Maria, entre o despejo e a morte, escolheu a morte

Rita Silva

A 6 de Março Maria suicidou-se. Dia em que iria ser despejada por prestações em atraso ao banco, agentes de execução de uma ordem de despejo e militares da GNR encontraram-na em casa sem vida…

O que enfrentava Maria, será sempre difícil de saber, mas podemos, pelo menos, tentar avaliar algumas questões, duríssimas, que se colocam perante uma situação tão violenta como esta.

O sentimento de culpa de quem contraiu uma dívida e não a paga. Responsabilizada por ter contraído um crédito e parecer que é uma escolha sua comprar casa – apesar de toda a política ter direcionado, senão obrigado, as pessoas a fazê-lo, pois o arrendamento não era (nem é) alternativa. Ter assinado um contrato que atribui toda a responsabilidade a quem o assinou (e aos fiadores, muitas vezes familiares, com tudo o que isso implica). Não honrar o pagamento de um crédito é motivo de censura, mesmo que o que se ganha deixe de ser suficiente para pagar. Quem não pague as suas dívidas é culpado, assim prevê a sociedade disciplinadora da dívida, por onde tudo hoje passa. [Read more…]

Rumo ao bilião!

Economia portuguesa deve 719,5 mil milhões de euros, mais 2,1% num ano

Sobre o milagre do emprego

O último trimestre de 2014 foi fantástico e a fartura é tanta que as famílias começam a sentir o desafogo. Obrigado por olhares por nós austeridade!

O devir histórico (3)

Continuando.

A economia nacional tem tido uma constante coerente ao longo dos séculos: viver do que dá. Foi assim com África, com a Índia e com o Brasil. E se algo dava para ganhar dinheiro, mal se fazia notícia, era logo tudo a correr atrás do mesmo. Associada a tal tendência, a lógica do lucro fácil, criou-se a desastrosa matriz em que assentou a economia até aos dias de hoje. Enquanto houve colónias para exportar excedentes, e a santa protecção do “orgulhosamente sós”, a vida lá se foi compondo. Foi o fim do império e a abertura à concorrência, que revelou as nossas maiores fragilidades. Exactamente porque não estávamos habituados à concorrência. E não havendo concorrência, não há exigência. Se não há exigência, não há razão para evoluir, para ser melhor. Perante o desafio da entrada na então CEE, ao contrário do que seria aconselhável, voltamos a cair no engodo do dinheiro fácil que por cá entrava a rodos. Foi-se atrás do lucro fácil, e não se curou de se investir em conhecimento, ciência, técnica. Pelo contrário, o modelo económico foi-se desenvolvendo não só ao sabor dos dinheiros comunitários, muitas vezes a fundo perdido – tragicamente real a nomenclatura “fundo perdido”… -, e do financiamento bancário desregrado. Começaram os “poligrupos”, para comprar carro novo. E o financiamento à habitação própria, que viria a tornar a construção civil na grande base de emprego do país. Ou seja, uma base maioritariamente dependente do mercado nacional. Começou, também, o abandono das terras e dos mares. E começou a progressiva decadência da nossa independência financeira: com mais gente a pedir emprestado do que a depositar dinheiro, os bancos endividaram-se lá fora. Aos poucos, a lógica do endividamento enraizou-se no país: era crédito para obras, para carro, viagens, colchões magnetizados, extensões no cabelo, etc. A banca estava voraz, e o Estado cúmplice. Somaram-se os investimentos públicos sem retorno financeiro, até a esse refinamento catastrófico das Parecerias Público Privadas. O país foi deambulando, inebriado, pelo oásis dos tempos de Cavaco Silva, o pântano de Guterres, a tanga de Durão Barroso, o alto astral de Santana Lopes e o choque tecnológico de Sócrates. Uma constante, a lógica da facilidade e do imediato, fosse na economia ou no ensino onde se perde mais tempo a avaliar os professores do que os alunos. E pior agora, já sem os encantos do cheiro a canela, ou das riquezas das colónias.

