E/ou

O Tribunal Constitucional (TC) chumbou, mais uma vez (a terceira vez desde que a Lei foi aprovada na Assembleia da República), a Lei da Eutanásia.

No seio da discórdia está uma conjunção. Quando se lê que, aquando do pedido do paciente para ser eutanasiado, este tenha de estar dotado de sofrimento “físico, psicológico e espiritual”, o TC questiona se “e” quer dizer “ou”.

Quando andava no ensino secundário, eu até era bom a Português. Ainda assim, a parte gramatical era a que me subtraía pontos em cada teste escrito. Contudo, acho que estou em condições de aferir que “e” significa “e” e não “ou”.

Em primeiro lugar, é improvável que uma pessoa que sofra fisicamente não seja, também, afectada psicologicamente. Se psicologicamente está afectada, por conta de questões físicas, então está afectada espiritualmente. Como tal, faz sentido o “e” na frase “físico, psicológico e espiritual”.

Em segundo lugar, há uns tempos, quando João Caupers (que, ao que parece, até é a favor da aprovação da Lei) foi anunciado como o novo presidente do TC, vieram a público umas (estranhas) opiniões sobre vegetarianismo e homossexualidade, algumas já datadas, por parte do mesmo. Escrevi aqui, deixando um conselho ao então recém eleito presidente do TC, “(…) Quanto a João Caupers, um conselho: coma folhas de alface. Ou leve no cu. É à sua escolha. (…)”. Ora, a conjunção “ou”, na frase supracitada, pressupõe a liberdade de escolha por quem é receptor das palavras proferidas. Se tivesse escrito “coma folhas de alface [e] leve no cu”, estaria a fazer uma relação entre as duas partes, como na frase “físico, psicológico [e] espiritual”, em que existe relação entre as três (em oposição a “físico, psicólogo [ou] espiritual” – se assim o fosse, pressupor-se-ia que o paciente pudesse pedir a Eutanásia caso as três características não fossem cumulativas).

O que é certo é que, agora, a Lei é devolvida ao Parlamento, deixando os deputados com uma batata quente nas mãos. Ao mesmo tempo, sabe-se que alguns dos juizes que votaram contra a Lei com base das conjunções e/ou sairão brevemente. Não se sabe é se serão substituídos por juizes mais progressistas.

Da série: diz o roto ao nu

Sticker de @filhobastardo

Foi notícia:

Rui Moreira critica excesso de opinião de Marcelo

O Rui Moreira que:

1 – Rui Moreira acusa PSP de “tentativa de cosmética”;

2 – Rui Moreira perplexo com custos da JMJ. Portugal “vive de festas e eventos”, quando “aqui e ali está a cair aos pedaços”;

3 – Rui Moreira: “Marginalizar o Chega é excelente para Ventura, mas objetivamente mau para o sistema político”;

4 – Rui Moreira admite restrições ao automóvel no Porto já fora do seu mandato;

5 – “É preciso ter uma lata descarada para dizer que a descriminalização do consumo de droga é um sucesso”, diz Rui Moreira;

6 – Rui Moreira questiona capacidade do IPMA para prever fenómenos torrenciais;

7 – Rui Moreira agradece apoio da China no início da pandemia;

8 – Rui Moreira recusa que Pedro Nuno Santos seja “único responsável” pela situação na TAP e fala em “vícios instalados”;

9 – Rui Moreira sobre estacionamento em segunda fila: “É absolutamente intolerável”;

Carvalho da Silva em entrevista à TSF e JN: um exercício de clarividência

Manuel Carvalho da Silva, antigo dirigente da CGTP. Foto: Leonardo Negrão

Perto do fim de uma entrevista conduzida por Domingos de Andrade (TSF) e Rafael Barbosa (JN), Carvalho da Silva elenca os problemas que deveriam ser as prioridades de qualquer governo.

“A preocupação primeira do Governo, do presidente da República e de quem quiser intervir na política deve ser a de olhar para os bloqueios com que o país se debate. Há quatro ou cinco grandes questões que têm que passar para o centro da observação de forma clara, ou vamos andar na reprodução contínua de casos e casinhos, ou de intervenções do presidente, umas vezes a meter a mão por baixo do Governo, outras vezes a dar-lhe uma martelada. Isto não tem interesse nenhum. A questão em que nos devemos centrar quando discutimos hipóteses de futuro, é, em primeiro lugar, como se resolve o baixo perfil da economia e do tipo de emprego. E aí há três coisas a considerar. A desvalorização salarial e das profissões como estratégia da economia não pode continuar. Não é possível termos um futuro melhor se as empresas portuguesas não se posicionarem melhor nas cadeias de valor. Não é possível persistir-se nesta ideia de que o modelo de turismo que temos é a grande salvação e secundarizar-se a industrialização. O segundo grande problema é o demográfico. Não podemos estar a exportar jovens que formámos, quando necessitamos deles, e, por outro lado, não podemos utilizar a imigração como fator de manutenção de baixos salários e de exploração. São os défices na habitação, na mobilidade e na coesão territorial. É o problema da pobreza estrutural, tema a que nem o Presidente da República, nem outras instituições dão grande atenção. É chocante a condescendência com a pobreza que temos.”

Uma entrevista muito interessante, da qual deixo mais algumas partes.

[Read more…]

Balada de Despedida do 5º Ano Jurídico 88/89 – Toada Coimbrã

Ah!, saudade. Até uma ou outra nota semitonada tem outro encanto.