eu cá não sou de intrigas nem de meias verdades

Esmiuço com atenção o Boletim Estatístico publicado pelo Banco de Portugal.

A dívida galgou os 130% do PIB, quedando-se agora nos 132,4% do PIB. Esse vírus despesista chamado Partido Socialista, dizem eles. Essa esquerda que só tem ideias quando há dinheiro, repetem. Esse socialismo que só existe quando há dinheiro, concluem. O Tratado Orçamental obriga que o Estado Português reduza a sua dívida pública a 60% mas apesar das previsões de redução apresentadas pelo governo para os próximos anos, não existe fórmula para que isso aconteça senão voltar a castigar os contribuíntes e a procura interna. Sabendo para já que o risco de deflacção é uma realidade. A deflacção poderá arrastar consigo mais uma surte de falências e desemprego. Menos receita a entrar nos cofres do estado por via das contribuições e mais despesa contraída em apoios sociais. (Faça-se tábua rasa e corte-se ainda mais nas condições de acesso ao benefício de apoios sociais, pensarão). Enquanto o défice estrutural do Estado (leia-se o estado gastar menos do que aquilo que recebe), a dívida continuará a aumentar porque, logicamente, o estado terá que pedir emprestado aos mercados para cumprir as suas obrigações. Desengane-se portanto quem pensa que a dívida pública e o défice estrutural são elementos desligados. São elementos intimamente ligados. Quase gémeos. Esqueçam todo o argumento que foi apregoado aos 7 ventos pela Ministra das Finanças e pelos seus tutelários do ICGP de que o Estado teria uma almofada financeira significativa para fazer face às suas obrigações no próximo ano. É pura mentira.

O malparado aumentou. Principalmente junto do sector da economia mais protegido pelo programa, a banca. Ou seja: a recapitalização feita a alguns bancos poderá efectivamente não servir de nada se o malparado voltar a subir nos próximos anos. Junte-se ao conduto o ingrediente secreto: o malparado das empresas também subiu. Ou seja, há mais empresas próximas do default total do que o contrário. Porquê? Porque 86% do tecido empresarial português produz para o mercado interno e a procura interna não tem parado de decrescer.

Esta é a situação dantesca. Contudo, estamos nas vésperas das eleições europeias. Se Rangel cair, começa a cair a ponta da máscara. E Seguro (o Tozé) empolga-se do frio que tem marcado a falta de ideias do Partido Socialista nesta campanha eleitoral. A carta de intenções assinada com a Troika não saiu a tempo de estragar os planos a Paulo Rangel. Pela primeira vez, os assessores ministeriais (sim Pedro Lomba, também fizeste bem o teu trabalhinho de casa!) fizeram bem o seu trabalho. Evitaram o descalabro político total (na verdade quem conhecer um pouco do funcionamento das agências de Bretton Woods sabe que os rescaldos dos programas em andamento só saem nos boletins estacionais; neste caso, o fim do programa português e os documentos assinados para o futuro; para a saída limpa; só saírão no boletim estival lá para 21 ou 22 de Junho) ao conseguirem explicar com decência, pela primeira vez, que, mesmo que o povo queira saber a tempo das europeias no que consiste a dita carta de intenções, não o poderá saber em virtude dos timings praticados pelas instituições de Bretton Woods.

Comments

  1. Seja então muito bem vindo João! Mais um João é sempre uma boa notícia 🙂

    Excelente diagnóstico. Pena o estado de entorpecimento geral a que isto chegou. Vá havendo quem desmascare alguns mitos e mentiras…

    Bons posts e um abraço!

  2. j. manuel cordeiro says:

    Uma entrada em força. Bem-vindo, João.

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