Cuidado com os números

Ainda sobre a entrevista de Nuno Crato ao jornal angolano, dois argumentos numéricos são utilizados que contrariam a realidade. O primeiro é a já célebre descida do número de alunos por causa do raio da demografia. O raio das estatísticas é que não coincidem: o Paulo Guinote fez as contas e encontrou

uma diminuição inferior a 0,5% desde 2000 e mesmo um aumento desde 2005

Estranho? não, se pensarmos um bocadinho: a quebra de nascimentos demora uns anos a atingir o ensino, houve  imigração e reagrupamento de famílias, o número de anos na escola tem aumentado (e a partir de agora a frequência do secundário é obrigatória) e, é claro, tivemos as Novas Oportunidades (número que se pode desagregar quanto aos alunos, mas é praticamente impossível de fazer quanto aos professores, já que continuavam a ter turmas no ensino regular). Terá tendência para descer? claro que terá, mas no que respeita ao número de professores até tivemos

uma redução de 8,5% em 10 anos, mais acelerada desde meio da década…

Mas há outra piada, a da Áustria que teria um racio professores alunos inferior a Portugal. É verdade:

Fonte

Mas não passa de conversa de treta. Reparem que no ensino primário, ou seja no 1º ciclo, o racio é o mesmo. Ora esse é ó único número comparável porque corresponde a um regime de monodocência, ou seja um único professor por sala de aula, leccionando toda a matéria*.  A partir do 2º ciclo estas comparações são falaciosas porque o racio depende do número de disciplinas oferecidas.  Mais disciplinas, mais professores por aluno, é óbvio, o número de alunos por turma pode ser relevante, mas também pode não ser. O alemão não é língua que me assista e não encontrei dados sobre o funcionamento do ensino na Áustria que me permitam tirar conclusões, nem vale a pena, porque se falamos de países ricos e de pobres armado ao pingarelho, como Nuno Crato nos apelidou, valerá a pena é comparar o custo do ensino por aluno:

Fonte

A realidade é uma chatice quando se confronta com ideias feitas. Portugal continua a ter um dos ensinos mais baratos da Europa, sendo o grosso dos orçamentos de todos os ministérios da educação despendido no salário dos professores. Claro que os professores portugueses têm dos salários mais baixos, coisa que por acaso a última ministra muito mentirosa se entretinha a desmentir… Mas se o que interessa são os custos, estamos conversados.

* Como se obtêm este racio gostava eu de perceber, porque as falácias são muitas. Por definição há muitos anos que um professor do 1º ciclo não pode ter menos de 20 alunos (número mínimo para uma escola não ser fechada, andando o número mínimo de alunos por sala acima disso). Estaticamente são 11. Pois, Pois, 11 meios frangos…

Comments

  1. Agripina says:

    seria bom que o pre escolar aparecesse também nestes estudos! afinal existimos e fazemos parte do sistema educativo

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