Carvalho da Silva em entrevista à TSF e JN: um exercício de clarividência

Manuel Carvalho da Silva, antigo dirigente da CGTP. Foto: Leonardo Negrão

Perto do fim de uma entrevista conduzida por Domingos de Andrade (TSF) e Rafael Barbosa (JN), Carvalho da Silva elenca os problemas que deveriam ser as prioridades de qualquer governo.

“A preocupação primeira do Governo, do presidente da República e de quem quiser intervir na política deve ser a de olhar para os bloqueios com que o país se debate. Há quatro ou cinco grandes questões que têm que passar para o centro da observação de forma clara, ou vamos andar na reprodução contínua de casos e casinhos, ou de intervenções do presidente, umas vezes a meter a mão por baixo do Governo, outras vezes a dar-lhe uma martelada. Isto não tem interesse nenhum. A questão em que nos devemos centrar quando discutimos hipóteses de futuro, é, em primeiro lugar, como se resolve o baixo perfil da economia e do tipo de emprego. E aí há três coisas a considerar. A desvalorização salarial e das profissões como estratégia da economia não pode continuar. Não é possível termos um futuro melhor se as empresas portuguesas não se posicionarem melhor nas cadeias de valor. Não é possível persistir-se nesta ideia de que o modelo de turismo que temos é a grande salvação e secundarizar-se a industrialização. O segundo grande problema é o demográfico. Não podemos estar a exportar jovens que formámos, quando necessitamos deles, e, por outro lado, não podemos utilizar a imigração como fator de manutenção de baixos salários e de exploração. São os défices na habitação, na mobilidade e na coesão territorial. É o problema da pobreza estrutural, tema a que nem o Presidente da República, nem outras instituições dão grande atenção. É chocante a condescendência com a pobreza que temos.”

Uma entrevista muito interessante, da qual deixo mais algumas partes.

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Política não, credo

“A emancipação dos trabalhadores será obra dos trabalhadores”- dizia Marx.
Se não forem capazes, contratem uma sociedade de advogados ambiciosos, digo eu.

E não, não estou a questionar a legalidade e a legitimidade da greve que se anuncia. Muito menos a subscrever a acção e medidas do governo – que raio de serviços mínimos são aqueles? – que parece ansioso por mostrar músculo político e agradar aos eleitores de direita. Estou apenas a lembrar que esta treta do “novo sindicalismo” – parece que já há 15sindicatos15 a querer contratar o dr. Pardal – não tem nada de novo. O ataque vai-se virando, durante estes eventos, contra o chamado sindicalismo “clássico”. Isto é, o sindicalismo forte e unido com uma forte componente política – não, não tem de ser partidária -, cuja acção não se resuma à reivindicação salarial e a concertações encenadas. É por isso que a direita exulta com este suposto vendaval de neo-sindicalismo. É que, para ela, uma sociedade de advogados a dirigir – generosa e graciosamente, claro – um sindicato, é modernaço e traz a vantagem de as organizações sindicais não se meterem em política que isso é coisa de senhores doutores. Já se um partido tiver forte presença num sindicato, “ai valha-me deus, ti batata, que isto é tudo uma data de comunistas”.
Nós compreendemos. [Read more…]

JSD, hitleriante

JSD

A JSD – e muita dessa nova direita radical que saiu recentemente do armário – tem, indubitavelmente, um fetiche com a União Soviética. Um fetiche que faz emergir o que de mais demagogo e idiota existe entre as camadas jovens de um partido outrora posicionado no centro-esquerda, hoje acantonado no sector mais radical da direita, imediatamente antes do PNR.

