Ao cuidado da CMTV

Isto não é a Ribeira. E o <i> de Fontainhas não leva acento. É como o <i> de ladainha, rainha, grainha, etc. Siga.

O novo “normal”

As alterações climáticas e os fenómenos naturais extremos, como as cheias na Alemanha, Itália e na China, as ondas de calor no Canadá e nos Estados Unidos que chegaram a atingir temperaturas de 50°C e a provocar milhares de incêndios, têm-se multiplicado à escala global, deixando clara a necessidade da emergência climática e de um plano mundial para a efectiva redução das emissões dos gases de efeito de estufa, da protecção, conservação e recuperação dos ecossistemas terrestres, aquáticos e espécies animais, bem como da transição para modelos ecológicos e sustentáveis que protejam todos os seres existentes na Terra e nos preparem para lidar com fenómenos naturais adversos.

“A década de 2011 a 2020 foi a mais quente que alguma vez se registou, tendo a temperatura média mundial atingido, em 2019, 1,1 °C acima dos níveis pré-industriais. O aquecimento global induzido pelo homem aumenta atualmente à taxa de 0,2 °C por década.” Citado do texto sobre o aquecimento global, no site oficial da União Europeia.
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Baixo Mondego

A esperteza

 

A partir do conforto do seu gabinete ou da sua casa, à esperteza que se senta na cadeira de Ministro do Ambiente e que lançou para o ar umas cretinices sobre as pessoas que vivem em Montemor-o-Velho melhor fazerem em se mudarem para outros locais por causa das cheias, que até têm tido pouca relevância depois das obras na hidráulica do Mondego, feitas nos anos 80, se bem me recordo, não lhe ocorreu aplicar esse mesmo critério ao futuro aeroporto do Montijo, onde, mais cedo do que tarde, haverá problemas devido à subida dos níveis das águas do mar. Ou porque é que nunca se mudaram as populações das zonas ribeirinhas do Porto, por exemplo.

Podia ter aproveitado a ida à televisão para explicar porque é que das seis bombas de água previstas há décadas na hidráulica, só duas foram montadas e porque é que destas só uma delas está em funcionamento. Mas não era a mesma coisa, pois não?

Apesar da incúria, ainda tem o desplante em afirmar que é graças à manutenção que não ocorreu uma tragédia. Tivéssemos jornalistas em vez de porta-microfones, alguém teria colocado uma questãozinha ao xô ministro: quando é que foi feita a última manutenção e em que é que esta consistiu?

O ministro de Deus

maxresdefaultCalvão da Silva é, como qualquer ser humano, múltiplo. Para além de agente de seguros, é agente de execução liquidatária do Estado, é ministro semanal da Administração Interna e tem tempo, ainda, para ser ministro de Deus e teólogo da inundação.
Corajosamente, Calvão revela que “Deus nem sempre é amigo”. Sem medo de correr riscos, o ministro deixa, portanto, claro que, por vezes, Deus é inimigo, o que poderá originar mais um cisma no mundo cristão e o nascimento da seita calvanista. Mas Calvão não se fica por aqui: ao assumir que um acto de Deus pode ser demoníaco, o novo Lutero confirma a consubstanciação de Deus e do Diabo, o que poderá trazer um novo alento às igrejas satânicas.
Calvão da Silva é, também, exegeta desse grande texto que é, no fundo, a vida e, por isso, sabe que os nomes, os actos e os acontecimentos têm significados ocultos. Assim, não é por acaso que, na referência ao falecimento de um homem, o ministro tem o cuidado de lembrar a idade do falecido, o nome da mulher e o apelido do morto. Na realidade, quem tem 80 anos, uma mulher chamada Fátima e é Viana de apelido está pronto para morrer, porque a idade indica que a hora chegou e porque os nomes contêm todos eles ressonâncias religiosas. Além disso, ficamos a perceber que o senhor Viana não foi vítima de uma inundação, antes escolheu entregar-se a Deus, porque, caso contrário, não estaria no insondável caminho da enxurrada.
De qualquer modo, tendo em conta o carácter também demoníaco do Deus calvanista, saber que este “reserva um lugar adequado” ao recém-falecido não é exactamente tranquilizador, porque uma pessoa não sabe o que esperar de um Deus que nem sempre é amigo, sendo, por vezes, diabólico.
Com a iminente queda do governo, Calvão da Silva poderá dedicar-se exclusivamente a espalhar a palavra de Deus, entregando-se ao Diabo. Ou vice-versa.

