Os números do défice, a dívida e os cidadãos

A comunicação social em geral, ‘Jornal de Negócios’, ‘Diário Económico’, DN e ‘Público’, seleccionou hoje como manchete a notícia de que em Setembro, final do 3.º T, Portugal tinha registado o défice de 5,9% do PIB, números do INE, e melhorado em 0,2% o resultado do período homólogo de 2012 (- 6,1%) – uma melhoria de 3,28%, se o PIB este ano fosse igual ao do ano precedente, mas não é.

Ainda prosseguindo a saga dos números, temos de considerar a recapitalização do Banif – número que os títulos dos jornais omitem – e a ‘engenharia financeira’ que rendeu mais de 700 milhões de euros da operação fiscal, com perdão de juros e coimas.

Com números e dados expressivos das ‘contas públicas’, gostaríamos de encerrar este capítulo da nossa reflexão. Passos Coelho inviabilizou tal objectivo. Na comunicação de Natal, do anúncio da redução da dívida pública, esqueceu-se de referir o valor actualizado dessa dívida – sei pelo Eurostat, isso sim, que em Set.º – 2013 o nosso débito público se fixava em 131,3% do PIB. Mas, agora, perto do final do ano, a informação é ocultada pelo PM.

Jogados e manipulados os números, então que reflexos têm essas “estatísticas de falso sucesso governamental’ nas condições de vida dos cidadãos? A deterioração, a pobreza, o empobrecimento, a emigração massiva e a falaciosa expectativa de melhoria económica que um cidadão, esquivo ao mundo do trabalho até aos 37 anos de idade, nos quer impingir como etapa vácua de felicidade. Investimento, inexplicadas expectativas de crescimento económico e outras promessas ocas de políticos e homens falsos, divididas com o aliado e cabotino Portas.

Na história dos números do INE, e em nome da verdade que não logram esconder, é imprescindível ler que, mesmo atingindo um défice á volta dos 5,9% (contas do Banif incluídas), 2013 foi ‘annus horribilis’ para milhões de portugueses e famílias, a quem cortes de reformas, pensões e salários, em conjunto com um agravamento do IRS têm castigado severamente (+20% de agravamento deste imposto, pelo menos). Não puderam satisfazer o objectivo dos impostos indirectos (IVA, em especial), com uma quebra de 2,3% em relação às metas orçamentais até ao 3.ºT de 2013. Se pior não foi, deve-se à deliberação do TC sobre os subsídios.

É em mar de falhanços, das projecções às realizações, que este governo tem navegado. Um exemplo: o célebre ‘memorando da troika’, que era justamente o ‘programa de governo’ assumido publicamente por Passos Coelho, no ponto 1. Política Orçamental, fixava o défice das AP em 2013 em 3% (5.224 milhões de euros); mais tarde, foi alterado pela ‘troika’ e governo para 4,5%, sendo, a seguir, dilatado para 5,5% e finalmente fixou-se em 5,9% com a operação Banif (mais de 9.600 milhões de euros, o que corresponde a um acréscimo de 83% em relação à meta do ‘memorando’).

Incompreensivelmente, toda esta incompetência é motivo de júbilo de Passos, Portas e até de um tal Frasquilho, ex-secretário de Estado efémero de MFL, cuja militância no PSD e o emprego no grupo BES são, pelos vistos, excelentes vitaminas que lhe alimentam os bolsos e o ego… embora deixem milhares de cidadãos à fome ou lá próximo. É a época da garotada.

Comments

  1. Fernanda says:

    A garotada tem alguns cabelos grisalhos a amparar-lhes o jogo.

    Para quem tiver interesse, é rever o que disse o analista político Joaquim Aguiar, entrevistado por Mário Crespo no jornal das 21h na sicn.

    Interessante, apesar da falta de originalidade latente, da falta de honestidade e da visão monocromática da coisa.

    Um verdadeiro “analista político”!

  2. Um verdadeiro “artista”

  3. Carlos Fonseca says:

    Fernanda, não vi o Joaquim Aguiar, nem sequer tenho a pretensão de competir com ele e com outros comentadores profissionais ou perto disso.
    Quanto ao adjectivo garotada, e tendo apenas em vista as três figuras que citei, é uma expressão que não deve interpretar-se literalmente e ainda menos em equação com os aspectos físicos. Trata-se apenas de qualificar a irresponsabilidade com que estes homenzinhos, como outros agora, antes e provavelmente depois, tratam Portugal e os portugueses.
    Se os números lhes servem para propaganda, também podem ser utilizados para os desmascarar.
    Escusado seria dizer que as minhas opiniões como as de outros podem merecer concordância ou discordância. É uma regra da tolerância democrática que, todavia, não impede combatividade.

    • Fernanda says:

      Carlos Fonseca,

      Entendi o que quis expressar no post, o que não entendi é o facto de não ter entendido que me referi à brigada grisalha, não no sentido literal do termo, mas como “irresponsabilidade de homenzinhos”, sejam velhos, novos, grisalhos ou com restaurador Olex.

      Estamos de acordo, portanto.

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