Em Novembro foi engraçado vê-los meter os pés pelas mãos com um cartaz que retratava a tomada de Berlim pelas tropas soviéticas, que só por acaso até combatiam ao lado dos EUA e do Reino Unido contra a Alemanha nazi, a qual era apresentada pelos doutos jotinhas com uma conotação negativa, numa tentativa falhada de atacar o acordo de esquerda e cujo resultado foi uma humilhação pública. Durante alguns dias, a JSD voltou a ser anedota nacional. Hitleriante. [Read more…]

Raul Vaz mentiu

Quando se fala de sindicatos e de educação a FENPROF é a referência que todos têm e isso, num universo sindical completamente pulverizado, nomeadamente por quadros de direita (PSD) que, nos tempos do Cavaco Primeiro, se distribuíram por amostras de sindicatos. Ontem, ao fim da tarde, quando ouvia, no carro, o programa de debate da Antena 1, Contraditório, o Vaz dizia, ali pelo minuto doze, que o líder da FENPROF, Mário Nogueira, tem esse papel há décadas.

Ora, creio, poder escrever com toda a FORÇA que as palavras podem ter: Raul Vaz mentiu porque, Mário Nogueira não é o líder da FENPROF há décadas.  Poderá o senhor comentador visitar um texto escrito há uns tempos com algumas perguntas sobre o mundo sindical docente. Talvez aí encontre alguma informação que ignora. Ou não!

Repare, caro leitor, há um ano, a FNE (laranja) assinou um acordo com os patrões do privado que levou milhares de professores do privado ao desemprego e outros tantos ao desespero. Pois agora, junta-se ao coro dos patrões. Coerências! Mas, sobre isto, o Comentador não tem nada a dizer…

Sindicalismo laranja

Lugar comum nº 1, repetido vezes sem conta: Mário Nogueira é comunista.

Lugar comum nº 2, repetido tantas vezes como o lugar comum nº1: Mário Nogueira é líder da FENPROF há milhares de anos.

Lugar comum nº3, repetido mais vezes do que os lugares comuns anteriores: os Professores são todos comunistas.

Com base neste conjunto de lugares comuns o Miguel Noronha, do Blasfémias dá voz ao papagaio António Barreto. Um texto sem conteúdo a que importa acrescentar algumas pistas para que o Miguel possa ter mais dois lugares comuns na sua cabeça:

a) Quem está há mais tempo na liderança? Mário Nogueira na FENPROF ou João Dias da Silva na FNE?

b) João Dias da Silva é militante de que partido? Boa parte dos dirigentes da FNE são dirigentes de que partido?

Conclusão: porque é que os blasfémias não escrevem sobre os laranjas o que escrevem sobre os comunistas?

Assim, estou convicto de que o Miguel Noronha poderá reflectir sobre uma área que domina – a Educação – com mais conhecimento. Poderá, por exemplo, relembrar o que escreveu quando Nuno Crato obrigou os meninos deficientes (alguns dos quais nem uma letra conseguem ler) a fazer o exame do 4º ano. Sim, foi algo que aconteceu a meio do ano. E, se a sua linha é o famoso mérito, poderá até procurar o que escreveu quando Nuno Crato acabou com o prémio para os melhores alunos do secundário, decisão que foi concretizada no ano seguinte ao que permitiu os alunos ter esse direito. Isto é, não foi no meio do jogo – foi depois do jogo ter acabado.

Mas, tenho um palpite – Miguel Noronha, como João Dias da Silva e a FNE estiveram distraídos enquanto Nuno Crato foi Ministro.

O sindicalismo conformado da UGT

Questionado sobre se há aproveitamento político dos números do desemprego, Carlos Silva realçou que “a UGT não entra no processo partidário” e que “não vale a pena esgrimir os números oficiais” [RTP]

Jornais de Coimbra têm medo do Sindicato dos Jornalistas?

SJ impedido de visitar redacções dos dois principais jornais de Coimbra

A utilidade de um sindicato

Nos últimos tempos o papel dos sindicatos na nossa sociedade foi equacionado por tudo e todos. À boleia da Greve na TAP os sindicatos voltaram a aparecer no espaço mediático, quase sempre com o rótulo do “mau da fita”. E, como ponto prévio, importa realçar esta dupla realidade – os sindicatos são mais visíveis em situações de conflito e de tensão com o poder (central, executivo, patronal, etc…) e não têm do seu lado a comunicação social, precisamente porque esta pertence ao poder. Logo e mesmo que este seja um tópico fora deste texto, parece-me que a comunicação sindical é, nos dias que correm, uma dimensão crucial para a sua existência.