Isto é que vai uma cheia…

Eu ia para escrever aqui algumas considerações sobre as brutais cheias do Algarve e lembrar o que, nas últimas quatro décadas, foi estudado, dito e escrito sobre as barbaridades a que estava sujeito o pobre Algarve no seu processo de “desenvolvimento” urbanístico – confundido, geralmente, com desenvolvimento turístico – bem como a total ausência de estratégias de controlo e aproveitamento das linhas de água da região. Afinal, perante a grandeza das explicações do nosso novo ministro da administração interna, o Senhor Professor Calvão da Silva, calo-me e reduzo-me à minha humilde ignorância. É que sobre origens demoníacas dos fenómenos meteorológicos e da relação dos níveis de pluviosidade com os humores de Deus, nada sei. Mas, depois de ouvir as ministeriais explicações – de uma profundidade comparável às das águas que inundaram Albufeira – fiquei a saber que, com o novo governo, estamos nas mãos da divina providência. Porém eu, modestamente, que nessas transcendências não sou versado, limito-me a esperar que os augúrios que se adivinham venham a ser confirmados no dia 10. Depois disso, não posso garantir, como o santo governante, que Deus arranjará para os ex-ministros “um lugar adequado”. Mas alguém, seguramente, tratará disso, como é costume…

Gonçalo Ribeiro Telles

Os capitalenses podiam ter votado num movimento cívico? podiam, mas ficavam sem cheias, perdia a piada toda.

A bátega e os parolos

cheias r padeirasÓ capitalenses, importam-se de parar com a figura ridícula que fazem quando vos chove na capital e desatam a berrar que a culpa é do presidente da Câmara?

Ando a ouvir-vos com essa ladainha desde que se pode dizer mal dos presidentes da câmara, que entretanto vão elegendo, sem pararem um bocadinho para ouvir quem bem vos avisou, o Ribeiro Teles, sobre uma coisa chamada impermeabilização dos solos, praticada ao longo de décadas por patos bravos, patos mansos e as patas que os pariram.

Claro que estais condenados a enxurradas até às vésperas da eternidade, ó parolos, cada vez que a precipitação é a sério, e dessas todos temos.

Tende tino. Eu tenho-o com a autoridade pluviosa de quem vive numa aldeia onde as cheias nunca falhavam um ano, andávamos de barco pelas ruas, lá nos íamos divertindo, até que um presidente da câmara resolveu o assunto (no caso um problema de vasos comunicantes criado por um idiota qualquer), e ninguém lhe agradeceu, pior, nem repararam nisso. Se calhar temos saudades. E estava aí em 1967, essa sim, uma catástrofe com assinatura: Salazar.

Imagem: Esplanada do Porta Larga, nas R. das Padeiras, Coimbra, data desconhecida.

Notícias desse país

Campos junto ao Rio Pranto

Sem televisão e com pouca rádio – mas sobretudo sem net – têm os dias passado sem sobressaltos. O temporal que fez furor nas notícias, facto que pude (desnecessariamente) comprovar, trouxe-me anos idos à memória. Tempos em que as manhãs começavam com quinze minutos de caminhada até à camioneta que me levaria à cidade, a dezoito quilómetros de distância, onde depois de outros vinte minutos chegaria ao liceu. Nesses idos anos oitenta, antes das obras de hidráulica do Baixo Mondego, eram frequentes as cheias nos campos de arroz. Não havia televisões a fazer a cobertura – até porque só havia "a" televisão – nem prevenção civil a emitir alertas. Mas as pessoas sabiam que a chuva viria e preparavam-se. Limpavam valetas, removiam a vegetação das valas e, também, o solo não estava tão impermeabilizado com cimento como agora.

Tal como por estes dias, o dinheiro era igualmente escasso. Banalidades de hoje, como uma bola de berlim, eram uma alegria. Que por vezes se trocava por uma outra maior, que era a ida à Luna para dois jogos de Space Invaders – duas moedas de dois escudos e cinquenta centavos (vinte e cinco tostões como lhes chamávamos). Os dias de então eram como estes que agora experimento na ausência do frenesim noticioso. E sem o desemprego, coisa que se ouvia dizer ser alta em Espanha, deixando-nos patrioticamente confortados. E com as mesmas cheias, que eram boas por fecharem a estrada do Campo, o que significava dia sem aulas por causa do autocarro não passar.

Alcatrão e betão à parte, trinta anos não mudaram assim tanto os dias de hoje. Excepto que o desemprego chegou em força e a histeria político-noticiosa é mais omnipresente, muito graças aos novos canais televisivos.

 

Foto: bordadocampo.com. Sobre as cheias do Baixo Mondego, ver: A Ponte-Açude de Coimbra (e também a DGADR).

Faltam 427 dias para o Fim do Mundo:

No dia em que o Aventar recebeu o visitante número 300 mil e quando faltam poucos dias para celebrar o primeiro aniversário do Aventar, joga-se mais um clássico da Liga enquanto Mourinho soma e segue.

Entretanto, aqui para os meus lados, o eterno rio Douro fez das suas e galgou as margens, dando continuidade a estes dias de mau tempo (não sei se sabem mas ainda estamos no Inverno…). Até as cegonhas são desalojadas por estes dias. No Chile afirma-se uma grande liderança e faz-se a análise de um terremoto assustador e na vizinha Espanha a luta contra a ETA soma mais uma vitória.

Uma pausa no clássico para dizer adeus a Marcelo ou será antes: até já, no congresso??? Os Estados, em especial os políticos, querem controlar as televisões. Amanhã vão querer colocar os dedos nos blogues e semear “Abrantes” por tudo quanto é sítio…

Por fim, a entrevista de Passos Coelho ao DN onde afirma algo que é tão óbvio que nem precisa de grandes discussões:”Só com novo PGR se recupera a credibilidade da justiça“. Ora nem mais.