Abril – mês internacional da Arquitetura Paisagista

Central Park, Nova Iorque

Uma simbiose onde são combinadas em harmonia ciências naturais, sociais e artísticas, são diversos os ramos que definem esta complexa e completa área que é a Arquitetura Paisagista. Muito sustentada na componente vegetal, este é o principal traço que a distingue da Arquitetura que conhecemos. Não é possível falar nesta área sem saltar rapidamente à memória 3 grandes nomes: Frederick Law Olmsted (criador do Central Park, em Nova Iorque), Gonçalo Ribeiro Telles (pai da Arquitetura Paisagista em Portugal) e Francisco Caldeira Cabral (considerado o pai do ensino da Aquitetura Paisagista).

Segundo Caldeira Cabral, esta é uma ‘arte de ordenar o espaço exterior em relação ao homem‘ – os arquitetos paisagistas desenvolvem capacidades para planear e projetar paisagens ecológica, social e economicamente sustentáveis, com vista à promoção da qualidade de vida das comunidades humanas, da qualidade do meio ambiente e da biodiversidade. [Read more…]

Patrick Jacquet – Mise Au Point


© Patrick Jacquet – Mise Au Point

Emannuel Viollet-le-Duc, o nazi do património

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Claro que este título é uma figura de estilo, mas aquela que o Google e seu doodle do dia merecem.

Viollet-le-Duc foi o pai de uma teoria genocida que imperou na relação entre arquitectura e património medieval a partir de meados do séc. XIX, entre nós com atentados praticados durante décadas. Tratava-se de repor a pureza original dos edifícios, como se a História morresse no séc XIV, arrasando tudo o que lhes foi acrescentado entretanto. [Read more…]

A “arquitectura” benfiquista

É extraordinária a “arquitectura” benfiquista contemporânea: confluir três frentes para a mesma traseira de modo tão emocionante, é obra.

As broncas previsíveis da Parque Escolar

logo parque escolar
«Os alunos da Escola Secundária Artística António Arroio, em Lisboa, poderão não voltar a ter aulas de Educação Física este ano lectivo», explicava-se ontem no Público. «Empreitada de 21 milhões de euros deixa escola a braços com inundações», adiantava-se naquele jornal. E no entanto muitos foram os que advertiram para o que estava a acontecer, quando estava a acontecer. Na António Arroio, as aulas decorreram durante longos meses (vários anos lectivos) em salas improvisadas nuns contentores que a Parque Escolar alinhou nas imediações do edifício da escola.

Há três anos, fiz uma reportagem sobre a vida política nas escolas. Um dos temas a que não pude fugir foi justamente o das obras da Parque Escolar, um consórcio de privados a quem José Sócrates encomendou a requalificação de mais de três centenas de escolas portuguesas – precisassem elas ou não de obras -, oferecendo-lhes também um lugar na gestão dessas escolas (!). [Read more…]

A curva do universo ou da vida

oscar niemeyer

Morreu um homem feliz.

Morreu uma pessoa que acreditou até ao fim nos seus ideais.

Morreu o “embaixador da arquitectura brasileira” e o “último grande arquitecto do século XX”.

Morreu Oscar Niemeyer (1907-2012), a poucos dias de completar 105 anos.

Eu olho para trás, não sou como os outros que dizem que fariam tudo igual, eu faria muita coisa diferente. A vida é difícil, a vida nos leva a coisas que às vezes a gente não quer. A vida é um sopro, a gente vem, conta uma história e todo o mundo esquece depois. (…) Cem anos não dá prazer. Eu ia passar os cem anos sem muita alegria. A vida passou, eu procurei ser correto, trabalhar, mas não estou contente, na verdade não traz nenhum prazer. Só se o sujeito pensar que é importante, e eu acho isso tão ridículo, se ele pensar que é importante ele está fora do mundo.

(…) O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo.

(publicado na secção Cartas à Diretora do Público, 7/12)

Oscar Niemeyer, RIP

Visite a sua página, a História do séc. XX está ali.

oscar niemeyer

Arquitectura para cães ou o futuro é deles

Niemeyer, 104 anos, o arquitecto brasileiro conhecido sobretudo por traçar Brasília, está doente; os nossos jovens arquitectos emigram; os ateliers dos grandes como Siza Vieira estão a dispensar pessoal e o gabinete pode fechar; e o presidente da Ordem dos Arquitectos afirmou à RR que “A profissão de arquitecto atravessa, tanto quanto há memória, a mais grave crise de sempre, por falta de oportunidades, trabalho e encomendas, o que tem como resultado uma situação de praticamente paragem de grande parte dos ateliers ou dos profissionais envolvidos, sobretudo, na área de projectos, mas também todos aqueles que estão ligados ao sector da construção”.

desemprego na construção civil já atinge 100 mil (dados de Outubro).

