Poltugal, um país do calalho

Isto sim, é um país do calalho! Chama-se Poltugal.”

Imaginemos por um momento o ministro Álvaro. Sentado, a ler. Sobre o regaço, os poemas de Álvaro de Campos. A sua atenção fixa-se, pensativamente, na estrofe final de um deles: “Ah, todo eu anseio / Por este momento sem importância nenhuma / Na minha vida, / Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos / Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma, / Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender / E havia luar e mar e solidão, ó Álvaro”. O Álvaro na sua solidão. E então… aconteceu. O momento. Aquele momento em que compreendeu “todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender”. Porque se deveu a uma graça divina. Apenas. Aquele Deus que, na sua obra “Diário de um Deus criacionista”, o mesmo Álvaro tanto houvera amargamente questionado pela demora preguiçosa em criar o mundo! E, bruscamente, com o efeito de uma revelação, um golpe de génio. Que haveria de mostrar a Portugal e ao resto do mundo o ministro Álvaro como o grande ministro da Economia! O momento traduzido num verso, para citar Manuel António Pina, um só verso que, no fundo, vale por uma epopeia inteira e que, na sua simplicidade, acabava por sintetizar seis meses extenuantes no domínio da acção governativa. Disse ele então que Portugal “tem falhado” no que se reporta às exportações de produtos nacionais, “tal como as natas”! O famoso “ovo de Colombo” miraculosamente transformado em pastel de nata.
Nessa altura, recorda Ricardo Araújo Pereira, “quando o ministro Álvaro apontou para o pastel de nata, os parvos olharam mesmo para o pastel de nata”. Mas os visionários viram neste gesto ministerial o zénite da aventura dos Descobrimentos, a concretização definitiva do mítico 5.º Império pressagiado pelo Bandarra, o famoso sapateiro de Trancoso, e por Fernando Pessoa. Era o novo Portugal, o Portugal do Álvaro, o Portugal do futuro, que se cumpria, concretizando o apelo pessoano – “Senhor, falta cumprir-se Portugal”. Tornava-se então mais que óbvio que “a aventura dos Descobrimentos teve como propósito principal (para não dizer exclusivo), o de ir à Índia buscar a canela que hoje faz falta para polvilhar os pastéis de nata”. Ricardo Araújo Pereira dixit. E eu não posso estar mais de acordo. Porque o visionarismo desta figura ministerial resolveria de uma penada a dívida contraída com o FMI e o BCE. Bastaria, repare-se na genialidade, colocar o mundo inteiro, “de Nova Iorque a Taipé e a Ouagadougou”, a empanturrar-se com pastéis. 78 mil milhões de pastéis de nata. Vendidos cada um ao preço competitivo de 1€, era dívida resolvida. Garantidamente. Mais ainda. O projecto deixaria de ser confinado ao pastel de nata para se integrar numa estratégia de desenvolvimento global. E aos pastéis, suceder-se-iam os coiratos em sandes, o pirolito de bolinha, o pingo directo, a bifana e o bacalhau feito em punheta. Só faltará mesmo ao Álvaro dispor hoje de um novo Camões, um super-Camões que verta em decassílabos heróicos esta épica “gesta da pastelaria” lusitana. E como contraponto político desta diáspora do pastel de nata de exportação, passámos a importar chineses. O que vai obrigar à flexibilização da própria língua portuguesa através de um acrescento ao Novo Acordo Ortográfico com as alterações necessárias à supressão das dificuldades que os chineses sempre demonstram na pronúncia do R. Reconhecidos ao comité central do PSD/CDS, logo apontaram como as pessoas mais competentes “para o conselho do supelvisão da EDP, o Catloga, o Blaga de Macedo, o Teixeila Pinto, a Celeste Caldona”. Entre outros. Exemplos do rigor moralista de Passos Coelho que, em campanha eleitoral e na sua voz de “balítono”, afirmava “sem colal de velgonha mentilosa” que, “a nossa preocupação não é levar para o Governo amigos, colegas ou parentes, mas sim os mais competentes”. E se bem que não tenha compreendido a nomeação de Caldona, o “plesidente Catloga” já afirmou explicar tais nomeações pelo facto de os chineses entenderem tratar-se de “calas conhecidas”! Tendo mesmo acrescentado que está a levar a sua nomeação tão a sério no sentido de justificar os 40 mil euros que vai enfardar mensalmente, que já tinha aprendido a escrever e a desenhar um pintelho em mandarim.
Estava prestes a fechar esta crónica, quando ouvi Cavaco, o emplastro de Boliqueime, queixar-se que a reforma de mais de 10 mil euros mensais que recebe, não lhe chega para as despesas! Comoveu-me a indigência material deste homem, complemento da indigência mental que sempre lhe reconheci. Este “sem abrigo”, sonso e manhoso, ao invocar a sua qualidade de “poupadinho”, deveria lembrar-se das centenas de milhares de euros oferecidos em acções pelo amigo Oliveira e Costa do BPN. De facto, tem razão Clara Ferreira Alves quando escreve: “O grande banquete da pátria está a ser servido aos senhores feudais com lugar sentado. Algumas migalhas vão sobrar para os portugueses que não se importem de servir às mesas.”
Isto sim, é um país do calalho! Chama-se Poltugal.

