Critérios de incorrecção

Este ano o GAVE (entidade responsável pelos exames nacionais) trocou as reuniões onde os professores correctores recebiam verbalmente indicações extra e aferiam critérios de correcção por documentos confidenciais com onde essas mesmas instruções foram transmitidas.

Não fora a capacidade do Paulo Guinote em furar estes esquemas e teriam ficado mesmo confidenciais, para espanto de muitos, incluindo o bom senso e as regras mínimas de transparência administrativa.

Ao contrário de muitos sou acérrimo defensor de que estas instruções devem ser transmitidas por escrito, sem com isso evitar as reuniões de aferição, que são chatas mas úteis.

É que em 2007 fui corrector da prova de História A, e na altura muita falta me fez um documento dessa natureza onde se afirmasse preto no branco que designar o Estado Novo como um regime totalitário ou fascista era considerado um erro científico grave, e como tal fortemente penalizado. Bem tentei denunciar, mas não tinha provas. Talvez ficássemos a saber quem foi a besta científica grave que inventou tal critério, no ano em que a média desse exame ficou abaixo de 10 valores, só tendo havido piores resultados a Física e a Geometria Descritiva.

O exame de Matemática do 9.º Ano

Diz quem sabe que foi muito fácil. Eu não, que olho para aquilo dos senos e dos co-senos e é como se estivesse um boi a olhar para um palácio. Melhor vigilante do que eu não podiam ter encontrado.
Tirando isso, o trabalho de vigilante dos Exames Nacionais deve ser o mais chato do mundo. Durante duas horas e meia, que nalguns casos podem ser três horas e meia, não se pode fazer rigorosamente nada. Nem ler, nem escrever, nem falar, nem olhar para o telemóvel. Nada.
Apenas, e só, olhar para os alunos que estão a fazer o exame. Sentados (ou nem isso). Em pé. Andando de um lado para o outro a ver se os minutos passam mais depressa. De novo sentados. De novo em pé.
E quando um aluno pede que lhe cheguemos a sua garrafa de água (não a pode ter à sua beira porque podia fazer copianço no rótulo…), ou quando pede mais uma folha, é um momento tão emocionante que não queiram imaginar!

O estado comatoso do ensino em fim de ciclo político

Por SANTANA CASTILHO

Poucas semanas volvidas sobre a divulgação pela OCDE do “PISA 2009” e o consequente discurso encomiástico do Governo, veio a público o “Projecto Testes Intermédios. Relatório 2010”, um instrumento de avaliação do desempenho dos alunos portugueses, da responsabilidade do Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação.
Que podemos retirar deste relatório? Que os alunos portugueses raciocinam mal e escrevem pior; claudicam quando solicitados a relacionar conhecimentos a que foram expostos em disciplinas diferentes ou a construir um raciocínio lógico, ainda que simples e utilizando informação explicitada no corpo do próprio teste; quando se exprimem ficam-se por níveis elementares de proficiência, longe do rigor frásico e revelam-se ignorantes gramaticalmente; têm manifestas dificuldades em ultrapassar o nível básico na resolução dos problemas colocados, seja qual for a área disciplinar em análise, com incapacidade de ultrapassar o que não seja elementar, simples e curto. Particularmente no ensino secundário, o relatório identifica a falta de rigor científico e a manifesta dificuldade de construir ideias próprias ou lidar com raciocínios demonstrativos.

Aparentemente, há uma contradição insanável entre os dois estudos em análise. Mas não há. Eles chegam a conclusões semelhantes, usando metodologias distintas, o que reforça a solidez do diagnóstico sobre a mediocridade do ensino nacional. O que foi diferente foi o tratamento mediático e a manipulação triunfalista que Sócrates fez do “PISA 2009”. [Read more…]

GAVE & PISA

COMO SE FORA UM CONTO

Há por aí algumas coisas que me baralham.

Sendo pai de vários filhos, em diversos sectores etários, vejo-me confrontado com diversas realidades. Uns, os mais velhos, são já formados, estão empregados, ganham mal, mas vão sendo dos que, privilegiados, arranjaram trabalho remunerado nestes dias tão difíceis. Um outro, já no segundo ano da faculdade, é um aluno quase brilhante, pelo menos se comparado com os seus pares. O mais novo, actualmente no sétimo ano de escolaridade é um aluno médio/bom. São pessoas que sabem falar sobre qualquer assunto, dependendo do nível da sua formação e que não dão pontapés na gramática Portuguesa. Para tal, tive ao longo dos anos, uma especial atenção à forma como se expressavam, como escreviam e como elaboravam as suas ideias. A par disso, a minha atenção virou-se muito e também para a compreensão dos números. [Read more…]

PISA 2009 vs. GAVE 2010?

 

Relatório 2010. Alunos não sabem raciocinar nem escrever

Aguardam-se as reacções de Sócrates e respectivas corporações à notícia acima referida, cuja base está neste relatório produzido por um departamento do Ministério da Educação.

Já comentei (aqui e aqui) os tão celebrados resultados do PISA. A verdade é que todos os foguetes que se largaram, então, são apenas consequência de um provincianismo estéril, próprio de quem prefere alegrar-se conjunturalmente a agir estruturalmente. Seria igualmente provinciano transformar este relatório do GAVE num momento de depressão. O que, verdadeiramente, interessa é saber com rigor em que patamar estamos – e há muita gente que sabe – e planear a partir daí. O que interessa é que, finalmente, a Educação passe a constar de uma agenda de cidadania e que deixe de ser um departamento ao sabor de delírios financeiros e pseudo-pedagógicos.

À atenção dos responsáveis pelos exames nacionais

Agora que querem meter os professores a fazer trabalho extraordinário à borla, não seria altura de pouparem os professores do ensino privado a esse sacrifício?

Eu explico porquê. Em primeiro lugar não passa pela cabeça de ninguém que funcionários de uma empresa privada façam um trabalho que compete única exclusivamente ao estado. É o mesmo que pôr empresas de segurança a fazer trabalho da polícia. Já os alunos do privado não terem de ir fazer o seu exame a uma pública é perigoso, e por alguma razão nem sempre foi assim.

Depois tenho uma pequena experiência. Quando fui corrector pela primeira vez de acordo com as modernices actuais das grelhas supostamente mais objectivas e das aferições dos critérios trabalhadas em grupo, dois colegas dentro do assunto explicaram-me os novos procedimentos e no final avisaram-me:

– E nas reuniões de aferição vais ver como está sempre alguém de um colégio e como avalia sempre por baixo. [Read more…]