Os homens do Hamas são “guerreiros santos”

O Hamas não é terrorista, mas uma organização patriótica que defende o seu povo e o seu território (…) São guerreiros santos.

Quem terá proferido estas declarações?

Ali Khamenei?

Sayyed Hassan Nasrallah?

Vladimir Putin?

Ismail Haniyeh, o hóspede de luxo do ditador do Qatar que gere o Hamas a 2000km de distância?

Bashar al-Assad?

Nada disso: foi Recep Tayyip Erdogan, o autocrata que lidera a Turquia, membro da NATO que ocupa a posição político e geoestratégica mais influente nos dois conflitos em curso às portas da Europa.

Aquele a quem pagamos milhões para impedir a passagem dos refugiados que tentam entrar na Europa vindos do Médio Oriente.

Mas não se preocupem. Desde que os interesses estratégicos dos EUA estejam devidamente acautelados, tem tudo para correr bem.

O dia em que a realpolitik bateu à porta de Zelenskyy

Stian Jenssen, chefe de gabinete do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou, no início da semana passada, que uma possível solução para o conflito em curso na Ucrânia passaria pela cedência de território aos russos.

Em Kiev, as declarações foram recebidas com fúria, o que se compreende. E Jenssen, pressionado, tratou de se desdizer. Mas o dano estava causado. Porque a hipotética solução não foi algo que lhe ocorreu no momento. Foi, seguramente, um dos cenários discutidos na cúpula da Aliança.

Depois da fúria, o executivo Zelenskyy acordou para a realidade. E a realidade é que a cedência de território, para a NATO (logo para os EUA) é uma hipótese real. Porque a invasão dura há um ano e meio, as sanções, mais do que não surtir o efeito esperado, são permanentemente contornadas pelos países ocidentais (que continuam a comprar combustíveis russos), a contraofensiva está a léguas dos resultados pretendidos e as eleições americanas do próximo ano poderão muito bem resultar no fecho da torneira que alimenta o esforço ucraniano. E se Kiev não o sabia, sabe-o agora. [Read more…]

Quem bombardeou o tractor polaco?

Os mísseis ainda estavam quentes mas a verdade absoluta era já inquestionável, excepto para os mais empedernidos putinistas: o Kremlin estava zangado com os avanços ucranianos e com os resultados do Trumpismo nas midterms, e decidiu bombardear um tractor em território polaco, a poucos KMs da fronteira ucraniana.

Os defensores da guerra total não perderam tempo e exigiram a activação imediata do artigo 5°. Não havia dúvidas, não era necessário investigar. Verdades absolutas são isso mesmo: absolutas. E quem questiona não é do bem. É do Putin. Para sua enorme tristeza, nem Jens “warmonger” Stoltenberg parece convencido da culpabilidade dos russos:

“Não há indicação que se trate de um ataque deliberado da Rússia, ou de que a Rússia tenha planeado qualquer acção militar ofensiva contra a NATO”

Meus amigos e minhas amigas: no dia em que o Putin sentir necessidade de atacar o espaço da NATO, o seu alvo não será um tractor. Tomara que nunca cheguemos lá.

A soma de todos os medos

Aos referendos encenados em Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia, com vitórias esmagadoras e nada surpreendentes para o Kremlin, ao melhor estilo de qualquer eleição organizada pelo regime de Putin, seguir-se-á o anúncio da anexação destes territórios ucranianos à Federação Russa. Não adianta espernear. Vai mesmo acontecer. E podia ter sido evitado, se não nos tivéssemos alegremente vendido durante 20 anos de lucros fabulosos para os big shots.

A Ucrânia tentará, com total legitimidade, recuperar os territórios sequestrados pelo Adolfo de São Petersburgo. A diferença, que não é um mero detalhe, é que tal tentativa será encarada por Moscovo como um ataque directo à sua soberania e integridade territorial. A partir do momento em que a anexação for anunciada, aqueles territórios passarão a integrar a Federação. E isto muda totalmente as regras do jogo.

