Luiz Vaz de Camões, de mistério em mistério

o poeta dos poetas portuguezes, historiador, feitos de armas

Referir a vida da Luiz Vaz de Camões, é reiterar o que em Portugal e vários outros sítios do mundo, é já conhecido. Quer na Europa, nas antigas possessões portuguesas na África, na hoje América Latina, na Índia, especialmente Goa, sítio importante da Índia, passando por Macau e por Ceuta. Não era apenas um poeta, que descobrira outras terras que inspiraram os seus textos e exaltaram a sua imaginação; não era apenas um soldado que entendeu ao ser humano após ter conhecido tantos e de tão diversas espécies, era, antes de nada, quem inventara, como descoberta, aos portugueses, denominados lusitanos na sua época. Época final do romantismo europeu.

A Península Ibérica era a sua Pátria, não apenas Lusitânia, como era denominado Portugal no Século XVI e que ele, como sabemos, imortalizara na sua grande obra, escrita em 1571 e publicada em 1572 com o apoio do seu mentor desse

tempo, o desaparecido Rei D. Sebastião. D. Sebastião I de Portugal, décimo sexto rei de Portugal (Lisboa, 20 de Janeiro de 1554Alcácer-Quibir, 4 de Agosto de 1578), cognominado O Desejado por ser o herdeiro esperado da Dinastia de Avis, mais tarde nomeado O Encoberto ou O Adormecido. Foi o sétimo rei da Dinastia de Avis, neto do rei João III de quem herdou o trono com apenas três anos. A regência foi assegurada pela sua avó Catarina da Áustria e pelo Cardeal Henrique de Évora. Aos 14 anos assumiu a governação manifestando grande fervor religioso e militar. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias do passado, decidiu a montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma cruzada após Mulei Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota portuguesa na batalha de Alcácer-Quibir em 1578 levou ao desaparecimento de D. Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a crise dinástica de 1580 que levou à perda da independência para a dinastia Filipina e ao nascimento do mito do Sebastianismo. Rei que na sua juventude ouviu a exaltação das descobertas e força na luta, que Camões tinha escrito no seu excelente texto citado antes. Texto escrito parte em Goa, terra na que morou com outros amigos eruditos e poetas durante quase vinte anos, com intervalos. Apareceu em Goa no ano de 1554, quatro anos depois do esperado por ele. A sua viagem a Índia, pensada para 1550, mas demorada por ter tido um desencontro com um mancebo da corte, a quem ferira e foi enviado a prisão durante três anos. O documento que refiro, um dos raros que existem de Luíz de Camões, diz: Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na Mouraria; escudeiro, de 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador a seu pai; vai na nau de S. Pedro dos Burgaleses… entre os homens de armas” quando pensava partir para a Índia, nesse afã de descoberta dos lusitanos que andavam sempre em barcos e no mar por causa do vaticínio sobre o futuro do Infante Henrique de Avis, o quinto filho do rei D. João I, fundador da Dinastia de Avis, e de Dona Filipa de Lencastre, de que seria assassinado em terra. Nunca parou de navegar e fez dos lusitanos navegadores e descobridores como parte da sua natureza. Apareceu em Goa em 1554, em 1555 foi enviado a combater a Ormuz, e tornou a Goa em 1556. O Lusíadas tinha sido começado, mas acabado na sua seguinte viagem a Macau. Ao retornar a Goa em 1556, encontrou no governo Dom Francisco Barreto, para quem compôs o Auto de Filodemo, o que sugere que Barreto lhe fosse favorável. Os primeiros biógrafos, contudo, divergem sobre as relações de Camões com o governante. Na mesma época teria surgido a público uma sátira anónima criticando a imoralidade e corrupção reinantes, que foi atribuída a Camões. Sendo as sátiras condenadas pelas Ordenações Manuelinas, terá sido preso por isso. Mas colocou-se a hipótese de a prisão ter ocorrido graças a dívidas contraídas. É possível que permanecesse na prisão até 1561, ou neste ano tenha sido novamente condenado, pois, assumindo o governo Dom Francisco Coutinho, foi por ele liberto, empregado e protegido. Deve ter sido nomeado para a função de Provedor-mor dos Defuntos e Ausentes para Macau em 1562, desempenhando-a de facto de 1563 até 1564 ou 1565. Nesta época Macau era um entreposto comercial ainda em formação, sendo um lugar quase deserto. Fonte: Ribeiro, Ribeiro, Eduardo Alberto Correia. Camões “nas partes da China Eduardo Alberto Correia. Camões “nas partes da China”. Em Revista Labirintos. Universidade Estadual de Feira de Santana, nº 3, primeiro semestre de 2008. p. Ribeiro, já citado,pp. 11-20 Diz a tradição que ali teria escrito parte d’Os Lusíadas numa gruta, que mais tarde recebeu o seu nome. Fonte: Saldanha, Manoel José Gabriel. História de Goa. Asian Educational Services, 1990. Volume 1: Politica e Arqueológica, pp. 100-101

