não iremos ceder porque isso seria ilegítimo perante o esforço que os portugueses…

chega de retórica. trabalho diariamente com mercados. sei o quanto são explosivos. o quanto são narcisistas. o quanto gostam de enriquecer, mesmo que a riqueza seja paga à custa de suor, de sangue, de ataques cardíacos, de prol suja, de fome, de miséria, de despejos, de incumprimentos contratuais, de salários mínimos ou meias rotas.

temos 133% de dívida pública. juros de dívida perto dos 4%. uma meta de consolidação orçamental fixada nos 4%. o nosso país ainda não tem financiamento garantido nos mercados, mesmo apesar destes 3 anos de chumbos do TC, avanços e recúos, diminuição de rendimento das famílias, destruição do poder de compra das mesmas, destruição da procura interna e consequentemente, destruição de 1\3 do tecido empresarial português. teremos possibilidade de emitir títulos de dívida muito amiudemente, sempre com mediação do Banco Central Europeu, podendo o estado português leiloar com maior e razoável (utilitarismo acima de tudo) regularidade bilhetes do tesouro desde que, por um período igual ou superior a 12 meses e com uma procura que não faça os juros pedidos pelos investidores ultrapassar a razoável barreira dos 0,6% (no passado mês de março, o estado português conseguiu financiar-se em 320 milhões de euros a 0,487% a 9 meses a 925 milhões a 0,587% a 12 meses).

já pensaram que neste momento bastará um sopro vindo da crise ucraniana, vindo da crescente crise turca (desde que qualquer tomada de decisão envolva um país ou uma instituição europeia), uma ligeira ventania na débil economia norte-americana ou até uma sondagem que preveja a possível vitória da Frente Nacional em França nas próximas presidenciais para colocar os juros da dívida português acima da barreira psicológica dos 6% e como tal, tal previsão faça soar novamente os alarmes de Bretton Woods e Bruxelas rumo ao 2º resgate? já pensaram em como um factor extraordinário, decorrente de um país 3º, factor esse que não nos diz respeito, poderá novamente ser sinal de ter que recomeçar tudo do zero.

2. estamos a trabalhar afincadamente para que os portugueses não sintam esta crise…. parem. corta-se na CES, aumenta-se o IVA e a TSU paga pelo trabalhador. ou como quem diz, dá-se com uma mão, tira-se com a outra. lava-se um pé sujo, deixa-se o outro cheio de poeira. leva-se uma galheta na face esquerda e dá-se a direita como Jesus ensinou. tira-se a moeda de César (que tanto jeito me tem dado para comprar cromos do Mundial 2014 nos últimos dias) para nunca mais a devolver. a CES é pesada? é. para quem? para o bolso do cidadão. o IVA é pesado? é. para quem? para quem vende. para quem fornece. para o empregado que é despedido porque a sua empresa não fornece aquele que vende porque aquele que vende fechou porque o que vendia já não era lucrativo e como tal já não era capaz de manter a tenda aberta.

Nunca vi. Confesso que em 26 anos de vida nunca vi uma casa construir-se pelo telhado. Economicamente falando: nunca assisti a nenhuma recuperação de uma economia e ao necessitado crescimento pela via da destruição da procura interna. Só a procura interna, ou melhor, só o crescimento da procura interna será capaz de criar a tal espiral expansiva que permita ao estado não só arrecadar mais receitas por via das contribuições e dos impostos indirectos como por via da redução da despesa com as rubricas ditas sociais do orçamento de estado (sinceramente já nem sei se existem dado o desapego que este governo tem das ajudas sociais a quem realmente necessita delas). Porque com um IVA baixo (entre outras medidas como a necessidade que este país tem de um mercado concorrencial melhorzito em alguns sectores económicos, o fomento de programas que ajudem as empresas a contratar a longo-prazo em vez de contratar a estágio profissional de curta duração porque é mais barato; a receberem os seus créditos a tempo e horas, principalmente quando o devedor é o estado\mais seguros\sem recurso ao contencioso) as pessoas, por estranho que pareça naquele edifício da esquina do terreiro do Paço, tem um maior poder de compra. Sentindo-se ávidas a comprar, irão fomentar a economia de quem vende, que com um superior rendimento na sua caixa, também irá consumir e irá pensar em pedir mais ao fornecedor, que por sua vez, recebendo a horas, poderá pensar num aumento a médio prazo caso consiga escoar tudo aquilo que produz e pagar umas horitas extras ao seu empregado, que, para além de comprar, até poderá pagar a licenciatura à filha do meio que tanto quer ir para uma Universidade praxar e apanhar copos nas vielas da Rua Direita. Pelo meio, o Estado encaixa de receita (em crescendo com o crescente poder de compra), e a produção é obrigada a contratar ao exército industrial de reserva, fazendo com que o Estado diminua a despesa com apoios sociais e aumente a receita por via das contribuições. Mas, no fundo, esta é a ideia deste humilde coimbrão que vos escreve às 2 da manhã. No fundo, vou dormir, e amanhã, de volta aos mercados, sei que o estado está a preparar o 3º guião para os cortes “reformáticos” do estado e prepara-se para assaltar mais umas carteiretas (não de cromos) mas sim das velhinhas que passam entre o Princípe Real e o Chiado.

Comments

  1. Brilhante exposicao e…Visao!
    Muitos parabens! 🙂

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