Um país civilizado faz leis contra mim

Se uma besta qualquer agredisse alguém que me seja querido, independentemente das razões, o meu desejo mais profundo e superficial seria o de conseguir levar a dita besta a sofrer dez vezes mais do que a vítima. Se fosse possível, gostaria, ainda, que todo o processo fosse lento, demorado e publicado em todas as redes sociais, com vídeos e fotografias suficientemente horripilantes para que o mundo inteiro pudesse assistir a todas as sevícias a que sujeitaria sadicamente a besta.

Isto faz de mim uma má pessoa? Sim, faz. Faz de mim uma pessoa normal? Penso que sim, porque o animal que está dentro de nós convive mal com o perdão. A lei de talião está-nos no sangue.

Ora, a civilização é um esforço, não é uma natureza, mesmo que queira sê-lo. O mundo é, no fundo, a ilha do Dr. Moreau: se não houver regras, comemo-nos uns aos outros. As leis existem para que o lobo que (também) sou seja obrigado a comportar-se como um homem.

Um homem, especialmente se for um agente da autoridade, não publica fotografias de criminosos em situação de fragilidade, porque isso já é uma forma de vingança, é, para ser meigo, feio. As leis obrigam à defesa da dignidade mesmo daqueles que se comportaram de modo indigno. As leis feitas contra mim impedem-me de agredir – e há fotografias que são agressões – os criminosos.

Defender isto não é o mesmo que defender o direito de roubar, agredir ou torturar. Concordo, em princípio, com a afirmação da Associação Sócio-Profissional da Guarda: os criminosos não são merecedores do mesmo respeito que o cidadão comum. Por isso é que devem ser condenados, que esse é o respeito que merecem os criminosos. O que for para além disso é indefensável.

Finalmente, não porque seja politicamente correcto, mas só porque é correcto, leia-se a Posição do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas sobre a divulgação de imagens de suspeitos em situação humilhante.

Da série ai aguenta, aguenta (21)

Assalto a infantário para levar dois pacotes de leite e quatro papas

O assalto ao subsídio de férias já começou

A história da democracia portuguesa é feita, entre várias hecatombes, da destruição do tecido produtivo em nome da obsessão de se ser considerado bom aluno, de desperdício de dinheiros europeus e da apropriação do Estado por dois ou três partidos para benefício dos filiados e amigos.

Os anos de Sócrates conseguiram aprofundar todos esses males, graças à total ausência de vergonha de um conjunto de figuras sinistras que empobreceu o país em todos os aspectos, nomeadamente através da multiplicação de Parcerias Público-Privadas, numa perspectiva de protecção contínua aos privados, esses amigos que estão sempre do lado certo do cartão partidário. Este é o país em que a culpa não morre solteira, é certo: entrega-se à prostituição.

O bando socrático explorou e aprofundou a má fama e a má imprensa dos funcionários públicos. Para pagar os calotes que criou em consequência de ter metido a mão na caixa registadora, culpou, exactamente, os funcionários públicos, ou seja, aqueles que eram obrigados a pôr dinheiro na caixa.

Inventaram, então, a generalização da improdutividade e publicaram, com a ajuda de meretrizes com cartão de jornalista, a ideia do parasitismo e dos salários excessivos. Depois, foi congelar as progressões na carreira, cortar nos salários, aumentar os impostos, para não falar no resto do assalto fiscal, ainda que disfarçado de taxas moderadoras, por exemplo.

Entre Passos Coelho e Sócrates existe uma única e verdadeira diferença: o primeiro não está em Paris. De resto, o actual primeiro-ministro respira de alívio porque o anterior abriu à catanada o caminho para a liquidação do Estado.

Por estes dias, os funcionários públicos experimentarão, pela primeira vez em vários anos, o retrocesso de não receber o erradamente chamado subsídio de férias. Trata-se de mais um roubo que não esquecerei, como não me esquecerei de nunca mais votar em gente que já deu provas suficientes de um latrocínio essencial.

Eu, meretriz

Com a má vontade que me caracteriza, recusei-me a considerar como reformas estruturais as acções do actual governo, ao retirar poder de compra e direitos aos trabalhadores portugueses. Talvez, afinal, estivesse enganado e tudo isso fizesse, final, parte de um plano para nos colocar ao nível de outros países.

Acreditando numa sociedade assente na solidariedade, na redistribuição equilibrada da riqueza e num Estado suficientemente forte para não se deixar apropriar pela corrupção legalizada e suficientemente sensato para não entravar a iniciativa privada, confirmo, afinal, que tenho andado a pagar impostos e a ser espoliado de parte do meu salário para pagar dívidas de autarquias e parcerias público-privadas.

O governo, com a cumplicidade de todas as outras instituições – incluindo um partido que se finge zangado em público, mas que se presta a um coito ininterrupto em privado –, arremeda orgulho pela obra (des)feita, contando, ainda, com o apoio de uma certa Alemanha cujos caninos hitlerianos parecem renascer.

