Proxenetismo

Até se tratar de um homem, nunca ninguém fez puto de ideia de quem venceu qualquer edição do concurso Miss Portugal. Este ano, cada peido dado por esta concorrente é noticiado e destacado pelos órgãos de propaganda social como um grande passo de progresso e tolerância. Pobres de dinheiro e espírito, desesperados por cada cêntimo que puderem sorver do caos cultural e moral que disseminam, põem a nu o evidente: isto é tudo um tragicómico freakshow.

Para os jornalistas das causas, a Marina Machete é a mulher barbuda que eles levam na coleira, de feira em feira, para ganhar uns trocos. Não lhes chegava terem-se prostituído, querem prostituí-la a ela também. O problema é que têm a distinta lata de o fazerem enquanto simultaneamente se arrogam paladinos da defesa da sua humanidade e dignidade. Que patéticos.

Hospitais da luz vermelha

imagesDaniel Bessa teve medo de assumir, frontalmente, as consequências das suas declarações. Na Universidade de Verão de um dos seus partidos, o ex-ministro da Economia explicou que há demasiadas semelhanças entre um hospital e um hotel para que o primeiro não possa ser, também, o segundo, porque, segundo Bessa, “na saúde, há muito de hotelaria.” E acrescentou: “O que é um hospital? São camas, como um hotel. Tem uma cozinha, como um hotel. Muito do que se passa num hospital é equivalente ao que se passa no turismo.”

Nunca tinha pensado nisso, mas, na realidade, não há nada mais parecido com um turista do que um paciente que passeia, com vagares ociosos, a sua garrafinha de soro, que, conforme as posses, poderá passar a ser gourmet. E haverá turista mais privilegiado do que alguém que, por exemplo, tenha ficado incapaz de comer pelas próprias mãos, podendo, agora, ser alimentado sem se cansar?

Mas Daniel Bessa deveria ter ido mais longe e não soube ver mais além. E se, em vez de “O que é um hospital? São camas, como um hotel!”, saltássemos para fora do quadrado e disséssemos “O que é um hospital? São camas, como um bordel.” [Read more…]

Eu, meretriz

Com a má vontade que me caracteriza, recusei-me a considerar como reformas estruturais as acções do actual governo, ao retirar poder de compra e direitos aos trabalhadores portugueses. Talvez, afinal, estivesse enganado e tudo isso fizesse, final, parte de um plano para nos colocar ao nível de outros países.

Acreditando numa sociedade assente na solidariedade, na redistribuição equilibrada da riqueza e num Estado suficientemente forte para não se deixar apropriar pela corrupção legalizada e suficientemente sensato para não entravar a iniciativa privada, confirmo, afinal, que tenho andado a pagar impostos e a ser espoliado de parte do meu salário para pagar dívidas de autarquias e parcerias público-privadas.

O governo, com a cumplicidade de todas as outras instituições – incluindo um partido que se finge zangado em público, mas que se presta a um coito ininterrupto em privado –, arremeda orgulho pela obra (des)feita, contando, ainda, com o apoio de uma certa Alemanha cujos caninos hitlerianos parecem renascer.

Não cairei na deselegância de insultar a mais antiga profissão do mundo, afirmando que essa gente é uma cambada de filhos da puta. Puta sou eu, obrigado a dar o corpo ao manifesto e a sustentar uma chusma de proxenetas que ainda têm o atrevimento de me dizer que ando a viver acima das possibilidades. E enquanto o lenocínio continua impune, ainda temos de ler inteligentes a confundir desespero com empreendedorismo ou outros que, num país crescentemente subdesenvolvido, têm o desplante de considerar que existe um investimento excessivo em Educação.

Este é o Bom Governo de Portugal

          Votar no BE e no PCP é, nestas eleições cruciais para a escolha do modelo de sociedade em que queremos viver, votar no BE e no PCP é eleger o governo da direita mais radical e reaccionária destes últimos 37 anos de democracia.

          Aliás, para os dirigentes do Bloco e do PCP, que têm assegurados o seu bem-estar na vida e as suas comodidades – e os seus ordenados, e os seus ordenados! – nada melhor que a eleição de um governo de direita ultramontana, sob vestes neoliberais, para obterem o que sempre pretenderam: quanto pior, melhor. Só assim engordam politicamente.

          É este o pesadelo que deseja quando acordar na próxima segunda-feira?

 

                                                  (clique na imagem para aumentar)