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O interesse dos referendos regionais para Putin

Entre outros anúncios, Putin mostrou hoje pressa na realização de referendos nas regiões ocupadas, sabendo-se, de antemão, que a chamada comunidade internacional, seja qual for o desenlace dos mesmos, nunca os validará nem atenderá aos seus resultados.
Qual, então, o interesse de Putin na sua realização?
Quatro vejo muito claramente sem complexas ilações:
1 – Para consumo interno dos seus cidadãos, poderá anunciar que a “operação especial” está concluída, entrando na fase de defesa do território da própria Federação Russa a partir do momento em que integre essas regiões;

2 – Qualquer contra-ofensiva da Ucrânia, no futuro, a esses territórios na tentativa de os reaver, será encarada pela Rússia como um ataque ao seu país;
3 – Todo e qualquer equipamento militar usado oriundo dos países da OTAN será entendido como uma declaração de guerra da OTAN à Federação [Read more…]

Lágrimas de crocodilo

Tanta comoção com o facto de uma primeira-ministra andar na farra como uma pessoa normal e quase nenhuma comoção com o facto de uma primeira-ministra entregar o povo curdo de mão beijada como uma anormal.

Assim vai o mundo.

Sanna Marin, primeira-ministra finlandesa, chora pela sua própria pele…

… Mas nem uma lágrima derramou quando embrulhou o povo curdo com um laço para aderir à NATO

A NATO e a farsa democrática que nos rebentará nas mãos

O ano de 2022 tem sido fértil em tragédias e desilusões, com a invasão da Ucrânia à cabeça, perpetrada por esse antigo investidor de referência do neoliberalismo dirigente, hoje convertido em hitleriano ditador, a quem, ainda assim, continuamos a comprar commodities.

Contudo, do Kremlin nunca esperei democracia. Daí que considere mais preocupante, no que ao nosso modo de vida e à democracia diz respeito, assistir à capitulação da Suécia e da Finlândia, que se ajoelharam e ofereceram a democracia numa bandeja a outro ditador, que só não rosna mais por não se lhe conhecer arsenal nuclear.

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Liberais ou cheerleaders do “lá fora é que é bom”?

Ultimamente, tem havido posições da IL que se tornam difíceis de explicar para um liberal como eu. Acreditando que cada liberal deve defender a menor minoria de todas, o indivíduo, custa-me ver liberais a defender grupos ou instituições, criando aqui uma ideia fantasiosa de bons contra maus. Sempre que se coloca esta divisão corremos vários riscos: pressionar quem nos ouve, toldar a nossa visão perante o que é mais fácil e não ver algumas coisas que deveriam ser óbvias. Prefiro uma opinião controversa de alguém que tenta perceber o outro lado do que ouvir algo totalmente alinhado com aquilo que é seguro defender. Há dois campos em que a IL me desiludiu um pouco como liberal: posições em relação à invasão russa à Ucrânia e aos LGBT.

Desde que a Guerra começou, a IL tomou um lado claro: a Ucrânia. E bem. É claro que há um invasor e um invadido. Mas à boleia começou uma defesa cega dos mesmos que rebentaram, por exemplo, com Belgrado. Que espalham a democracia à lei da bomba pelos mais variados pontos do planeta: a NATO. A IL chegou ao ponto de defender que pertencer à NATO é pertencer ao mundo livre. Eu já fiz tweets meio parvos, mas normalmente eram sobre foras-de-jogo e a Dua Lipa, não era a chamar “mundo livre” aos genocidas de curdos, o Estado Turco, aos opressores da liberdade sexual, a Polónia, ou até a Portugal de 1949. Pior do que isto foi ver a IL a festejar o facto da Finlândia ter sido convidada a entrar na NATO, porque temos de ser contra autocratas e ditadores em toda a linha. Esqueceram-se de que a Finlândia teve de ceder à Turquia, aos conhecidos genocidas do povo curdo, para poderem ser aceites. Aceitar que seja normal o Estado Turco fazer exigências para alguém ser aceite é como meter o Sócrates a dar aulas de gestão pessoal ou o Ferro Rodrigues a dar aulas de educação sexual. A IL sabe que é um jogo seguro ficar sempre ao lado da NATO, porque esta tem bom nome. É uma típica jogada de centrista que só não quer ver o seu nome na lama e não arrisca verdadeiramente romper com os limites do pensamento. As pessoas, como não ouvem falar, aceitam facilmente um genocídio, enquanto mandam paletes para outro povo massacrado. Estes países acusarem-se uns aos outros é o mesmo que um violador virar-se para um assassino e dizer “Não cuspas para o chão, que é chato”.