O caruncho

Foi anunciado pelo Tribunal de Contas (TC) que o endividamento financeiro do arquipélago da Madeira é de € 963,30 milhões de Euros, tendo aumentado € 99,40 milhões de Euros.
Tal amontoar da dívida mina a sustentabilidade financeira daquela região insular do país e é, como fiel cópia do que se passa no continente, um exemplo claro de sucessivos erros de gestão do erário público, ao ponto de se pedir emprestado para se pagar empréstimos.
Lá, como cá, a lógica das carreiras políticas feitas à base do orgulho no estandarte de “homens de obra feita” deu nisto: muito betão e muito ferro que está a ser pago à custa da contracção de direitos sociais e laborais, do aumento dos impostos sobre o trabalho e da perda de soberania.
Um dos mais importantes instrumentos de combate a esta lógica despesista transversal a toda administração política do país é o TC, o qual deveria ser munido de efectivos poderes punitivos. É tempo de se promover a necessária revisão constitucional, de molde a atribuir ao TC autonomia financeira, bem como poderes sancionatórios sobre os titulares de cargos políticos ou sobre os gestores públicos, que actuem com grosseira negligência ou façam gestão ruinosa dos dinheiros públicos.
Mais do que nunca – como se pode ver pelo crescente poder das agências de notação financeira -, as decisões políticas ou públicas que agravam a dependência do financiamento externo, são matéria criminal de lesa-pátria.

(Publicado no semanário famalicense “Opinião Pública” a 10/09/2011)

Isto dá jeito, dá

Isto do pessoal se manifestar a destruir o que é dos outros é muito giro, sim senhor. E dá jeito, também. O pessoal liberta o stress e os outros pagam a conta.

Tal como aqueles que enriquecem à custa da estupidez de quem pede emprestado com juros de 20% a 30% para comprar carro, ir de férias ou fazer extensões no cabelo. Também lhes dá jeito que haja gente que se proponha a asfixiar-se financeiramente pela vaidade, pela inveja ou pela futilidade.

Como dá jeito a quem se endividou estupidamente assim, chamar nomes aos credores quando estes vêm cobrar o que é deles.

Aos governos também dá jeito aproveitar a crise provocada pelo endividamento com que eles mesmos também foram coniventes ao longo de anos, em governações alternadas – ou melhor dizendo, alternadeiras – para agora fazerem aquilo que em outras ocasiões não havia lata para fazer.

Ou seja: uns têm uma boa desculpa para destruir o que é dos outros – seria bom de ver a reacção deles se fosse gente partir o que é deles a título de protesto; outros podem impor as suas regras aos dependentes do seu produto – tal como um dealer faz a um drogado; outros podem chamar nomes a quem lhes fez as vontades, agora que cobram a factura; e outros, ainda, têm a oportunidade de deitar as garras de fora e mostrarem quais são os seus desígnios.

Apesar dos argumentos expostos pelos nossos Ricardo e JJC, para mim nada justifica que  a coberto do direito de protesto se destrua propriedade alheia. Isso não é manifestão, é vandalismo.

Por que se ri o Ministro das Finanças?


Portugal é obrigado a pedir ao estrangeiro mil milhões de euros de 2 em 2 meses, mas o Ministro das Finanças ri-se.
Portugal paga quase 7% de juros por esses empréstimos, mas o Ministro das Finanças ri-se.
Portugal aguenta-se sem ajuda internacional graças a regimes como o chinês, mas o Ministro das Finanças ri-se.
Portugal vai ter de pedir ao longo de 2011 20 mil milhões de euros, mas o Ministro das Finanças ri-se.
Portugal recusa-se a pedir ajuda ao FEF, adiando o inevitável e pagando juros altíssimos, só para que Sócrates se mantenha no poder. E o Ministro das Finanças ri-se.
Por que se ri o Ministro das Finanças? Por que se ri este pedaço de asno?

Portugal Public Debt: Buy Now! (We Will Not Pay)


É comprar, rapaziada. Tudo a entrar neste buraco sem fundo.

De Miguel Sousa Tavares no ‘Expresso’

Do artigo ‘Céu Nublado’, na edição do jornal ‘Expresso’ de Sábado, de Miguel Sousa Tavares, transcrevo o seguinte trecho:

Na década do agora inimigo das grandes obras públicas, Cavaco Silva, construímos sem parar: auto-estradas, hospitais, escolas e tudo o mais.’O país está dotado de infra-estruturas!’, proclamou-se triunfantemente. E, de facto, o país precisava. O problema é que, enquanto se dotava de infra-estruturas para servir a economia, o país vendia a economia, a troco de subsídios para abate e set-aside; vendemos assim a agricultura, as pescas, as minas, a marinha mercante, os portos, as indústrias que podiam vir a ser competitivas. Ficámos com os têxteis e o fado.    