Luís Manuel Cunha in Jornal de Barcelos de 28 de Janeiro de 2012.

Comments

  1. marai celeste ramos says:

    Não é o óptimo texto que não merece comentário nem sequer o tema mas, antes, a origem colombiana dos protagonistas do conjunto, disjunto, que não criando coisa nenhuma porque nunca se viu como é possíevl tantos fazerem tão pouco, que de nada serve nem a ninguém, nem a eles mesmos, a não ser no que para eles resulta de receberem tanto 01(estilo euromilhões) pela tan

    ta maldade revelada e em nós que, mesmo assim,

  2. marai celeste ramos says:

    enviado por acaso do teclado falhado – dizia eu que mesmo a partir do “nada” porque à parte os oasteis de nata, o bom texto resultou da cratividade de quem o escreveu e não dos nadas que o motivaram porque afinal não há maior arte do que a que sei do NADA, escepto neste caso em que TUDO se esperaria pois que se trata da vida de todos MAs espero que não nos aliemntos sempre do nada porque é preciso mais um pouco pelo menos, de alimento para o corpo – Embora tena acabado de ver na TV2 relatado por malaios descendentes de portugueses com seus nomes portugueses de há 7 gerações, mostrando onde vivem todos no Bairro dos Portugueses que assim foi designado e Loja de Lisboa, rezando na Igreja de São Paulo e tendo seus ancestrais casado com mulheres malaias indígenas muçulmanas e indígenas sem a menor descriminação, mostrando em museus vestidos de noiva de seda xinesae fotografias de tanto casamento e o orgunho da sua decendência luso-malaia – mostrando ainda armas portuguesas de madeira parecendo-me a mim um cahangulo como meu irmão trouxe e algola e ainda guardo – e seus nomes são Mendes Costa + C. Franco + outrosque não retive + milagre de cristo que por ali passou (a 2º vez que veio à Terra segundo o seu dizer – guardando-se da cruz tantos lenhos que a cruz ficou tão reduzida mas então guarda como sinal de milagres que por ali tiveram lugar – com que comoção falaram – reportagem de Pedro Palma e Frederico Wibar – blacknarta – produção Sony – TV2 8 fev 2012 03.30-04:00 horas – que lindo digo eu, essas memórias guardadas e ainda hoje festejadas e sempre celebradas de geração em geração tocando fado de Amália em português e vendo sempre na televisão todos os jogos de futebol das equipes de Portugal que lá chegarem- segue na TV2 barragem do Rio Homem em Vilarinho das Furnas – entrevista a decorrer – mergulha-se no local e nas janeas das casas submersas e contado em livro publicado flando daquelas pedras com “cicatriz” falando na idêntica sensação da aldeia francesa destruída na II guerra em frança que esté como a guerra a deixou, como testemunha do tempo e dos homens e da precaridade do que constróis para ser destruído – domesticação da paisagem e natureza que sempre domina os actos humanos – chamada de atenção da precaridade do hoem – RIO Homem livro de André GAGO (mais uma memória de portugueses-RTP2 04-40H – levamos muito tempo a amadurecer diz André e só agora percebo “o tempo esse escultor” – a morte de uma aldeia e o tempo que amadurece

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