A mesma estratégia usada para a questão da Guerra, pensada mais na reação dos outros do que baseada nos próprios valores, é também a mesma para as questões LGBT. Que fique claro: por defender a liberdade sexual de qualquer indivíduo sou contra estas marchas e estes associativismos, não sendo contra a liberdade de associação, pois cada indivíduo escolhe como pretende defender o que acredita. Como liberal, defendo a 100% a liberdade de cada um marchar por aquilo que quiser. Como liberal, nunca iria a uma marcha dessas, nem que me pagassem. A Iniciativa Liberal não se pode abster e ser contra medidas que os LGBT, como trupe que se autoproclama dona das “minorias” sexuais, e querer ir a uma marcha destas. É o mesmo que ir a uma festa para a qual não sou convidado. A marcha LGBT, os grupos LGBT, todos esses movimentos não são livres de ideologia, nunca o foram. Ter uma identidade sexual diferente de heterossexual cisgénero não é sinónimo de defender estas grupetas instrumentalizadas pela esquerda. Felizmente, sei que não sou nenhum heterossexual doido que acha estas coisas e conheço bastantes pessoas homossexuais que não se revêem nessas práticas. As críticas da esquerda à presença da IL na marcha são mais do que legítimas. Afinal, o pride nunca serviu para defender a liberdade, mas sim grupos.
Quem defende a liberdade sexual não se associa a movimentos que se sentem donos da identidade pessoal de outros, quase num negócio perverso entre lealdade e proteção. Um pouco ao estilo da máfia.

Parece-me que a IL começou a deixar os valores liberais por eles mesmos para defender aquilo que parece liberal, como se o mundo fosse linear como num livro de História do 4º ano. Defende-se aquilo que se ouve nas redes e nas notícias, aquilo que se acha que nos vão chatear menos, não pensando que por vezes há valores liberais colocados em causa. Ser liberal está longe de ser apenas apoiar sempre a UE, a NATO e todas as grandes organizações. Não querer ultrapassar um caminho que pode ser longo é o mesmo que pisar um jardim bonito para chegar mais rápido ao destino. Mais tarde ou mais cedo, as consequências virão. E Portugal em nada ganhará ao tentar conquistar os votos daqueles que nunca colocarão a cruz num partido liberal.

Adesão à UE: a mentira que estamos a vender à Ucrânia

Andamos a vender uma mentira aos ucranianos. A mentira de um sonho europeu que está a anos, décadas de distância, isto se algum dia a Ucrânia reunir as condições necessárias para conseguir a adesão. A menos que a União decida ignorar as regras, o que não é bem o seu estilo. Isto se não considerarmos os resgates da economia italiana, que não se chamam bem resgates. Resgates é para PIGS como Portugal ou Grécia. Para cães grandes do G8 usa-se um eufemismo qualquer que agora não me ocorre.

O processo de adesão, que é longo, tem várias etapas e exige uma série de garantias, não será acelerado, por dramática que seja a situação na Ucrânia. Não será nem pode ser. Porque é contrário às regras europeias, porque abre um precedente perigoso e porque a Ucrânia não está perto de cumprir os necessários requisitos. E ao contrário daquilo que alguns defendem, creio que não teria qualquer impacto prático na invasão em curso. Quanto muito aumentaria a probabilidade de alargar as fronteiras da invasão e transformá-la numa guerra a sério. E aí é que iríamos ver o que é inflação.

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Condecorem os estrategas geopolíticos de Vladimir Putin, já!

De forma inteligente e educada, e com o Kremlin enquanto alvo das suas declarações, o presidente finlandês explicou, há dias, o porquê do seu país estar à beira do fim de uma longa tradição de neutralidade, estando já em processo de adesão à NATO:

– Foram vocês que causaram isto.

Compreende-se. Se eu vivesse num país que partilha 1300km de fronteira com a Federação Russa, já teria metido os papéis mais cedo.