De facto, assim se iniciou a caminhada na direcção do abismo, continuada por Guterres, Barroso – dois fugitivos – Santana Lopes e José Sócrates.

Todos eles, mesmo Sócrates, se regressassem ao passado, provavelmente diriam “se pudesse voltar atrás, sabendo o que sei hoje…”. Sucede, contudo, não se tratar de problemas de ordem pessoal. Foram lesados interesses nacionais soberanos e, mediante a perda de capacidade produtiva, o País está em sérias dificuldades para gerar riqueza, postos de trabalho e meios financeiros capazes de honrar os compromissos de endividamento externo.

Mas nada disto é relevante. Viva o Benfica campeão (se fosse o Braga ou o Porto, saudaria de idêntico modo), vem aí o Papa e siga a Marinha que, com os dois submarinos alemães, nos ajudará a submergir, mais fundo, em lodosos mares.

Abençoados os pobres

Estes cartazes estão instalados à porta da igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Praça do Marquês, no Porto.

Antes destes, outro cartaz, mais discreto, resguardado no interior da igreja, havia informado acerca dos valores conseguidos para as respectivas obras, graças ao apoio de uma instituição bancária, e, sobretudo, à generosidade dos fiéis. Mas afinal esse montante (algumas centenas de milhar de euros) tinham sido escassos e as obras da igreja ainda estão por pagar. Seguramente que não por muito tempo, já que imagino que quem vai à missa não se deve sentir muito cómodo com a ameaça de humilhação pública que pende sobre os caloteiros. Imaginam no que se transformaria a homilia se junto ao sacerdote se viesse colocar um desses cobradores ataviados de fraque? [Read more…]

Almoços gratuítos desagradáveis

Primeiro todos ganharam com o endividamento da Grécia (e não só), manipuladores e manipulados. Uns sugeriram que a CEE significava almoços gratuitos para sempre e os outros acreditaram.

E agora os manipulados vêm-se “gregos”. São eles os primeiros a ter que passar pelas armas. Os manipuladores seguir-se-ão mais tarde. É assim quando o inútil se junta ao desagradável. [Read more…]

O PS não quer limites ao endividamento da Madeira

O CDS apresentou uma proposta para limitar anualmente o endividamento da Madeira.
O PS votou contra.
Logo, o PS é contra os limites do endividamento da Madeira.

O que se diz por aí

A detenção de dois presumíveis membros da ETA em Portugal, levanta sérias preocupações de segurança, tanto mais em plena presidência espanhola da UE. Há que garantir a máxima colaboração e partilha de informação entre forças de segurança portuguesas e espanholas. A ver vamos ver o que diz o Ministro Rui Pereira.
Mas para os espíritos não aquecerem muito, eis que temos neve no Porto e um pouco por todo o país, com o clássico encerramento dos acessos à Serra da Estrela. A neve já terá chegado a Portalegre e Évora. Vai ser já grande motivo de reportagens com carros a patinar e autoridades a apelar à calma, para mostramos aos norte-americanos, canadianos e afins que também temos cá disto. Julgam que isto é só sol e praia, não?
E isto do frio não é só por cá, o que pode ser bom negócio: que o diga o capote alentejano, cada vez mais apreciado na Europa.
E por falar em frio, Mourinho esteve ao rubro ao ver o seu Inter a conseguir ganhar ao último classificado, o Siena, apenas nos últimos minutos do jogo. A continuar assim, um dia prescinde do seu sobretudo.
Já no Reino Unido, um estudo revela que a faixa etária dos 16 aos 25 representa uma “Geração perdida” por falta de opções de trabalho e de carreira. Por cá a realidade não será muito diferente: reformas cada vez mais tarde, ensino desarticulado das necessidades do mercado de trabalho, ensino de mérito e qualidade duvidosos, e endividamentos familiares tantas vezes sem sentido, não são bons auspícios para o caso português. Ainda para mais quando se sabe agora que até as contas bancárias da Justiça em Portugal são duvidosas. Com exemplos destes estamos à espera de quê?
Por fim, uma boa notícia, vinda da Ministra Dulce Pássaro, que prometeu resolver a questão das suiniculturas durante esta legislatura. É uma boa notícia, se se concretizar a intenção, obviamente, pois que as suiniculturas continuam a ser uns dos mais graves focus de poluição do país. É caso para dizer que é mais que tempo de se resolver esta porcaria.