A Batalha dos Três Reis

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D. Sebastião e a Batalha de Alcácer Quibir

alcacer-quibir

Cavaleiros Árabes. Foto Mohamed Bachir Bennani

 

Comments

  1. jorge fliscorno says:

    Excelente!

  2. xico says:

    Excelente.
    Gostaria no entanto de um esclarecimento sobre o início das hostilidades. Li ou ouvi que teriam aconselhado Sebastião a esperar, uma vez que o rei de Marrocos estaria em agonia e logo morreria, o que desorientaria as suas tropas. Sebastião não esperou e atacou de imediato. Que verdade há nisto?
    Considero que Portugal morreu em Alcácer Quibir. Portugal (com poucas ou nenhumas probabilidades de ser um reino) começou por vontade de um homem que se fez rei. Terminou pela vontade de outro homem/rei. Dir-se-ia um suicídio, terminada que estava a missão de Portugal (aqui entramos na esfera mística). A partir daí fomos colónia castelhana e, depois, colónia inglesa, até sermos hoje colónia franco/alemã.

    • Frederico Mendes Paula says:

      De acordo com a pesquisa que fiz o sultão Abdelmalik estava de facto enfermo à data da batalha, mas os factos são narrados de diversas formas. Há autores que dizem que ele permaneceu na sua liteira durante a batalha e sucumbiu no final dela. Outros dizem que ele mesmo doente saltou para o seu cavalo e liderou o combate inicialmente, após o que morreu. Outros dizem que ele já estava morto no inicio da batalha, mas o seu lugar-tenente Redouan ocultou o facto para não desanimar as tropas. De qualquer forma parece-me que se tratou de uma batalha em que as tropas marroquinas estavam muito motivadas, não só pela recente unificação do país, como pelo facto de lutarem directamente contra um rei estrangeiro. Caso Abdelmalik tivesse falecido uns dias antes da batalha o seu irmão Ahmed al-Mansur, futuro sultão, tomaria o seu lugar.
      Quanto à morte de Portugal em Alcácer-Quibir, concordo que o país nunca mais foi o mesmo…

  3. José Galhoz says:

    O texto sobre Alcacer Quibir é muito elucidativo, mas teremos de ser cuidadosos nos paralelos com a actualidade. É evidente que temos agora novos colonizadores (com os alemães em destaque); numa “união europeia” tão desigual e com mecanismos de “desenvolvimento” à medida dos mais ricos, era inevitável a presente situação, para Portugal e muitos outros. Quanto a mim, a diferença reside aqui – como a riqueza não chega para todos, mais dia menos dia, muitos países vão sentir essa colonização na pele e talvez se rebelem a valer (em vez de insistirem no slogan idiota de que “não somos a Grécia”).

  4. Frederico Mendes Paula says:

    4 questões se me colocaram ao escrever este artigo:
    1. o carácter voluntarista, mimado, irresponsável e despótico de D. Sebasti-ao, que faz lembrar muitos políticos actuais que por serem eleitos sabem tudo sobre tudo.
    2. a forma seguidista e resignada com que o país seguiu este louco…fez-me lembrar outros momentos da história em que um povo caminhou para o suicidio como os carneiros para o matadouro.
    3. parece-me muito obvio que houve “mão espanhola” nesta história, apesar de Felipe II inicialmente ter apoiado D. Sebastião.
    4. e se Alcácer-Quibir tivesse sido ganha? Mulay Mohammed entregava as praças a Portugal? e se entregasse o que faria Portugal com elas, tendo em conta que 30 anos antes as tinha abandonado por incapacidade de as gerir?

    • Daniela Major says:

      Caro Frederico:

      Esse ponto 3 interessa-me, até pela natureza dos meus interesses. Podia desenvolver um pouco mais? De resto muito bom texto.

