Braga, a Cidade Desapessoada

braga_automovel_passadeirasBraga, já o disse aqui, é uma cidade sem árvores, com poucas árvores, com cada vez menos árvores. Não me lembro da última vez que se plantaram árvores na cidade, ou porque não veio nos jornais, ou porque não era importar vir nos jornais ou, pior ainda, não se plantam árvores em Braga há décadas. Pelo contrário, cortam-se árvores maduras para dar lugar a painéis de publicidade.
A cidade cujos destinos tiveram à frente Mesquita Machado entre 1976 e 2013, e no que à fruição (ou não) do espaço público diz respeito, está agora igual a ontem. Se algo mudou na percepção e gestão do espaço público, é claramente pouco e muito pouco visível.
O executivo agora liderado por Ricardo Rio assinala agora três anos de mandato.
Já se terá questionado o jovem autarca sobre o que realmente mudou na cidade?
E o que continua igual?
E o que se agravou?

Nota: não sou proprietário de um veículo Citroen.
Nem nunca comprarei um carro ao Filinto Mota… 
[foto via]

O estranho caso do ambientador

Conta-me o A. que leva dias convencido de que foi ele a estragar a sonda Schiaparelli. É preciso que vos diga que o meu amigo A. é um neurótico que cede com frequência à paranóia, mas a quem efectivamente acontecem coisas invulgares.

Levava dias enfiado em casa a experimentar um brinquedo novo, uma coluna de som pequenina e discreta, com aspecto de perfume ambientador, à qual ele ditava ordens e que respondia apagando as luzes do corredor ou ligando a máquina de lavar roupa, conforme o que ele mandasse. A coluna, explicou-me ele, precisa de ser calibrada, coisa que só acontece falando muito com ela e deixando que ela se vá enganando, ligando agora a máquina do café em vez da secadora, fazendo tocar o alarme de casa em vez de ligar o rádio. Explicou-me tudo com paciência, como se também eu precisasse desse tempo para calibrar-me e ser capaz de perceber o que aí vinha. Perguntei-lhe se a coluna estava ligada. Estava. Tinha de estar. Quanto mais nos ouvisse melhor seria capaz de perceber as distintas modulações da voz humana. [Read more…]

Um presidente mediocre

Rui Naldinho

Quando me falam das crises dos Partidos Socialistas e Sociais Democratas da Europa lembro-me sempre de uma entrevista recente dada pela politóloga e filósofa francesa, Chantal Mouffe, e cito apenas um pequeno excerto da entrevista:

Como sabe, hoje em dia, a classe operária vota maioritariamente na Marine Le Pen, e vota nela porque se sentiu completamente abandonada pelos socialistas. Os eleitores socialistas são a classe média e os imigrantes. Há um think tank, que se chama Terra Nova [próximo dos socialistas franceses], que afirma que a classe operária está perdida para os socialistas. É por isso que se concentram na classe média e nos imigrantes, que julgam que nunca votarão na Frente Nacional. Os governos socialistas ofereceram a classe operária a Marine Le Pen. Um problema fundamental é que a classe operária é também aqueles que são os perdedores do processo de globalização. E os socialistas interessam-se mais pela classe média, que ganhou com esse projecto. [Chantal Mouffe, em entrevista a Nuno Ramos Almeida, no i de 3/10/2016]

Discordo apenas da última afirmação de Chantal Mouffe. Para mim, uma boa parte da classe média também está a perder com a globalização. A única classe média que ainda se mantém à “tona da água”, corresponde a um sector intelectual ligado à ciência e às novas tecnologias, com profissões ainda bem remuneradas dada escassez no mercado europeu deste tipo de mão de obra qualificada, mas que a breve prazo se tende a massificar. Basta recordarmos que hoje a profissão de médico não tem emprego garantido, coisa que outrora não acontecia. [Read more…]

Uma questão de prioridades

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O jornal PÚBLICO mantém há dois dias a entrevista a PPC em destaque. Nos entretantos, aconteceram coisas, como uma entrevista do primeiro-ministro e a questão da DBRS. Coisitas, afinal, a não merecerem destaque na filial do Povo Livre.

O Expresso da Manhã

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Contrariamente àquilo que aconteceu durante a governação Passos/Portas, que falhou, sucessivamente, quase todas as metas a que se propôs, 2016 será, tudo parece indicar, o ano em que Portugal sairá do procedimento por défice excessivo, apesar da dívida pública que se mantém em níveis estratosféricos. Contudo, e sendo certo que o défice se situará abaixo dos 3% exigidos por Bruxelas, resta saber quão abaixo desse valor ficará. [Read more…]