Hýbris

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Já os velhos Gregos – os antigos – apontavam e denunciavam, com a noção de “húbris”, a confiança desmedida, a insolência, a arrogância incontrolada. É a fase em que está a elite financeira e a burguesia mais enriquecida com a situação a que chegamos. Assim, depois de parasitar e espremer a economia e o trabalho, depois de, através do delírio ou fraude financista, ter exaurido os recursos que eram, ou deviam ser, de todos, chegamos à fase dos brinquedos e dos símbolos do poder desmedido aos pés do qual ajoelham os governantes que, em hora maldita, foram eleitos. Isto é, já não se trata de uma apropriação privada dos principais meios de produção de um controlo racional, se bem que perverso, das alavancas fundamentais da esfera económica. Agora, chega a hora do capricho, da exibição arrogante, da insolência, numa palavra, da “húbris”. Já não se visa só a apropriação privada, mas a apropriação pessoal e, no cúmulo, o cercear aos outros o acesso aos bens que, por agora, são de todos.

O que parecem a muitos sinais sem grande importância – a compra, para regalo ou prestigio pessoal, do Oceanário, por exemplo – são sintomas de uma doença que pode corromper o que resta da coesão social sem a qual uma sociedade fica sujeita a perigosos factores de desagregação. Os sinais estão por todo o lado. Mas os asininos que nos governam e os seus mandantes já tomaram o freio nos dentes. Quer uma praiazinha particular e está impedido há séculos? Eles vendem. E que tal os Jerónimos para os filhotes e as meninas fazerem uma rave ou, se é piedoso, para sua capela particular? Eles vendem. E o Jardim Botânico para a senhora passear os cãezinhos? Eles vendem. E que tal um bairro camarário para lhe pegar fogo enquanto, numa muralha do castelo de S. Jorge – que, entretanto comprou – canta acompanhado pela sua harpa? Eles vendem.

Comments

  1. Muito bem visto !!! Quem duvidará que estamos na mesma situação dos gregos nessa altura( 600 anos AC),tal como hoje, estamos na mesma situação dos gregos !!! É o preço que nós e os gregos temos que pagar por levar a civilização ao mundo inteiro;que hoje é governado por uma escumalha de gente sem cultura e sabedoria, totalmente subjugados pelo poder do dinheiro, neste casino universal da batota, no negócio do ouro,diamantes petróleo,armas e drogas !!!

  2. Rui Silva says:

    Ainda bem.
    Mesmo em projetos que sejam implementados pelo estado que se revelem lucrativos, logo que possível deve esse mesmo estado retirar-se, sob pena de ser mais um caso para o habitual “jobs for the Boys”, e o inexorável caminho para o descalabro financeiro.
    É até compreensível que o estado se mantenha em atividades essenciais e em zonas desfavorecidas mesmo com prejuízo.

    cumps

    Rui Silva

    • João Soares says:

      Sr. Rui Silva.
      Quando o Alexandre Soares dos Santos for dono do oceanário,poderá muito bem acontecer que ele ponha como condição de entrada aos “Ruis Silvas ” que lá forem ,a compra de um Kg. de bolota para o jantar da família.
      Depois vá-se queixar ao Totta.

      • Rui Silva says:

        Errado caro João Soares,
        O individuo rege-se pelo lucro. Vai fazer tudo para fornecer o melhor serviço pelo melhor preço, pois é dessa forma que mais ganha.
        Ao capitalista não interessa a cor da pele, religião orientação sexual etc, etc.
        Já teve alguma vez dificuldade para entrar no Pingo Doce?
        Se teve foi por estar a abarrotar de pessoas ( tipo 1º Maio , durante a manifestação de interesse das pessoas em produtos com 50% de desconto).
        O seu raciocínio baseia-se em mitos.
        cumps
        Rui Silva

  3. José almeida says:

    Excelente artigo. Parabéns José Gabriel. Talvez consultando factos históricos possamos entender a “húbris” desta clientela nacional. Esta “húbris” que alastra por todo o mundo. Como bem refere a autoconfiança desmedida e destemida, a insolência e a consequente arrogância incontrolada, estão a “inclinar” a terra. Vamos ver o que a história nos ensina. Varoufakis também está à espera que a história lhe dê razão.

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