Portugal, o porta-aviões dos camaradas do PCC

CapChina

Houve um tempo em que receber rasgados elogios de um oligarca chinês com estreitas ligações ao Partido Comunista Chinês poderia ser considerado como algo de extremamente negativo. Tanto mais se esse elogio fosse enviado para a direita do espectro. Mas os tempos mudam e o governo de Pedro Passos Coelho terá poucos e tão leais amigos como a armada chinesa que tão bem tem sabido aproveitar a época de saldos de quatro anos que o actual governo lhes proporcionou.

Presidida por um destacado membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, uma estrutura subordinada ao regime comuno-capitalista chinês, a Fosun tem sido um da grupos que mais tem beneficiado das rebaixas portuguesas, tendo adquirido, apenas durante o período de vigência do actual governo, 80% da Caixa Seguros (Fidelidade, Multicare e Cares) por mil milhões de euros (representa 30% do mercado no nosso país) e a Espírito Santo Saúde por 480 milhões. E prometem não ficar por aqui. No final de Maio, a empresa liderada por Guo Guangchang anunciou um aumento de capital e mais 6,4 mil milhões de euros para continuar a investir. Meses antes tinha já formalizado o interesse na aquisição do Novo Banco.

Qual é o problema? Aparentemente nenhum. Entre investimento subtraído à Angola subnutrida, ao ditador da Guiné Equatorial ou a um qualquer grupo chinês ligado ao Partido Comunista Chinês, a diferença é praticamente inexistente. É, na sua maioria, dinheiro sujo proveniente da exploração e de outras formas de opressão que recebemos de braços abertos. Já o senhor Ulrich mostrou-se chocado com esta vaga de investimento chinês, afirmando mesmo, em Abril passado, que Portugal se tinha transformado no “porta-aviões da China para entrar na Europa“. O presidente do BPI foi mais longe e aproveitou para defender os seus amigos absolutistas de Luanda afirmando que

Ninguém fica escandalizado que o presidente da Fosun seja membro do comité do Partido Comunista chinês e as empresas sejam comandadas pelo Estado e depois ‘aqui del-Rei’ quando os angolanos compram qualquer coisa em Portugal, argumentando que não são transparentes, etc [DE]

Guo Guangchang parece concordar com Fernando Ulrich no que à teoria do porta-aviões diz respeito quando afirma que “Portugal tornou-se numa porta de entrada para a Europa e que acolhe bem o investimento chinês“. E perante tudo isto, parecem-me normalíssimas as recentes declarações do camarada Guo que afirmou que Portugal é o melhor país para investir. Então não é? Grandes empresas em saldos, legislação laboral a trilhar o caminho da exploração e vistos Gold para qualquer contrabandista que compre uma casa em Cascais são razões mais que suficientes para sermos o sonho de qualquer chinês interessado em investir parte da fortuna do regime. Sim, é que o dinheiro da Fosun não cai propriamente do céu. No final de 2014, a dívida da empresa ascendia já a 13,6 mil milhões de euros.

A relação entre governo e os camaradas chineses é já de tal forma estreita que o presidente da Fosun já incorporou a narrativa e é vê-lo dizer que Portugal fez “tudo bem“, que “tem estabilidade política” e que a situação da Grécia, onde a Fosun curiosamente também tem investimentos, não deverá afectar Portugal. Um esforço diplomático mínimo para quem tão boas e baratas compras por cá tem feito. Afinal de contas, isto é boa malta de esquerda que em nada se assemelha à esquerdalhada que por cá temos ou aos tolinhos que governam a Grécia. Estes sabem investir e pôr quem contesta na linha.

 

Comments

  1. Rui Silva says:

    Não é só governo chinês.
    “Ser” intelectualmente de esquerda e ter comportamento capitalista é algo muito em voga hoje em dia.

    cumps

    Rui SIlva

    • Tão na moda como ser fascista e ter um comportamento de direita moderada.

    • ZE LOPES says:

      “Ser”, entre aspas, porquê? É o que eu digo, o seu tirocínio neste blogue corre cada vez pior! O “Mirone” é, cada vez mais uma “Miragem”…

  2. Por isso é que o mandarim acaba de ser introduzido no sistema educativo português como uma das segundas línguas possíveis: pela relevância da China em Portugal e para dar emprego a mais uns chineses, pois cá ninguém precisa de tal coisa!

  3. Os inglese devem ser os lacaios dos chineses. O investimento chines no UK é mais do dobro de que em Portugal (11-4 mil milhoes). O mandarim na Inglaterera é a terceira lingua mais aprendida; mas claro isso são aqueles estupidos ingleses.

Trackbacks

  1. […] para receber propostas vinculativas para a compra do Novo Banco, cuja corrida ficou reduzida aos camaradas da Fosun, da Anbang e ao fundo de investimento Apollo, as propostas dos finalistas não irão além dos 4 […]

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