-estar, bem como do seu saber e da sua educação. A minha experiência de etnopsicólogo diz-me ser a mulher quem se interessa mais pela sabedoria dos mais novos, pela sua aprendizagem, pela sua mais-valia como ser humano. Não é em vão que vão à escola perguntar como anda esse saber infantil, bem como não é em vão ser a mãe a convidada pelos professores das crianças para saber dos seus comportamentos na escola. O pai está sempre ocupado com o seu trabalho de ganhar dinheiro, ou a sentir a emoção de ser chefe de família, essa de educar em casa o descendente. Normalmente, com punição. Às vezes, com alegria.

É mais do que conhecido que a alegria da leitura depende da alegria que essas leituras causam nos ascendentes. Enquanto mais lêem os adultos, mais lêem os mais novos. Como acontece com outros saberes. O que se fala em casa fica gravado na memória da infância e passa a ser uma temática que é contínua entre adulto e criança. Não é que em casa não se brinque ou se façam brincadeiras, mas brincadeiras eruditas, como dançar Rimsky-Korsakov, ou representar Shakespeare à laia e entendimento dos mais novos. Os adultos, em casos como esses, observam com atenção e não fazem mofa dos erros; bem pelo contrário, calam e depois, em silêncio e entre adulto e criança, o livro à revisto e explicado. Esse é, diria eu, um lar feliz, com exercício, passeios ao ar livre e horas certas para adormecer e levantar, seja Sábado ou dia de semana.

[Read more…]

FutAventar – Parabéns ao Braga!

Um jogo intenso com um Braga à altura de um candidato ao título. Transições rápidas que impediam o Glorioso de recuperar a bola bem à frente como gosta, assistiu-se a um jogo equilibrado e bem interessante.

A defesa do Benfica está numa forma soberba, os dois centrais jogam de olhos fechados e isso permite que os laterais desequilibrem lá na frente, impedindo  os extremos do Sporting de Braga de efectuar os habituais desiquilibrios.

Javier, o médio centro benfiquista saiu de cabeça feita em água para travar Mossoró, que foi frequentemente solicitado, pelo meio, para dar continuidade ao ataque e entrar na área com a bola controlada.

Gostava que o Sporting de Braga ganhasse o campeonato, pois se alguém tem razões de queixa é o Braga. Tiraram-lhe Vandinho, foi o mesmo que partir a coluna a um vertebrado, tal a importância que ele tem na equipa!

Estes mafiosos não brincam! Espero, sinceramente, que o Glorioso nada tenha a ver com isso, mas se a ideia era prejudicar o Sporting de Braga, acertaram em cheio.

Agora vamos ter o Domingos nas Antas e o Vila-Boas no Sporting. Qualquer deles começou na Briosa, o que demonstra bem que Coimbra é uma lição ainda e sempre. Dois jovens treinadores portugueses para juntar aos muitos que andam por esse mundo a ganhar a vida e a semear a paixão do jogo, que é jogado com os pés mas que precisa de muita cabecinha.

Não sei se é sorte, mas desconfio que não, o Benfica foi buscar excelentes jogadores, segundas escolhas e está a desenvolvê-los. Mais dois já espreitam, o Kadec e o Ayrton, não enganam ninguem, bons de bola. Depois de anos seguidos a comprarem camionetas de jogadores que tinham a particularidade de se atrapalharem com a bola, começam a acertar. Pobre Benfica, foste sugado até à medula. No outro lado da circular o teu adversário de sempre anda pelas ruas da amargura. O jogador mais caro de sempre nem sequer joga! Alguém devia explicar !

Eu há muito que percebi onde andam as comissões. Jogam e correm mas não têm lugar na equipa do meu bairro!