Sim, já sei que vou levar com malta a falar dos crimes da NATO. Não os ignoro. Nem vou perder tempo a argumentar porque a complexidade dessa discussão daria para um outro post, ou vários, mas não será este.

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São liberais e não sabem

O mundo “livre” segundo a IL.

Vai caindo a máscara ao auto-denominado “primeiro partido liberal em Portugal”.

Depois da “frescura” que foi o aparecimento da IL no panorama político português, os neo-liberais do partido de Cotrim de Figueiredo vão mostrando que são, apenas, mais um partido liberal em Portugal. Neo-liberal, portanto.

Ser a favor da NATO e da presença de Portugal na organização bélica, ainda se aceita. É legítimo que argumentem que “é forma de defesa”, da mesma forma que é agora legítimo que Finlândia e Suécia decidam aderir à NATO por considerarem que a sua liberdade e autonomia estão em perigo. É questionável, mas legítimo. O que não é normal é inferir que a NATO em si representa o “mundo livre”.

Primeiro, porque Portugal aderiu à organização em 1949, estava o país sob o jugo fascista de Salazar e compinchas. Segundo, considerar a Turquia um sinónimo de “mundo livre” é abusar da confiança no populismo. Terceiro, ignorar que Hungria e Polónia têm projectos de poder anti-democráticos em curso só para louvar a máquina bélica que é a NATO, parece-me desonesto. Quarto, trocar a bandeira da Polónia pela da Indonésia atesta a maneira tosca como a IL vai dando tiros nos pés desde que elegeu um grupo parlamentar.

Escusado será falar dos EUA e de todos os crimes de guerra que já cometeu e do terceiro-mundismo que exibe dentro de portas.

Só posso concluir que Turquia, Hungria e Polónia são liberais e não sabem. Estudassem.

Papa Francisco, agente do Kremlin

A direita não morre de amores por Francisco. Alguma odeia-o abertamente. E só não odeia mais, e mais vocalmente, porque a máscara cristã pode cair, o que é sempre chato.

As declarações feitas pelo papa ao Corriere della Sierra, sobre a invasão russa da Ucrânia, têm tudo para o transformar num perigoso neofascista a soldo de Putin, ou num comunista, que, segundo o Ministério da Verdade, é uma e a mesma coisa.

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O IV Reich passa por Estocolmo

O regime russo deu mais um passo em direcção a demência colectiva, lançando uma campanha de demonização da Suécia e do seu povo, que classifica, sem surpresas, de nazi.

Este grau de imbecilidade não surpreende, ou não vivesse eu num país onde alguma esquerda acusa toda a direita de filiação fascista, tal como um significativo sector da direita acusa toda a esquerda de estalinista, para não falar no anedótico PSD, que por estes dias acusou Costa de liderar um regime totalitário. Tolinhos ou aldrabões manipuladores, são todos a mesma merda, cagada no mesmo esgoto propagandístico.

A diferença, claro, é que as declarações russas tendem a preceder “operações militares especiais”, também conhecidas por “desculpa esfarrapada para justificar invasões motivadas pelo controle geopolítico e de recursos naturais”. Depois temos que aturar os líricos a falar sobre a paz, como se fosse possível negociar coisa que se parecesse com um fascista, financiador de outros fascistas, que acusa tudo o que mexe à sua volta de nazi. E ainda há quem se admire com a intenção da Suécia e da Finlândia de abandonar a neutralidade e aderir à NATO. Contra um pulha como Putin, mais vale prevenir – com armamento até aos dentes – do que remediar.

Viktor Orbán, o Salazar de leste a precisar de cair da cadeira

Retirado do About Hungary, um site de propaganda do regime, onde o culto da personalidade de Orbán ultrapassa todos os limites do lambe-cuzismo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijjártó:

At the same time, he continued, the security of Hungary and the Hungarian people is more important to us than anything else. “This is not our war, so we want to stay out of it and we will stay out of it” he wrote, adding that the government is not willing to risk the peace and security of the Hungarian people, “so we will not deliver weapons and we will not vote for energy sanctions” Minister Szijjártó said that on all these issues, the Hungarian people on Sunday expressed a clear opinion and made a clear decision.

