O princípio da igualdade como treta

O modo como a luta dos professores é comentada por uma mole de gente muito, pouco ou nada encartada merece algumas notas, mesmo se a distinção entre os vários tipos é difícil, tal é a ignorância, tantos são os preconceitos: no fundo, o que separa os encartados dos outros é o facto de que os primeiros são pagos para serem igualmente ignorantes.

Manuel Carvalho, o director do Público, regozijava-se, há pouco, na pele de comentador televisivo, com os recuos do PSD e do CDS no âmbito da recuperação do tempo de serviço dos professores. E regozijava-se porque a aceitação das reivindicações dos professores criaria desigualdades relativamente a outros trabalhadores, mesmo dentro da Função Pública.

Outros, diplomados em redes sociais, tão licenciados como Sócrates ou Relvas, acusam os professores de só se preocuparem com os problemas da sua própria classe, reclamando aquilo a que outros não têm direito, insensíveis diante dos dramas alheios. Esta reacção (porque não podemos chamar-lhe pensamento) estende-se a qualquer classe profissional que, de algum modo, proteste ou faça greve.

Vou confidenciar-vos algo da minha vida privada: já sofri várias entorses no mesmo pé. Peço antecipadamente perdão pelo meu egoísmo, pela minha insensibilidade, mas, naqueles momentos, estava tão concentrado na minha dor que não conseguia pensar, por exemplo, numa pessoa que tivesse partido as duas pernas. Mais: confesso que não pensava sequer em pensar. [Read more…]