"Revolução" e "revolta"


Um acampamento diante do Museu Egípcio. Uma carga de camelos, umas tantas pedradas, dois discursos presidenciais seguidos de uma demissão, uma feira de música e comes e bebes. Afinal de contas, foi isto, a “revolução egípcia”. Os olhinhos dos comentadeiros televisivos brilhavam, quando pronunciaram vezes sem conta, a palavra “revolução”.

Pelo menos até este momento, o Egipto não houve qualquer revolução, tendo-se limitado a um render da guarda militar. Esta é a verdade e nada mais.

Na Líbia, a palavra que os RTP’s, SIC’s e afim comparsada internacional usa, é única e exclusivamente, “revolta”. As palavras têm alguma importância, pois encerram em si maior ou menor contundência, hierarquização e até, legitimidade das ocorrências.

Para muita gente, Kadhafi “é um revolucionário”, logo quem contra ele se levanta, logicamente não o poderá ser. Nas cabecinhas dos comentadores de serviço ao esquema que tão bem conhecemos desde os tempos – feliz coincidência! – em que o até agora líder líbio tomou o poder, os sublevados não passam disso mesmo: são simples “revoltosos”.

Bombardeamentos com artilharia pesada. Sukhoi russos que despejam bombas sobre manifestantes “revoltosos”, alternadamente tratados por “rebeldes”. Mirage franceses que aterram em Malta, evitando atacar os populares. Milícias à solta, mercenários que vieram do Burkina Faso e da Costa do Marfim. Execuções sumárias. Metade do país nas mãos dos revoltosos que já hastearam em toda a Cirenaica, a bandeira do antigo Reino da Líbia. Uma fuga maciça dos estrangeiros e um êxodo de líbios em direcção às fronteiras da Tunísia e do Egipto.

Parece termos voltado ás peripécias que há sete décadas, envolveram os generais Bastico, Rommel e Auchinlek. Desta vez, o Afrika Korps, o exército real italiano e o 8th Army, foram substituídos por aquilo que vemos quase em directo pela televisão. El Agheila, misurata, sarata, Bengazi, Derna Tobruk, nomes bem conhecidos pela Raposa do Deserto.

Para os nossos revolucionários de gravata, o que se passa na Líbia não é uma revolução, nem sequer uma guerra: trata-se apenas de uma “revolta”, quase ao mesmo nível de uma sublevação na penitenciária de Lisboa, do Carandirú ou da velha Sing-Sing. O embaraçado silêncio de uma boa parte da esquerda, é uma clara evidência do mal-estar, da desilusão e da derrota que é mais que certa.

Enquanto o “querido chefe revolucionário” estiver vivo e escondido no seu bunker, haverá esperança para a sua “revolução”. Para os negócios acordados com certos nazarins, idem.

Comments

  1. Não esquecer da festa que queriam fazer também com a jornalista da CBS, a… como se chama? Ahhh é isso… a Geraldina!
    Já não se fazem revoluções como antigamente!

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