Dona Maria de Fátima Saraiva saiu, num certo sábado, da casa de seu marido, aproveitando a recente fuga fiscal dele (começara por ser apenas fiscal mas acabaria por obrigá-lo a ter de escapar-se para bem longe), para redescobrir, uns quantos anos depois, os mistérios da noite. A amiga que se oferecera para acompanhá-la avisou-a em cima da hora que tinha torcido um pé na hidroginástica, coisa que, de tão descabida, mais parecia desculpa esfarrapada, mas ela já tinha imaginado coisas a mais para contentar-se com uma noite em casa. Foi sozinha.
Procurou os sítios que lhe disseram ser os da moda, e descobriu que tudo era agora feito com lixo reciclado – caixotes, paletes, frascos de vidro a servir de candeeiros, cartões reaproveitados – e que, à falta de cartazes e letreiros se escrevia com giz na parede. Achou os lugares mais pobres e feios, mas as pessoas mais bonitas.
Foi pedindo coquetéis pela graça dos nomes que via na lista, sem saber o que lhe serviam, e achou-se entontecida em pouco tempo. Olhou em volta e sentiu-se tão só, tão dependente da bondade dos estranhos, que desejou não haver saído nunca de casa. [Read more…]
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