Aventar, o blogue totalmente público

Viemos para inovar. Para fazer igual aos outros, não valia a pena.
A partir de hoje e até ao próximo Domingo, de forma a comemorar o primeiro Aniversário, o Aventar será um blogue totalmente público. Todos os nossos leitores poderão ser, por uma semana, autores do blogue. Todos os «posts» serão publicados desde que não enveredem pelo insulto ou pela difamação. Não temos tabús, por isso publicaremos tudo o que nos chegar. De comentadores do Aventar, de comentadores de outros blogues, de autores da concorrência, de amigos, inimigos e adversários ou de gente anónima.
Basta que nos enviem os vossos «posts» para o formulário acima indicado em Contacto, acompanhados do nome com que pretendem ser identificados e, se for esse o caso, do nome do vosso blogue. Podem começar a enviar desde já.
Esperamos surpresas. Queremos ser surpreendidos. A frase que se segue é azeiteira mas verdadeira: «Liberta o Blogger que há em ti!»
Quem sabe se não chegamos ao fim da semana com novos autores para o Aventar…
O que acham?

Pinturas de três dimensões que parecem a duas

Alexa Meade faz pintura. Mas não uma pintura qualquer. Não utiliza telas ou paredes. Pinta em pessoas. Não são tatuagens, são mesmo pinturas. Alexa, de 23 anos, desenvolveu uma técnica que faz áreas de três dimensões parecerem de duas dimensões.

A técnica não é fácil. Nem a apreensão da arte. Há quem estranhe.

Jaimie_1 4297888890_e235277834_m

Sugestões a Passos Coelho – 1

Deixe o animal feroz colher o que semeou, até porque essas medidas. ao contrário do que ele dizia há bem pouco, são incontornáveis. Congelar salários e aumentar impostos todos fazem, é fácil, e é injusto. Como é injusto querer avançar com megaprojectos que vão atirar o país para anos de pobreza. Onde está o mérito de pedir dinheiro emprestado e dar à manivela à máquina do betão?

Mas o diagnóstico está há muito feito, é só preciso ter coragem de não cair nas mãos dos Grupos económicos que controlam a política e das corporações que co-governam o país, sem voto popular para o fazer.

Na Saúde, é preciso uma Política do medicamento que tenha como objectivo duas medidas que representam a poupança de muitos milhões de euros. Aprofundar a receita de Genéricos e a imposição de “unidoses”. Manter e aprofundar “os centros hospitalares”, compondo um conjunto de hospitais e serviços de saúde segundo uma lógica de complementaridade. Criação de centrais de Compras, com vantagens financeiras determinantes ao nível das compras, do comercio e da indústria farmacêutica. Estas políticas podem descer a factura de medicamentos até 30%. [Read more…]

Apontamentos de Óbidos (21)

(Lagoa de Óbidos)

O assassinato do cartoonista Glauco


Glauco Vilas Boas era um cartoonista brasileiro natural de Jandaia do Sul. Foi assassinado no dia 12 de Março na cidade de Osasco, Estado de S. Paulo, por um jovem universitário.
Chamou-me a atenção, neste caso, o facto de ser alguém ligado à Comunicação Social. E chamou-me a atenção porque não surpreenderia que, num país da América Latina, o crime estivesse relacionado com esse facto. Até porque recentemente publicara um livro com 64 cartoons sobre Lula da Silva.
No entanto, depois de ler sobre o assunto, parece que as motivações foram religiosas. Glauco Vilas Boas era um dos fundadores da Igreja Céu de Maria, uma Igreja animista (defensora do princípio segundo o qual tudo o que acontece no Universo é provocado por fenómenos naturais) que funcionava na garagem da sua casa. Esta instituição está ligada ao Santo Daime, uma seita denominada «a doutrina da floresta», cujos membros consomem uma bebida alucinógena para fins religiosos.
Os princípios que estão na base desta seita são incríveis: a bebida tem propriedades enteogénicas, isto é, produz uma expansão de consciência responsável pela experiência de contacto com a divindade, através do encontro interior com o nosso Eu Verdadeiro, seja lá o que isto for.
O assassino era um dos membros da seita e estava alcoolizado. Quanto a Glauco, foi vítima também de si próprio e de um conjunto de crendices que, no Brasil, todas reunidas, são assustadoras.