Na viagem de volta a Goa, naufragou, conforme diz a tradição, junto à foz do rio Mekong, salvando-se apenas ele e o manuscrito d’ Os Lusíadas, evento que lhe inspirou as célebres redondilhas.

Estes são as poucas linhas sobre um autor que tanto escreveu, em diferentes tipos de literatura, autor de uma grande obra que os seus biógrafos, por serem tantos, não vão ser citados.

Apenas duas ideias sobre Luíz Vaz de Camões, novidade para mim: A Casa ancestral dos Camões tinha suas origens na Galiza, não longe do Cabo Finisterra. Por via paterna, Luís de Camões seria descendente de Vasco Pires de Camões, trovador galego, guerreiro e fidalgo, que se mudou para Portugal em 1370 e recebeu do rei grandes benefícios em cargos, honras e terras, e cujas poesias, de índole nacionalista, contribuíram para afastar a influência bretã e italiana e conformar um estilo trovadoresco nacional. Fonte: Jayne, K. G. Vasco Da Gama and His Successors 1460 to 1580. Kingsley Garland Jayne, 1910. E uma outra: Viveu seus anos finais em um quarto de uma casa próxima à Igreja de Santa Ana, num estado, segundo narra a tradição, da mais indigna pobreza, “sem um trapo para se cobrir”. Le Gentil considerou essa visão um exagero romântico, pois ainda podia manter o escravo Jau, que trouxera do oriente, e documentos oficiais atestam que dispunha de alguns meios de vida. Depois de ver-se amargurado pela derrota portuguesa na Batalha de Alcácer-Quibir, onde desapareceu Dom Sebastião, levando Portugal a perder sua independência para a Espanha, adoeceu, segundo Le Gentil, de peste. Foi transportado para o hospital, e faleceu em 19 de Junho de 1580, sendo enterrado, segundo Faria e Sousa, numa campa rasa na Igreja de Santa Ana, ou no cemitério dos pobres do mesmo hospital, segundo Teófilo Braga. Sua mãe, tendo sobrevivido a ele, passou a receber sua pensão em herança. Os recibos, encontrados na Torre do Tombo, documentam a data da morte do poeta, embora tenha sido preservado um epitáfio escrito por Dom Gonçalo Coutinho, onde consta, erroneamente, como tendo falecido em 1579. Depois do terramoto de 1755, que destruiu a maior parte de Lisboa, foram feitas tentativas para se reencontrar os despojos de Camões, todas acabando frustradas. A ossada que foi depositada em 1880 numa tumba no Mosteiro dos Jerónimos é, com toda a probabilidade, de outra. Fonte: Fernandes, Manuel Bernardo Lopes. Memoria das medalhas e condecorações portuguezas e das estrangeiras com relação a Portugal. Tipografia da mesma academia, 1861.

Todo o mundo sabe esta sobre mesa: Poeta português, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá e Macedo, Luís Vaz de Camões terá nascido por volta de 1524/1525, não se sabe exactamente onde, e morreu a 10 de Junho de 1580, em Lisboa. Pensa-se que estudou Literatura e Filosofia em Coimbra, tendo tido como protector o seu tio paterno, D. Bento de Camões, frade de Santa Cruz e chanceler da Universidade. Tudo parece indicar que pertencia à pequena nobreza.
Atribuem-se-lhe vários desterros, sendo um para Ceuta, onde se bateu como soldado e em combate perdeu o olho direito – perda referida na Canção Lembrança da Longa Saudade – e outro para Constância, entre 1547 e 1550, obrigado, diz-se, por ofensas a uma certa dama da corte.

Esta foi a vida e obra de um soldado mulherengo, fidalgo, descobridor, que reformulou as formas da escrita lusitanas para estilos românicos locais. Reescreveu as formas da literatura portuguesa, até o dia de hoje, sendo objecto de reestudo a partir de 1880, influindo as formas de escrita até nos tempos de Sophia de Mello Breyner Andresen

É o que um cidadão português recente pode sintetizar como homenagem a um vulto que mudou a escrita de Portugal e as suas comunidades, espalhadas por vários continentes.

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