No fundo estamos perante uma espécie de salazarismo igualmente servil, que ao invés de se dizer do lado dos Aliados enquanto colabora com os opressores do Eixo, se diz do lado das democracias liberais, apesar de não passar de um emissário de Putin no seio da UE e da NATO. Espero que, tal como Salazar, tenha em breve a oportunidade de declarar luto nacional pela morte de Putin. Podendo também cair de uma cadeira, não se perde nada.

E se não tivermos sempre Paris?

Marine Le Pen e o seu financiador, Vladimir Putin

A possibilidade real de Marine Le Pen ser a próxima presidente francesa é uma ameaça séria ao projecto europeu mas, sobretudo, uma enorme ameaça à segurança do mundo Ocidental. Ter esta mulher como líder da única potência nuclear da UE, cuja ascensão foi em larga medida patrocinada e financiada pelo Kremlin, mais ainda num momento como o que vivemos, devia fazer soar todos os alarmes. Ter uma emissária de Putin com poder em Bruxelas, na NATO e no próprio Conselho de Segurança da ONU, alterando a balança do poder em favor do eixo Moscovo-Pequim, pode ser o fim da história como a conhecemos. Não estarmos todos alarmados com esta possibilidade alarma-me ainda mais. Não sei se a Eurasia de Medvedev chegará algum dia de Vladivostok a Lisboa, mas está a aproximar-se perigosamente de Paris.

PCP – inaceitável justificação contra a comunicação de Zelensky

O PCP exerceu o direito de votar contra a comunicação de Zelensky à Assembleia da República por vídeo-chamada, porque felizmente está num país que vive em liberdade numa Democracia liberal desde Abril de 74. Os militantes do PCP lutaram como ninguém mais contra a ditadura que nos ensombrou durante 48 anos, aos quais agradeço e dedico o meu mais profundo respeito, mas se dúvidas houvesse, não era esta liberdade e esta Democracia que o PCP pretendia, não obstante a ter institucionalmente respeitado.

A sua luta não foi pela Democracia liberal, pela liberdade individual, mas pelo derrube do fascismo com a finalidade de instaurar uma “ditadura do proletariado” alinhada pelo imperialismo soviético, que se opusesse ao imperialismo norte-americano.
O muro de Berlim caiu com o processo de desanuviamento que Gorbatchov permitiu na U.R.S.S, contra o qual o PCP sempre se opôs, tendo estado sempre ao lado dos poderes imperiais russos, herdeiros da ideia de império euroasiático [Read more…]

O que é? Para que serve? ou Pela Boca Morre o Peixe

Na passada segunda-feira, o jornal Público decidiu lançar um vídeo explicativo. No vídeo, intitulado “O que é a NATO? Para que serve?”, a jornalista Cláudia Carvalho Silva explica meia-dúzia de factos. Na publicação da notícia no Facebook, comentei alertando para alguns factos que ficaram por enumerar, entre os quais a inclusão de antigos generais do exército Nazi na NATO ou o massacre levado a cabo nos Balcãs.

Por entre insultos, troço ou desvalorização do assunto que coloquei na mesa, por parte de outros internautas, eis que, entre eles, surge Bruno Vitorino. E quem é Bruno Vitorino? Para que serve?

Não farei um vídeo explicativo, mas poderei lançar umas achas para a fogueira. Bruno Vitorino foi deputado de 2011 a 2019, tendo passado pelas legislaturas do governo PáF e da Geringonça. Bruno Vitorino é militante do PSD-Barreiro, tendo sido o candidato à autarquia nas Autárquicas de 2021 (onde ficou conhecido por meia dúzia de tempos de antena, onde, com laivos de lunatismo, dizia que vivemos numa ditadura comunista – o sr. Vitorino confundiu Portugal com Havana, se calhar porque uma vez passou lá férias e achou que por haver muito sol nos dois lados, é tudo parecido).