Golo, Benfica a caminho do título:

Um jogo intenso com um Braga à altura de um candidato ao título. Transições rápidas que impediam o Glorioso de recuperar a bola bem à frente como gosta, assistiu-se a um jogo equilibrado e bem interessante.

A defesa do Benfica está numa forma soberba, os dois centrais jogam de olhos fechados e isso permite que os laterais desequilibrem lá na frente, impedindo que os extremos do Sporting de Braga de efectuar os habituais desequilíbrios.

Ver Golo de Luisão:
[Read more…]

Gostei da Vitória, gostei!

Só fica espantado com a dimensão da vitória de Passos Coelho quem não conhece a vida para lá das suas verdades feitas, absolutas e preconcebidas. Há uma semana entreguei-lhe um estudo que lhe garantia a vitória com uma vitória que vivia no intervalo entre os 58 e os 62%. Ficou nos 61. E nunca duvidei que o resultado não poderia ser outro. Percebia-se essa necessidade de mudança depois da última frustrada e frustrante edição do menu ‘mais do mesmo’. E quem vivesse com maior distanciação estes conflitos politico-partidários era com surpresa que testemunhava a falta de reacção do PSD às rupturas que, melhor ou pior resolvidas, estavam a acontecer nos outros partidos. Com excepção do PCP, mas que explica a crescente, ou pelo menos a grande popularidade do Bloco de Esquerda. O primeiro partido a viver esta ruptura geracional foi o CDS e bem se sabe como foi aguda, dolorosa mesmo, chegando a colocar-se a hipótese do partido desaparecer quando chegou aos quatro deputados e os históricos abandonaram a dianteira da linha política. Goste-se ou não do estilo, Paulo Portas conseguiu a ressurreição do novo CDS/PP, graças à sua intuição e graças aos disparates dos PSD. Aproveitou. Fez bem.

No PS a ruptura e a adaptação aos novos tempos teve o seu primeiro momento com Guterres, projectando Sampaio para a presidência da República e não parou. A maioria absoluta de Sócrates tem esta origem, mais do que por disparates de Santana Lopes. O PS conseguiu apreender mais rapidamente a mutação geracional, as dinâmicas sociais, as expectativas dos milhões de novos eleitores que já não se reviam nos discursos, nas posturas, nos formalismos racionalistas da política tradicional. E a animosidade interna contra Passos Coelho, que se manifestava com diversas motivações, no fundo não passava disto: a resistência da velha política à compreensão do novo mundo que desabrocha todos os dias. Que não suporta discussões técnicas sobre a natureza dos vínculos ao poder, que se está nas tintas para a retórica mais ou menos bem construída, que não quer saber da televisão, que é indiferente ao currículo de ‘estadista’, à pose, á racionalidade perfeita da teoria política.

Sei do que falo. Não só pela experiência como professor como por ser pai de dois rapazes com 35 e 36 anos. Os dois engenheiros e que trabalham fora de Portugal. Porque admiram Passos Coelho? Nem sabem, pois mal o conhecem e mal conhecem o seu pensamento. Como não conhecem de outros políticos. Apenas por isto: é o rosto. O sorriso. O afecto. Passos Coelho toca-nos pela humanidade. É o regresso ao mundo dos sentimentos que a ‘nouvelle politique’ ou a ’realpolitik’ desprezaram. É o regresso à emoção, à articulação da racionalidade com a afectividade. Nunca como hoje se cultuou o prazer de um bom vinho, de um bom petisco, de uma boa conversa, como se as velhas tertúlias queirosianas regressassem com outra dimensão espiritual. Não é apenas o país que precisa desta articulação entre a política racional e a entrega afectiva. Mas também o país. E é este instinto primordial contra a ameaça, pela sobrevivência cultural e, até, civilizacional que inflecte vontades e gera novas expectativas existenciais. Passos Coelho está neste grupo. O PSD pode tornar a ter esperança e a ser garante da esperança do país.