      • Frederico Mendes Paula says:

        Cara Daniela
        A “mão espanhola” em Alcácer-Quibir é para mim evidente. O facto de Felipe II não apoiar D. Sebastião na batalha significava que tinha a ganhar com a sua derrota, já que abria caminho à sua proclamação como rei de Portugal. Não esquecer que após a batalha utilizou inicialmente o suborno dos nobres portugueses como arma, mas no final preparou um exército comandado pelo Duque de Alba para tomar o poder pela força. O que não é tão evidente, mas não deixa de ser verdade, é que se Felipe II não apoiou D. Sebastião é porque os turcos não constituíam uma ameaça para Espanha, ou seja, ele tinha um acordo com os turcos, provavelmente já estabelecido após a batalha de Lepanto de 1571. E de facto após Alcácer-Quibir os turcos deixam de ser uma ameaça, seja para a Península Ibérica, seja para as praças de Ceuta, Tânger e Mazagão. Inclusivamente foi de certa forma suspeito o papel de mediador que ele teve no pós-batalha ao nível do resgate de corpos e de prisioneiros. Uma coisa é certa _ a grande ameaça turca ao Mediterrâneo Ocidental desvaneceu-se com a perca da soberania de Portugal.

  5. Excelente artigo, obrigado. Por culpa destes posts estou agora a ler este livro, serve para nos abrir os olhos a muitas realidades que nos são escondidas ao longo de toda a vida.

    • xico says:

      Também estou de acordo com a dívida que temos para com a civilização islâmica. Mas venho sempre em defesa dos meus. É preciso não esquecer que a Europa ficou destroçada, a uma escala hoje inimaginável, após a queda do império romano. Ficou também sem acesso aos grandes centros do saber antigo. O mundo islâmico ocupava todo o território desde o Afeganistão até ao cabo da Roca, e viajavam muito neste vasto território onde estava o saber antigo. A Europa chafurdava nos pântanos dos seus vales e florestas. Mas no século XII era já uma luz que se acendia, mesmo antes da renascença. É preciso cuidado porque nestas coisas também há ainda muita propaganda, tal como esse epíteto de “Dark Ages” que os americanos adoram.

      • Frederico Mendes Paula says:

        Caro Xico
        As civilizações vão e vêm ciclicamente e todas elas dão os seus contributos para o progresso da humanidade e para as suas misérias. Não há bons nem maus, e todos são bons e maus.
        Relativamente ao sentimento de pertença que exprime quando fala dos “meus” é evidente que cada um sente quem são os seus. Eu pessoalmente sinto que os “meus” são os do Sul da Europa e do Norte de Africa. No fundo, os herdeiros das civilizações do Mediterrâneo. É aí que encontro as minhas raízes e afinidades. A Europa em si não me diz absolutamente nada.

  6. Foi bom pra eles, foi mau pra nós, todos os povos cometem erros durante a sua existência, mas não acho que seja o Sebastianismo que nos prejudica hoje em dia, e essa história do triste fado e do nevoeiro, não passa de treta, aqui o que falta são homens de verdade, que governem este País, pelo País e não pelos interesses deles, isso era o que se devia invocar todos os dias, denunciar tanta ladroagem e deixarem-se cá agora de Sebastianismos, anda aí muita gente que nem sabe o que isso é, além disso o pobre Rei actuou por PATRIOTISMO, estava era mal dirigido, e devido há sua juventude deixou-se arrastar para aquela ‘aventura’ desventura!!! PASSADO!!! vamos é falar do agora, do futuro que isso é o que é importante, alguém tá lá agora h espera dum D. SEBASTIÃO??? eu acho que quem fala nisso é que está saudoso desses tempos! ponto final por hoje, e vamos ver a realidade com olhos de ver!!! Boa Noite:)

  7. Frederico, vim aqui consultar pequenos dados que me interessam para uma história humorística.
    Todavia, fiquei impressionado com o seu ponto de vista em relação aos “nuestros hermanos”… igualzinha à minha….
    Um Abraço.

  8. Henrique says:

    O que era interessante aqui de pensar era do quanto a história seria diferente se D.Sebastião não se armasse em xico-esperto e tivesse ganho a batalha. Quais as consequências para o Norte de África? Onde é que parariam estas conquistas? Veriamos a relatinização e recatolicização do Magrebe? Interessante fazer o jogo dos ses.

    • Frederico Mendes Paula says:

      Ganhar a batalha, se é que isso alguma vez seria possível, não significaria ganhar a guerra. À data da batalha Portugal já tinha evacuado 9 das 12 praças que tinha na costa de Marrocos por incapacidade de as gerir. Como disse David Lopes “um reino português em Marrocos era um sonho irrealizável, com os nossos parcos recursos em gente e dinheiro”. Convém também não esquecer que o objectivo da batalha era colocar no poder o anterior sultão destronado.

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