Aos sindicatos cabe um papel duplo – o de defender os seus associados e o de participar activamente na vida social, tomando posição a agindo em prol de uma sociedade melhor, não só para os seus sócios, mas para todos em geral. É esse o motor que move os trabalhadores da TAP na luta pela manutenção da Empresa na esfera pública. É, também, por exemplo, [Read more…]

A última esperança

A luta que os Professores têm vindo a desenvolver no último mês tem sido exemplar em muitos aspectos, nomeadamente ao nível da mobilização da classe que atingiu, em GREVE, dimensões nunca antes atingidas.

Mas, se os professores estão a lutar de forma singular, os boys de serviço continuam a não entender o que está em cima da mesa e que Pacheco Pereira tão bem descreveu esta semana:

O que está em causa para o governo na greve dos professores   é mostrar ao conjunto dos funcionários públicos, e por extensão a todos os portugueses que ainda têm trabalho, que não vale a pena resistir às medidas de corte de salários, aumentos de horários e despedimentos colectivos sem direitos nem justificações, a aplicar ao sector. É um conflito de poder, que nada tem a ver com a preocupação pelos alunos ou as suas famílias.

No DN, Pedro Tadeu, coloca a questão no ponto certo

O direito à greve foi assim transformado numa inalienável hipocrisia constitucional: um grevista é sempre, a priori, acusado por esta gente de estar a fazer mal ao País. E em qualquer empresa privada quase ninguém faz greve pois arrisca, logo, o desemprego.

Este jogo que parece ter de um lado os Professores e do outro Nuno Crato é bem mais complexo do que a espuma dos dias parece mostrar e todos começam a ter essa percepção. Obviamente, todos (ou quase!) defendem o direito à GREVE, mas nunca aquela em concreto: ou porque é cedo e não é tarde, porque é nos comboios e deveria ser nos aviões, porque é com alunos e deveria ser com os doentes, ou o diabo a quatro[Read more…]

A propaganda do costume

Os sindicalistas não recebem em dia de greve, até porque o STA não deixa (já agora: a verba revertia para o sindicato).

O obituário histórico-sindical que a Clarinha declarou

O 1º de Maio está morto em todo o mundo (…). Em Portugal, por exemplo, resumiu-se o um grupo de comunistas a passear um cartaz em Lisboa e a ouvir o camarada Arménio falar de uma pequena tribuna de madeira

afirmou a incontinente tagarela Clara Ferreira Alves (ex intelectual orgânica falhada do PSD e candidata a qualquer coisa em que a levem a sério o que, surpreendentemente, alguns dos nossos amigos fazem), perante o sorriso embevecido de Rui Ramos, o historiador que lava mais branco e cujo maior prazer é “irritar os tipos da esquerda” o que é, convenhamos, um elevado objectivo científico.

A coisa passou-se na avença que a senhora tem no simpático canal Q, já que no palco do Eixo do Mal preferiu uma abordagem mais de acordo com os interlocutores e o auditório. Pagas à hora, figuras como a Clara bem merecem o velho epíteto coimbrão de – com vossa licença – “caga-tacos”.

Os estivadores de Leixões

já nos avisaram para nem pensar em nos sindicalizarmos, pois não renovam o contrato

Artigo no Dinheiro Vivo

Sindicatos de Professores – eleições directas para mesas negociais

O Sindicalismo em Portugal, como em muitos outros países europeus, vive momentos delicados.

Num contexto em que o papel dos Sindicatos é questionado em permanência, no meio deste tsunami social em que intencionalmente nos colocaram, os trabalhadores também sentem a importância do Sindicato, nem que seja como a última porta a bater depois de todas as outras se terem fechado.

No caso dos Professores há um problema de base que complica tudo – são mais de dez as estruturas sindicais que representam a classe. Existe a FENPROF, liderada por Mário Nogueira e que representa mais professores que todos os outros juntos, mas depois, entre os sindicatos mais pequenos contam-se mais de uma dezena de estruturas.

