Saudade

600420_10151504607223556_690101639_n

© Sofia Martins, Praia da Granja, Dezembro de 2006

Sempre que um colega estrangeiro me pergunta o que é a saudade, recordo-me de Sophia e do rapaz da Menina do Mar:

A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente.

Depois levantou a cabeça e disse suspirando:

– É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
– Isso é por causa da saudade – disse o rapaz.
– Mas o que é a saudade? – perguntou a Menina do Mar.
A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.

Lembrei-me da saudade, ao ler, no Público de hoje, a crónica de Esteves Cardoso acerca da tradução inglesa (2014) do Vocabulaire Européen des Philosophies, Dictionnaire des intraduisibles (2004), organizado por Barbara Cassin.

A parca presença da língua portuguesa no Vocabulaire, com quatro verbetes, da responsabilidade de Fernando Santoro, foi objecto de umas “breves e despretensiosas nótulas” de Marisa das Neves Henriques (2010) e o próprio Vocabulaire mereceu uns interessantes parágrafos de Mario Perniola (2006: 115-8). [Read more…]