Não havendo casas de gente para construir, os arquitectos e designers “de renome”  dedicam-se ao desenho de uma linha de casas de cães

O futuro é dos animais!

O que pensará Niemeyer destes novos clientes e da nova «arquitectura»?

Não me admirava nada que por aí surgisse um novo curso ou nova disciplina nos cursos de Arquitectura.

E para concluir: cães tratados como gente e gente tratada como cães

Arquitectura e Música

Hoje celebra-se não só o Dia Mundial da Música, como também o Dia Mundial da Arquitectura (este celebrado anualmente a cada primeira segunda-feira de Outubro). (A Norte, Outubro é novamente o mês da arquitectura.)

Música e Arquitectura juntas. Uma coincidência?

Goëthe, Santo Agostinho e outros não as viam unidas por acaso. É do primeiro a célebre frase “a arquitectura é música congelada” e, quanto ao Bispo de Hipona, considerava-as artes irmãs, porque ambas são «filhas» dos números.

Raul Lino (1879-1974), tido um dos arquitectos portugueses mais musicais, foi buscar inspiração aos autores que referi. Em 1947 escreveu um pequeno estudo que intitulou de Quatro Palavras Sobre Arquitectura e Música e onde é evidente o seu amor pela arte dos sons. Foi a partir deste parentesco ou das relações e analogias entre Arquitectura e Música na História da Arte (tema interessantíssimo) que me nasceu a ideia de fazer um trabalho de investigação no âmbito do curso de mestrado.

A tese está editada pela FAUP e pode ser adquirida na Fnac: Arquitectura, Música e Acústica no Portugal Contemporâneo (2011).

Uma arte portuguesa

 

Há uns anos fiz um trabalho de investigação sobre os azulejos em Aveiro, tentando fazer uma história da Empresa Cerâmica da Fonte Nova, uma fábrica aveirense iniciada no final do século XIX e por muito tempo nas mãos dos irmãos Melo Guimarães.

Sempre gostei de casas revestidas a azulejo… Arte Nova ou não, em relevo ou lisos.

“A paisagem urbana portuguesa está marcada por eles. São os azulejos, que, em cada cidade e vila do país, cobrem fachadas e decoram interiores. Os turistas que nos visitam espantam-se e maravilham-se com a cor que dão às ruas, e interrogam-se sobre o gosto que, com gradações diferentes, continua a ser o nosso. Mas poucos sabem como começou.” («Uma arte muito nossa», Público, 17/7/2012).

O Museu Nacional do Azulejo expõe, até 28 de Outubro, azulejos do século XVII.

Três dicas para estas férias: visitar a exposição, fotografar os azulejos da sua vila ou cidade ou fazer passeio de comboio prestando atenção aos painéis de azulejos que decoram as nossas estações de comboio de norte a sul!

A Capela do Silêncio

Ando há procura dele…

Saint-Exupéry…

Não há ninguém que escreva melhor sobre o silêncio.

Hei-de escrever um hino ao silêncio. Tu, músico dos frutos. Tu habitante das adegas (…) vaso de mel da diligência das abelhas. Tu, repouso do mar na plenitude. (…) Silêncio das mulheres (…). Silêncio do homem que se apoia nos cotovelos e reflete e (…) fabrica o suco dos pensamentos. Silêncio que lhe permite conhecer e lhe permite ignorar (…). Silêncio dos próprios pensamentos. (…) Silêncio do coração. Silêncio dos sentidos. Silêncio das palavras interiores, porque é bom que tu encontres Deus (…). Silêncio de Deus qual sono de pastor. (Cidadela, cap. 39)

Saint -Exupéry dizia que somos uma raça tagarela (“raça tagarela dos homens”)!

(Já estou a dispersar. Mas é impossível resistir a este António…)

Mal ele podia imaginar, quando escreveu Cidadela (1948), que em Helsínquia, em pleno séc. XXI, alguém se ia lembrar de construir uma capela do Silêncio! Ou dito de outra forma, o silêncio mereceu uma capela naquela cidade!!

Saint-Exupéry iria gostar desta capela sem santos e sem decoração? Pois eu acho que sim!!

“Embora se chame Capela do Silêncio, não deverá acolher serviços ou cerimónias religiosos. Foi concebida como um local de retiro no espaço urbano. A obra, assinada pelo Mikko Summanen, com 270 metros quadrados, é um exemplo do uso inovador da madeira na arquitectura”. (Público, 10/7)

Este será um espaço para ateus e não ateus, crentes e não crentes. Porque todos procuramos o silêncio, afinal! “Serve ao turista e ao necessitado”- uma ideia muito interessante.

Também é caso para dizer: se o homem da cidade já não procura o silêncio, vem o silêncio à procura do homem.

O azulejo Andalus

A arquitectura do Al-Andalus era profusamente decorada, seja em trabalhos de madeira talhada e pintada, de ferro forjado, de ornamentos em estuques ou de painéis de azulejo.