Maria de Lurdes Rodrigues  (página 11) for responsável pelo primeiro processo de aferição da representatividade sindical para distribuição dos tempos que poderiam ser usados pelos professores para a actividade sindical. Nessa altura, quando havia mais de 1200 dirigentes sindicais a tempo inteiro, a FENPROF tinha 15%. Quando o número foi reduzido para 450,  a FENPROF subiu para os 40% (180 dirigentes) e finalmente, em 2006, foram-lhe atribuídos 146 de 300.

A minha pergunta é simples: a quem interessa esta aparente divisão? [Read more…]

Agarrem-me, Camaradas!

Camaradas, isto só lá vai com luta. Lutar contra a obsolescência do sindicalismo espingardante e aburguesado em Portugal e por um novo sindicalismo silencioso, trabalhador do lado da produtividade e da riqueza, como o sueco. Nesse país, todos se sentam à mesa negocial no sentido de todos ganharem com o trabalho de todos, assegurando que a galinha dos ovos de ouro comum permanece viva: os trabalhadores suecos ganham que é uma humilhação para um português. Porquê? Não se metem a destruir o seu sustento nem a demagojizar quedas de governos a braços com uma situação de calamidade e emergência. No Reino da Suécia, aliás, os trabalhadores nunca viram uma falência ou uma iminência de falência do Estado. Ninguém nas ruas de Estocolmo salivando, espumando, como os grandes traídos portugueses após anos com dinheiro fácil e dívida mais rápida que a própria sombra. Cá, primeiro estão os direitos, a impaciência dos velhos direitos, e depois, muito depois, a viabilidade da galinha dos ovos de ouro, aliás degolada e trocada pelo canto das sereias, as sereias que engendraram o actual buraco, as sereias que supõem que só à bruta e radicalizando muito se fará ressuscitar uma galinha em particular e a grande galinha-Estado. Lutemos, camaradas, mas para mudar esta mentalidade.  Quanto à luta contra Merkel, calma, camaradas! Obviamente a incumbente alemã rege-se pelo princípio de nos ensinar a pescar em vez de nos dar um peixe e isso pode representar a mudança milenar da nossa sorte pelintra da estatismodependência para a espontânea e solidária reunião dos mesmos esforços que limparam Silves grátis, após o último tornado. Com amor. Com ternura. Com união. [Read more…]

Há sindicatos e sindicatos

e não são todos iguais. A minha pergunta é: como é que há gente que entrega o dinheiro a esses sploc’s.

Ferroviários em Greve

Instantâneo de Joshua Benoliel, 1911.

Professores e sindicatos: pistas para reflexão

O papel dos sindicatos, goste-se ou não, está, em relação ao poder, do outro lado da folha. Já aqui escrevemos sobre o papel destinado aos sindicatos que assinaram o acordo com o MEC – com comportamentos destes é absolutamente natural que os professores, quando se sindicalizam, escolham maioritariamente a FENPROF. Goste-se ou não, é o único sindicato de professores (para simplificar, porque a FENPROF é uma federação de sindicatos regionais).

Agora, as reflexões que têm vindo a ser feitas nos últimos tempos sobre o comportamento da FENPROF fazem algum sentido, nomeadamente porque permitem questionar a própria classe.

Duas ou três ideias para lançar a reflexão:

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Um velho caminho para CGTP

A CGTP mudou!

Uma história que vai para o terceiro acto: congresso, manifestação e greve  geral!

Carvalho da Silva foi durante algum tempo – especialmente no último mandato – um dirigente que parecia valer mais que sua organização. Talvez por isso o PCP o tenha “suportado”, até porque os estatutos da Inter resolveriam o problema.

Entrou Arménio Carlos e chegou a hora de afirmar a diferença. A estratégia política da CGTP é hoje muito clara: mostrar que a CGTP voltou à casa mãe. Mais uma Greve Geral mostra bem essa realidade onde parece haver muito pouco (nenhum!) cuidado em ouvir quem trabalha. Alguém decide, marca-se e ponto final! Um erro porque leva a única organização de trabalhadores do nosso país para um canto que não é o seu!