Não cairei na deselegância de insultar a mais antiga profissão do mundo, afirmando que essa gente é uma cambada de filhos da puta. Puta sou eu, obrigado a dar o corpo ao manifesto e a sustentar uma chusma de proxenetas que ainda têm o atrevimento de me dizer que ando a viver acima das possibilidades. E enquanto o lenocínio continua impune, ainda temos de ler inteligentes a confundir desespero com empreendedorismo ou outros que, num país crescentemente subdesenvolvido, têm o desplante de considerar que existe um investimento excessivo em Educação.

Conversa de café

adão cruz

Estava eu no café e na mesa ao lado dois amigos conversavam. Um deles tinha o Jornal de Notícias aberto de par em par e dizia para o amigo:

-Já viste isto, pá, quatro ou cinco páginas sobre os pupilos do Cavaco? Este já foi dentro. Qualquer dia vai ele.

-Eh pá, não mandes bocas foleiras, porque o homem nem sequer foi acusado. [Read more…]

Carnaval em Portugal

Mais um ano, mais um Carnaval que na maior parte do país, é estrangeiro, sendo que neste ano, e por causa da crise e das crises, a contenção de despesas tenha obrigado a que sejam muito menos os artistas do outro lado do Atlântico convidados a ‘abrilhantar’ as festas.

Continuam no entanto por aí uns senhores, e uma parte significativa da população, a fazer corsos, à moda do Brasil, com as miúdas nuínhas e tudo, a desfilar debaixo de chuva e cheias de frio, e a tentar dançar samba, despidas com as roupas do Carnaval do Rio.

Até quando?

Por muito bonito que seja, por muito alegre que seja, não é nosso, não é da nossa tradição, não está bem.

Felizmente ainda há por aí umas terras onde se faz o dito à nossa moda, com as nossas tradições a imporem a sua valia. São todavia uma pequena gota no charco da nossa vida.

Mais um ano, mais um Carnaval importado apesar de cada um lhe chamar ‘à moda da sua terra’.

Tenho saudades dos outros tempos. [Read more…]

O caso de Colton Harris-Moore: o criminoso herói

Foi do portuense Siga ou do norte-americano Jesse James que me lembrei quando conheci o caso de Colton Harris-Moore. Nos EUA comparam-no a Huckleberry Finn ou a Robin dos Bosques. Prefiro vê-lo como apenas como um criminoso jovem, embora com estilo, e não como um justiceiro que rouba aos malvados ricos e entrega aos pobres ou uma simples vítima órfã de um pai cruel.

Colton Harris-Moore

Tal como Siga, criminoso jovem desde criança, Colton Harris-Moore entrou no mundo dos assaltos muito cedo. Tal como Jesse James é encarado como um rebelde com causa, cheio de estilo e a quem apetece ajudar e bater palmas.

Colton Harris-Moore só tem 18 anos mas uma vida cheia de aventuras. Num churrasco de família, ele, criança, e o pai discutiram, tendo terminado com o homem a apertar o pescoço ao miúdo. A mãe saiu de casa e levou-o. Ainda não tinha feito nove anos e já a polícia o procurava. Tinha roubado uma bicicleta. Foi o primeiro de um currículo gigante, construído em dez anos.

A seguir às bicicletas vieram automóveis, barcos e aviões, que pilotou mesmo se ter qualquer aula, tendo sido quanto baste a leitura de um manual que encomendou pela internet. Ao longo de dez anos foi construindo uma legião de fãs através da internet. No YouTube há hinos que o glorificam. No Facebook tem milhares de seguidores. Que se saiba, nenhuma delas foi vítima de Colton.

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Eu sabia que havia algo de estranho com eles…

 

Há já uns anos que me interrogava sobre eventuais coisas estranhas relacionadas com estas personagens que algumas pessoas insistem em presentear os seus rebentos. Aquilo, lamento dizer, sempre me despertou olhares desconfiados. Agora foi-me feita justiça.

 

Um Teletubby roxo (consta que Tinky Winky) está sendo procurado pela polícia da localidade de  London, no estado de Ontário, Canadá, acusado de roubo durante o Halloween, o Dia das Bruxas.

A polícia refere que a vítima informou que estava a passear sozinha pouco depois da meia-noite de sábado (31 de Outubro), quando foi abordada por um Teletubby armado, que exigiu o dinheiro e fugiu a pé. O ladrão tinha cerca de 1,88 metros de altura e pesava entre 90 e 110 quilos.

 

A polícia insiste que se tratava de uma pessoa disfarçada de Teletubby. Eu desconfio. Não estou a ver ninguém no seu juízo perfeito a disfarçar-se daquilo. De Chewbacca, ainda vá, agora de Teletubby…?