Quando Leonardo não consegue ser Hoover

 

Nos últimos anos evito ir ao cinema e prefiro ficar, calmamente, a ver os meus filmes preferidos em casa. Não tanto pelo ruminante barulho dos comedores de pipocas (eu até gosto de pipocas) – o conceito das salas de cinema em barda dos centros comerciais permitiram dar a conhecer o elevado número de portugueses que comem pipocas de boca aberta!

 

Não, o problema maior, no meu caso, foi a chegada dos telemóveis. Primeiro com a malta que, educadamente, não desligava o som aos telemóveis. Mais tarde, a grande elevação e respeito pelo vizinho de atenderem as chamadas e agora, tendo a marralha aprendido a colocar os bichos em silêncio, o maravilhoso clarão dos ditos aparelhos sempre que uma sms é trocada com elevado denodo. Enfim.

 

Mesmo assim, como sou um despistado, por vezes esqueço a realidade e vou ao cinema. O preço dos bilhetes está, vou ser simpático, puxadote. Como a oportunidade e respectiva disponibilidade é rara, procuro escolher filmes de realizadores que aprecio, histórias que me fascinam ou então aqueles cujos efeitos especiais só podem ser devidamente apreciados numa sala de cinema. Fora isso, nem arrisco.

 

Foi o caso do filme “J. Edgar” de Clint Eastwood. A história de Hoover é fascinante. Os filmes de Clint Eastwood costumam ser fantásticos. Nem hesitei. Após os primeiros 20 minutos fiquei sem palavras. Que enorme balde de água fria. Uma história fantástica e com pano para mangas. Um filme com tudo para dar certo que se transformou, na minha opinião, que vale o que vale, num fiasco. Leonardo DiCaprio nunca conseguiu ser J. Edgar Hoover e apenas Naomi Watts convenceu. Só não me “pirei” no intervalo pelo enorme respeito a Clint Eastwood que tanto admiro. Uma grande história estragada por um actor esforçado que nunca, nem por sombras, nos consegue convencer que é Hoover. Que pena. Que desperdício.

(igualmente publicado no Forte Apache)

Comments

  1. Ricardo says:

    Também era dificil pôr um “puto” a fazer de velho sem ter precisamente isso em mente… talvez por isso é que DiCaprio seria sempre um mau Hoover. Agora se eliminarmos esse factor, até que nem está mal. Acho que não há dúvidas quanto à qualidade do actor, ou há? Vão ver o filme. É muito bom.

  2. ssru says:

    Caro Fernando, há que tempos! Concordamos contigo naquilo que se refere ao Clint e também ao Leonardo. Quanto a este é necessário fazer o esforço de nos abstrairmos da falta de rugas naturais para podermos absorver uma excelente interpretação (caso do ‘Aviador’) e uma imaculada, como sempre, direcção de actores relativamente ao outro. Eastwood rocks!
    Já quanto à utilização das salas de cinema pela “maralha”, pouco habituada a comportar-se em público de forma adequada a cada um dos diferentes locais, queremos acrescentar que nos deparamos ainda com outros problemas igualmente complexos: os pés do camelo de trás sempre a bater na nossa cadeira (como se o bilhete que comprou lhe desse acesso a isso); se te deres ao trabalho de comprar um bilhete para as cadeiras VIP deves entrar cedo na mesma pois está sempre um néscio sentado no teu lugar; com sorte podemos calhar longe de algumas stressadas que aproveitando estar ali juntas vão pondo a conversa de alcoviteiras em dia, mesmo durante o filme…
    hoje correu mal com o pessoal do teatro 3-1!

  3. maré says:

    Não, não vou ver esse filme. Vou ao cinema regularmente e não perco um festival, mas não vou ver esse filme.

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