No comentário que me dirigiu, fazendo a apologia da máquina de guerra que é a NATO, decidiu apoucar os factos que apresentei. Ora, em 2016, o Bloco de Esquerda apresentou, em sede própria, um voto pela libertação dos presos políticos angolanos e um voto de condenação pela repressão imposta pelo regime angolano sobre o seu povo. Relembro: Bruno Vitorino era, à data, deputado dos conservadores-liberais do PSD. Como terá votado estes dois tópicos? Com uma pesquisa rápida, descobrimos: no primeiro, absteve-se; no segundo, votou contra. [Read more…]

A cegueira da “esquerda” pelo ódio à NATO

Fonte: epa

Os embaciados óculos ideológicos de certa esquerda de aquém e além mar, para a qual a adoração da imagem inimiga – no caso, a sem dúvida censurável NATO, –  é superior à sua capacidade de empatia, humanismo e respeito pela soberania dos povos, levam, por estes dias, adeptos seus a pronunciarem-se sobre a guerra na Ucrânia com as conhecidas adversativas e propostas de rendição da Ucrânia.

Taras Bilous é um historiador ucraniano, activista do grupo Sozialny Ruch (Movimento Social) da organização do Movimento Social e editor da revista ucraniana de esquerda Commons.

Pouco depois do início da guerra, Taras Bilous escreveu “A letter to the Western Left from Kyiv”, na qual comunica a uma parte da esquerda do Ocidente o que pensa sobre a sua reacção à agressão da Rússia contra a Ucrânia.

Deve ler-se na íntegra, mas aqui ficam alguns excertos: [Read more…]

Ucrânia – negociações indiciam um avanço significativo

Ambas as partes, Rússia e Ucrânia, apontam para um avanço significativo conducente ao cessar-fogo e ao fim da invasão russa. Estaremos perto da retirada de Putin da Ucrânia? Julgo que teremos de esperar e, pior ainda, sem saber ao certo o que esperar.
O facto de Vladimir Medinsky, líder da delegação russa nestas negociações, admitir que consideraria positivo que a Ucrânia assumisse um estatuto de neutralidade idêntico ao da Suécia e da Áustria, membros da União Europeia, mas não da OTAN, indicia que, ou pode subentender-se, a Rússia admite uma Ucrânia independente e até como membro da União Europeia.

Putin sabe, penso, que não tem condições para ocupar a Ucrânia, nem sequer de suportar um governo fantoche contra os ucranianos que, neste momento e muito naturalmente, apenas [Read more…]

Como chegamos à invasão da Ucrânia – opinião de John Mearsheimer

John Mearsheimer, reconhecido académico da Universidade de Chicago, é um dos principais representantes da “escola neorealista” em Relações Internacionais da actualidade, que se contrapõe à escola do “Liberalismo Internacional”, defensor da teoria “offensive realism” das grandes potências.
Apesar de eu ser de opinião de que o responsável pela invasão da Ucrânia é Putin, de achar que, de momento, o que mais me deve preocupar é o fim da guerra e a busca de um cessar-fogo imediato até que as negociações sejam concluídas, de modo a impedir um ainda maior massacre de civis, continuo a tentar ser livre para ler e ouvir opiniões fundamentadas, mesmo que possa estar em desacordo com elas, total ou parcialmente. É o caso deste vídeo, onde John Mearsheimer expõe as suas opiniões e respectivos fundamentos históricos e geo-políticos à luz da política das grandes potências.
O conhecimento não faz mal! O que faz mal é o uso que lhe podemos dar.

Dicionário de Guerra: Português – Correctês

À medida que a invasão de Putin avança, aperta-se o cerco da liberdade de expressão. Mas esse cerco, lamentavelmente, não se resume à trincheira do tirano russo. Aqui pelo Ocidente, à caça às bruxas está ao rubro. De maneira que quem não debita a narrativa oficial é pró-Putin, quem questiona os antecedentes da invasão é pró-Putin, quem ousa debater qualquer variável que coloque em causa a narrativa simplista imposta pelo novo politicamente correcto é pró-Putin. Assim estamos.

Ciente dos riscos que corro, decidi lançar esta pequeno dicionário, onde pode. Os ver algumas expressões correntes e o seu equivalente em correctês. Para ir actualizando.

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Alguém pediu um apocalipse nuclear?

Leio por aí, nas redes e na imprensa, várias pessoas que defendem uma intervenção directa da NATO no conflito. Vejo-as ser confrontadas por outras pessoas, a meu ver mais sensatas, que lhes dizem:

  • Então e se isso levar a uma escalada nuclear?

