Governo de salvação internacional

Muitos têm sido os que procuraram identificar os culpados locais dos estranhos acontecimentos que têm marcado a actualidade política nos últimos dias em Portugal. Mas o que esta dita “crise política” e o seu desfecho revelam é o domínio dos interesses extra-nacionais e a afirmação, em todo o seu esplendor, de uma realidade que a maioria tem sub-avaliado, naquela negação de quem fecha os olhos para não ver o que contudo será verdadeiramente  irrevogável, e a que apenas factores exteriores, ou uma não-expectável posição radicalíssima de um outro Governo (que não vai existir antes de 2015, creio) poderiam fazer inflectir: a perda de soberania, até agora enunciada como uma espécie de ameaça abstracta, é agora uma realidade horrorosa e corporizou-se no rigoroso momento em que, perante o pasmo da generalidade dos democratas, emerge um Governo de salvação internacional, chefiado por Cavaco Silva. E o próximo alvo que visa é… a reforma do Estado, eufemismo para machadada-final e definitiva nas responsabilidades sociais do Estado.