O meu voto de confiança

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E no entanto, nem todos andamos cá para ver andar os outros, e aprender a fazer como eles (sem pensar) fazem. Muitos escutam a sua humanidade pedir-lhes o que profundamente é no que a constitui: um anseio, que requer a caminhada – descoberta, conquista, chama-lhe o que quiseres. A maioria desses caminhantes são jovens, pessoas a quem contudo normalmente se atribuem todos os defeitos herdados dos pais, como se o Mundo que lhes é dado a viver nada lhes trouxesse, não os confrontasse, como se fossem apenas os genes de que são a reprodução mais recente. Alguns desses jovens viajantes que não querem já saber dos carros e das casas (que o desemprego que lhes destinam torna de qualquer modo inalcançáveis) fazem-se hoje portugueses noutros lugares.

Cruzei-me há dias com uma jovem estudante que quer cumprir a sua vocação e ser médica – ser médica pelas razões certas e eternas que fazem da medicina uma missão. Como o jornalismo o é, ou o ensino, e também a política, apesar de tudo aquilo a que assistimos e que nos é oferecido como normalidade. Gostaria de ser médica, essa médica, em Portugal, onde é tão precisa. Mas receia não aguentar a pressão, os sistemas informáticos de gerir pessoas ainda demasiado centrais no processo curativo, e ainda cheios de deficiências e de rigidez, sem espaço para a diferença (a singularidade que cada ser humano é), reproduzindo o que acontece na organizações, onde as pessoas competem pela sobrevivência e pelo poder, e onde a diferença não serve, não cabe.

Vi nessa estudante de medicina, como em muitos mais jovens que vou conhecendo, a visão desse mundo em mudança, dentro da cabeça dos mais novos, em gestação rápida que os tempos vão velozes, um mundo a nascer e que se construirá sem dúvida contra aquele que hoje decai alegremente, perante a indiferença de tantos para quem a injustiça é uma espinha de engolir.