Ao que essas pessoas respondem algo como:

  • Que se lixe! Temos que fazer justiça pelo povo ucraniano, doa a quem doer.

Isso, fazer justiça. Tudo muito bonito, tudo muito poético, principalmente se aparecesse um James Bond no último minuto, para desactivar o missel balístico intercontinental com o nuke lá dentro, ao qual estaria amarrada uma lindíssima Bond girl, a jeito de ser salva e beijada pelo galã. Acontece que esta merda não é Hollywood e, havendo quem queira mesmo morrer, mais vale ir para a Ucrânia combater. Sempre será mais útil à causa.

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O Império (do mal?) contra-ataca

O meu camarada aventador, Fernando Moreira de Sá, escreveu aqui um texto interessante, sobre o qual me apraz deixar aqui sete notas, tipo sete pecados mortais. Aqui vão eles:

1) A discussão extremada que o Fernando refere é real, dura há anos, para não dizer décadas, e continuará bem viva, enquanto a dualidade de critérios imperar. Arrisco dizer para sempre. No caso presente, é interessante notar que há quem fique muito ofendido quando outro alguém ousa trazer para a discussão sobre a presente invasão os antecedentes que dela são indissociáveis, como se isso implicasse, necessariamente, legitimar a invasão ou defender Putin. Até porque, de uma maneira geral, as pessoas que recusam ouvir falar desses antecedentes, alguns dos quais bem presentes, são as mesmas que estão constantemente a falar – e bem – na barbárie estalinista, tendo Estaline morrido há mais de 60 anos.


2) Sobre a ideia do Império do Mal, importa referir que o Ocidente não é um império uno e indivisível. Os criminosos ocidentais estão bem identificados e não é a pertença à NATO que os define. É, por exemplo, invadir um país sem consultar todos os seus parceiros, e com base num pressuposto fabricado, como os EUA fizeram com a segunda invasão do Iraque. É, também, orquestrar um golpe de Estado contra um governo democraticamente eleito, pelo motivo de esse governo não ser favorável aos interesses de Washington. É, igualmente, nunca ter respeitado o plano de partilha da Palestina, aprovado por uma larga maioria dos membros de então da ONU, e continuar a construir colonatos ilegais na Cisjordânia, impondo uma verdadeira ditadura ao povo palestiniano. Dito isto, ninguém considera uma Noruega, uma Islândia ou Portugal como fazendo parte de um qualquer Império do Mal. Portanto não é de Ocidente que falamos, mas de agressores patológicos, como os EUA e Israel, que sim, devem ser criticados e moralmente condenados pelas suas acções, que alguns teimam em desculpar.

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Guerra, o modo de vida da Iniciativa Liberal

Não é novidade para ninguém que BE e PCP são contra a presença de Portugal na NATO. São-no desde sempre. E, convenhamos, trata-se de uma opção ideológica e programática perfeitamente legitima, que diz respeito a cada partido. Há quem já não se lembre, mas o CDS também era eurocéptico. O próprio Cavaco Silva chegou a afirmar que a UE não era para toda a vida.

Sou a favor da presença de Portugal na NATO, até pela nossa dimensão e vulnerabilidade, o que não invalida que tenha críticas ao funcionamento da organização, que, na prática, é um instrumento de política externa dos EUA, no interior do qual todos os outros são Estados-clientes do Pentágono.

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PCP 2008 (ou como isto não começou na semana passada)

A fé (ou as fezes) que nos guia

Em 1991 caía a União Soviética.

Formada em 1922, depois da revolução soviética de 1917, teve o mérito inicial de depor os cazaristas que usurpavam ao povo o que era do povo. Depois disso, mais imperialismo, fome, terror e morte. Durante os anos em que esteve edificada, e ao contrário do seu propósito inicial, a URSS mais não foi do que um Estado imperialista, comandado por um psicopata tirano que governou como governam todos os psicopatas tiranos: a bel-prazer e tirando, para si e para os seus, os maiores dividendos, mantendo o povo de barriga colada às costas. Foi assim com Estaline, foi assim com Hitler e Mussolini, foi assim com Franco e Salazar, é assim com Putin e Castros, é assim com Maduro e Xi, é assim com Órban e foi assim com Netanyahu, é assim com a maioria dos presidentes norte-americanos, que vão provando a decadência do “sonho americano”.

