Chorar por um animal

pantufa 4
Já chorei por muitos animais. Mas o Pantufa era especial.
Cão rafeiro, foi recolhido pelos meus sogros há 16 anos quando uma puta qualquer, que tinha deixado a sua cadela parir, queria afogá-lo à nascença. Teve sorte – dos irmãos, foi o único que se safou.
Foi para lá bebé de dias, corria o mês de Agosto de 1993. Em Setembro / Outubro desse ano, comecei eu a frequentar a casa, como namorado daquela que é hoje a minha mulher. Lembro-me dele muito pequenino, aos saltos por todo o lado e sempre, sempre a ladrar.
Passaram-se os anos. Tratado como um rei, teve a vida que todos os cães gostariam de ter. Teve a vida que alguns humanos gostariam de ter. Com muito espaço para correr e para saltar, com os seus passeios diários, com o arrozinho de frango sempre à espera. E sempre, sempre a ladrar quando alguém chegava a casa.
Teve uma vida muito feliz, o Pantufa. Nos últimos anos, no entanto, vieram os problemas de saúde. Estava velhote. Ultimamente, já nem ladrava. Os rins deixaram de funcionar e, desde Domingo, já não conseguia comer.
Hoje, a minha sogra decidiu levá-lo ao veterinário. Tive o prazer de o conduzir na sua última viagem. Já não havia muito a fazer, o bicho estava em sofrimento e eventuais tratamentos só adiariam o inevitável. Num acto de misericórdia, o veterinário aconselhou a eutanásia. E assim foi. Anestesiou-o primeiro e, em seguida, adormeceu-o suavemente para sempre. Com a minha filhinha ao colo, ainda pude entrar no consultório para afagar pela última vez um corpo já sem vida.
« – Queres fazer uma festinha ao Pantufa, bebé?»
Não quis. Infelizmente, nunca se vai lembrar dele.