O azulejo Andalus foi a base para a azulejaria medieval e moderna, e absorveu muito dos painéis de tecelas romanos.

O seu fabrico ainda hoje subsiste em Marrocos.

A técnica utilizada é a do azulejo “alicatado”, assim chamado pelo facto de utilizar fragmentos de cerâmica vidrada, com combinações de distintas formas e cores, que posteriormente são agregados em painéis, através de uma massa à base de cal e areia fina ou gesso, processo chamado de “embrechamento”.

Esta técnica exige uma grande perícia ao nível do corte dos azulejos e mestria ao nível da disposição das peças para a composição dos painéis, já que as mesmas são dispostas com a face vidrada para baixo, não permitindo visualizar o resultado final.

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Quando Aqui Morrer Alguém

A culpa é de ninguém, talvez da chuva ou da escuridão ou do excesso de zelo no sangue, não será nunca dos projectistas nem dos responsáveis (?) autárquicos de Guimarães que, há já anos vários, autorizaram (?) a existência deste alçapão com dois metros de desnível. Não deixa de ser curioso que a 200 metros deste local exista a Escola de Arquitectura da Universidade do Minho onde, acredito, os jovens alunos são exemplarmente formados para que, num futuro risonho, não sejam eles criminosos autores de projectos urbanísticos com vista para a morte. Naturalmente, a própria Associação de Estudantes da UM terá coisas muito mais vitais com que se preocupar como a organização atempada das festas que se seguem e das seguintes, pese embora este fosso esteja encostado à residência universitária de Azurém. Estou certo: quando ali morrer o primeiro incauto, mete-se a grade no dia seguinte. E, tudo bem, é dezembro e faz um sol espectacular…

Chile, um país em recuperação

destas casas cresceram outras

É-me impossível parar a escrita sobre a tragédia do Chile. Examinar a imagem, mostra-nos de imediato como um prédio em construção (em tijolo e zinco), ruiu no meio de outros prédios pintados de branco e direitos. A casa estava já ocupada pelos proprietários ou construtores, porque um dos maiores castigos do Chile, é a falta de habitação. A maior parte da população vive, como explico em ensaios anteriores, em casas cujos materiais de construção se resumem a zinco, papelão e cartão. O desenvolvimento económico do país nos últimos vinte anos, permitiu aos mais pobres saírem das suas casas de «brinquedos» para casas mais sólidas. Sólidas até um certo ponto, porque são feitas pelos moradores desconhecedores das técnicas de construção. Desde o nascimento do Chile, como narra Isabel Allende no seu livro de 2006: Inês del Alma Mia, Arreté, Barcelona – versão portuguesa do mesmo ano, Difel, Lisboa, intitulado Inês da Minha Alma, que existem os alarifes ou mestre-de-obras, arquitectos aprendidos com a prática e com estudos matemáticos nas Universidades do seu tempo. O seu primeiro trabalho é dividir a terra em palmos, medida que equivale a 8 polegadas ou 22 centímetros, medida, tomada com a mão aberta, que vai da extremidade do dedo polegar à ponta do dedo mínimo.

 Largos palmos de terra eram adjudicados aos colonizadores, os que, com a ajuda do alarifes, desenhavam as casas de apenas um piso (térreas), sem mais construções por cima, por causa da necessidade de usar pedra trabalhada por canteiros, e coladas para construir um prédio com cimento e gemas de ovo. Pedras canteadas usadas na construção de prédios certos e duradouros, de vários andares, como as igrejas, os paços ou a sede do governo.

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Locais Recônditos de Lisboa

O Prof. António Brotas, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico, é um veterano combatente por causas da cidadania e do interesse nacional. É um militante daquilo a que se poderia chamar o ‘PS autêntico’ – a meu ver, dos tais militantes antípodas de José Sócrates, o que reflecte a pureza dos ideais que o professor perfilha.

Como sucedeu em outros casos – TGV, Plataforma Logística e Aeroporto de Alcochete – enviou-me a fotografia acima, com a imagem da alameda no interior do antigo quartel Infantaria 16, em Campo de Ourique. Trata-se de uma construção pombalina, planeada pelo Conde de Lippe. Foi neste quartel, diz ele, que na noite de 3 para 4 de Outubro se iniciou a revolução de implantação da República.

O objectivo do Prof. Brotas é alertar as autoridades, principalmente a CML, para que os espaço seja aberto ao público, bastando, segundo diz, abrir os dois portões nas extremidades da alameda, na Rua de Infantaria 16 e na Rua de Campo de Ourique. Complementarmente as instalações poderão ser ocupados por espaços culturais, de serviços municipais ou outros. Isto antes que avancem os carmatelos dos ‘gaioleiros’ para violentar, ainda maís, a paisagem urbanística de Lisboa.

Tenho a certeza de que a vereadora Helena Roseta será sensível a este apelo do Prof. António Brotas, que ela tão bem conhece.