A derrota eleitoral da esquerda, consequências…

A esquerda foi ontem derrotada em toda a linha, desde a mais moderada à radical, os resultados devem ter provocado que muito boa gente ainda se encontre hoje em estado de choque. O PS foi um dos grandes derrotados da noite, mas não o único, perdeu um pouco mais de 500 mil votos e muito provavelmente 23 deputados, partindo do princípio que irá eleger um pela imigração. Imediatamente José Sócrates retirou consequências políticas, assumiu a derrota e demitiu-se da liderança do partido, que está agora numa situação verdadeiramente difícil, condicionado na oposição pelo memorando que assinou com a troika, ninguém compreenderia que viesse agora liderar a contestação ao programa do novo governo. Será assim até 2013, o que obrigará o PS a esperar dois anos, até que possa verdadeiramente assumir-se como alternativa e liderar a oposição. Até lá, podem PSD e CDS/PP aproveitar para aprovar no parlamento todas as medidas necessárias à implementação do acordo que possibilitou o resgate financeiro do país. Nesta conjuntura, será preferível ao PS escolher um líder de transição, fraco, para 2 anos, ou permitir que um dos naturais sucessores, António José Seguro, Francisco Assis ou eventualmente, mas com menor grau de probabilidade, António Costa, fique associado às políticas impopulares de austeridade, que se irão seguir? A decisão cabe obviamente aos próprios, que decidirão ou não avançar, mas só partir de 2013, ano em que teremos eleições europeias e autárquicas, um PS rejuvenescido e refrescado na liderança, já liberto do compromisso que assinou, poderá começar a construir uma alternativa de poder, até lá irá fazer a travessia do deserto, que espera possa terminar em 2015, ou antes, se a nova maioria implodir após 2013, hipótese que não descarto, caso falhe o resultado do plano de resgate e a economia não cresça. 

A CDU, confesso não perceber nesta altura em que não existe qualquer ameaça comunista, o interesse do PCP em oferecer 2 deputados a um partido que não chegaria perto de eleger sequer 1, se concorresse sozinho, obteve menos 6 mil votos que em 2009, elegendo apesar de tudo mais um deputado. Diria que foi a única força política que não ganhou nem perdeu ontem, manteve o resultado.

Já o BE foi talvez o grande derrotado da noite, mais que o próprio PS, porque viu reduzida a praticamente metade a votação que obteve em 2009, em deputados perdeu 8 dos 16 que possuía, incluindo o líder parlamentar. Mas porque o BE não é, segundo os próprios, um partido como os outros, não irá retirar consequências como os outros. Muito provavelmente Louçã continuará na liderança, Luís Fazenda também permanecerá incólume. Aliás, se contabilizarmos o tempo em que liderou o PSR, Francisco Louçã é o político há mais tempo em actividade, o que não deixa de ser irónico para um partido que pretende mobilizar os jovens descontentes com a política. Mas à esquerda do PS, já existe o PCP, implantado há muitos anos, se os principais dirigentes do BE não perceberem que têm de renovar, abrindo caminho a novas figuras que conseguem falar à sociedade, passarão de esquerda moderna a esquerda jurássica, caminhando para a extinção da organização.

Comments

  1. Interessante análise. Incompleta…

    No entanto concordo contigo.

  2. Manuel Guimarães says:

    Um PS rejuvenescido. Deve ser a 3ª via. A gaveta foi a primeira, e o socialismo moderno a segunda.
    O que verdadeiramente falta ao PS é cultura de esquerda. Vai servindo de apeadeiro a uns espertos na busca de carreira.
    A Esquerda, essa morreu. No entanto não faltam motivos para bandeira. Dá trabalho, incómodos, e usualmente quem colhe são os vindouros…

  3. Ainda não percebi o que é ser de “esquerda” hoje em dia. Será saudade do antigamente ?
    Ou simplesmente é vontade estatizante de tudo e todos e empobrecimento colectivo?

  4. Maria Elisabete Neves says:

    Ser de esquerda, xokapic, é ser exactamente o contrário daquilo que você é. Felizmente!

  5. Casa Pia, segundo Ana Gomes. Eis uma consequencia que a desvairada propõe:
    http://supraciliar.blogspot.com/2011/06/ana-gomes-e-casa-pia.html

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