OCDE esqueceu-se do ‘momento do investimento’, diz Gaspar

OCDE(2)

Vítor Gaspar teve hoje um dia negativo. Ingrato, diria. Com coragem, e referindo-se ao ‘programa de ajustamento’ de que é o gestor governamental, confessou:

Certamente sou responsável por vários erros.

Registe-se a humildade. Todavia, exige-se-lhe mais detalhes quanto à natureza e impactos quantitativos e qualitativos, nas condições de vida dos portugueses, do maior erro cometido: a defesa intransigente das políticas austeridade, agravando o programa do ‘memorando de entendimento’ da troika – lembro a retirada dos subsídios de férias e de Natal, bem como a antecipação do IVA de 23% aplicado à energia eléctrica e gás em Setembro de 2011, quando o memorando estabelecia Janeiro de 2012.

Queixou-se do PS quanto ao memorando, mas tem reduzida moral para se lamentar. Assumiu a direcção do programa com entusiasmo e empenho, fazendo sentir aos portugueses, e de que maneira!, a deterioração da vida do dia-a-dia. Desemprego, pobreza, miséria, insensibilidade social, entre outros, são pecados a expiar arduamente. Mas, permanecerá incólume e até progredirá na carreira, a nível internacional.

A jornada de hoje, para a qual o financeiro-mor do governo estava fadado, incluiu, de facto, inesperadas frustrações e contrariedades. Até a divulgação da revisão negativa das expectativas para Portugal da OCDE lhe desabou em cima. Diz a organização parisiense: “É improvável que Portugal cumpra as suas metas”. Gaspar, que quando quer, tem resposta pronta – sai pastosa e codificada em economês, mas sai – defendeu-se:

A OCDE não considerou as recentes medidas de estímulo fiscal [o famigerado ‘momento do investimento’ cujos resultados, digo eu, serão comemorados nas praças, jardins, avenidas, ruas, travessas e becos de Portugal de lés-a-lés, com a população às centenas de milhares em euforia]

O quadro acima compara as previsões do duo Gaspar e CE/troika com as estimativas da OCDE. “São questões de décimas”, considerou o ministro. “São, são”, replico eu. Com um ligeiro exercício relativo a 2013, conclui-se:

  • As 4 décimas a mais no ‘PIB’ correspondem a uma quebra de 17,39%, ou seja, superior a 600 milhões de euros.
  • As 9 décimas de aumento do ‘défice orçamental’ traduzem-se num agravamento de 15,82%, já ajustado do valor do ‘PIB’ estimado pela OCDE; i.e,, traduz-se no aumento de 1.300 milhões do citado défice.

E assim por aí fora, passando pelo agravamento do desemprego para 18,60% em 2014 em oposição a 16,80% da previsão governamental, até chegarmos a uma dívida pública de 132,1%  do ‘PIB’ dentro de um ano.

Uns começaram, os actuais continuam e em força: “Destruição para a frente!”. O circo continua, com equilibristas, malabaristas, trapezistas e… esse mesmo!

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