Depois do preâmbulo, voltemos a 1991, aquando da queda da URSS. Cai a URSS, ficam a Federação Russa e um punhado de países, agora independentes. Ora, depois de assinados os acordos que dissolviam a União Soviética e dada a independência aos países do antigo Bloco de Leste, várias questões se levantaram. Uma delas a das armas nucleares. Como é sabido, os vários países que compunham a URSS ficaram, depois de 1991, detentoras de ‘n’ armas nucleares. Mas não por muito tempo. Em 1994, Boris Ieltsin e Leonid Kuchma, presidentes da Rússia e da Ucrânia, respectivamente, firmavam o Memorando de Budapeste. Este Memorando aprovou o envio de cerca de mil e seiscentas armas nucleares remanescentes da URSS, por parte da Ucrânia, à Rússia. [Read more…]

O Equilíbrio do Terror #8 – Lukashenko nuclear

Entretanto, na Bielorrússia, o fim de semana foi de referendo. Com a invasão da Ucrânia em curso, na qual Lukashenko está a participar, e 30 mil soldados russos no território, a garantir que o processo decorre com a necessária “normalidade”.

Surpreendentemente, 62,5% da população votou favoravelmente o fim do estatuto de neutralidade nuclear do país. E digo surpreendentemente, na medida em que era expectável que 99,8% dos bielorrussos estivessem devidamente alinhados com as directrizes transmitidas pelo Kremlin ao fantoche de Minsk.

Perante este resultado, que configura, também ele, uma ameaça ao Ocidente, é meu entendimento que a NATO deverá responder e não ficar de braços cruzados. Se Putin instalar capacidade nuclear na Bielorrússia, talvez não seja má ideia acompanhar a escalada e entrar no jogo da dissuasão. Estou certo que os Estados Bálticos aceitarão, de bom grado, que se instalem uns quantos mísseis no seu território. São Petersburgo está ali ao lado, Kalininegrado também. E Moscovo é já além…

A realidade

Lixa-nos a realidade. Foi-se o lirismo.

Somos sempre pela paz. E nunca queremos a guerra. Por isso, entrincheiramo-nos… para fazer a guerra. Ou será a luta pela paz? Será possível querer paz fazendo a guerra? Ou é uma contradição?

Sem lirismo, a realidade: é por perpetuarmos as guerras que não atingimos a paz. E enquanto houver quem se queira entrincheirar nas guerras dos burgueses, o povo continuará a ser, apenas e só, figurante.

Choninhas soberanos baixam as calças ao “imperialismo de bem”

Corre por aí uma tese: tens de apoiar um lado. Sim, tens de apoiar um lado mesmo que ambos os lados sejam péssimos! Nazis ou fascistas? Escolhe rápido!

“Aqueles também são filhos da puta, mas são os meus filhos da puta”, dizem por aí.

Os choninhas portugueses, soberanos, fazem sempre a mesma escolha: dar o cu a quem o quiser. Assim é, também, neste caso.

Deixem-se de merdas; não tens de escolher um lado entre EUA/NATO e Rússia coisa nenhuma. Se num cenário como este, o que te dão a escolher é entre o vómito e a diarreia, foge. O lado que tens de escolher é: PAZ ou GUERRA?

Por tal, Portugal agora tem uma missão. A saber:

Revogar os vistos gold dos oligarcas russos (1), acolher os refugiados ucranianos que fogem da guerra (2) e apoiar as várias sanções à Rússia (3).

Por fim, ficar bem longe das intenções de resposta de instituições nazis como a NATO (4) que só perpetuam a guerra. Escolher a paz.

Caros senhores da guerra,

Não há imperialismo bom e imperialismo mau.

Existe Rússia, China, EUA, UE e NATO. As ententes da guerra. Espero que se fodam todos bem fodidos.

Só o povo salva o povo.

Protesto anti-guerra. Estados Unidos da América, 1970. Autor desconhecido.