Itália, 4 de Abril de 2009

Lembrem-se, antes de mais, de que se completaram já 54 anos desde esse 1 de Dezembro em que Rosa Parks recusou ceder o seu lugar a um passageiro branco num autocarro de Montgomery, no Alabama. Em Foggia, uma cidade agrícola na província de Puglia, em Itália, as autoridades locais anunciaram a criação de duas linhas de autocarros distintas: uma apenas para imigrantes e outra apenas para cidadãos locais. Na verdade, a linha é a mesma: a número 24, que une o centro da cidade ao bairro periférico de Borgo Mezzanone. A cerca de dois quilómetros deste bairro está um centro de acolhimento para imigrantes. De forma a evitar as fricções que se poderiam fazer sentir entre residentes e indesejáveis, nada melhor do que separar os veículos, ampliando o percurso do autocarro dos imigrantes até ao centro de acolhimento, e assim poupando-os à caminhada de dois quilómetros, e libertando os locais da presença dos não-europeus. O racismo mascara-se muitas vezes com a capa da falsa piedade, das hipócritas boas-intenções, da segurança que se impõe pela violência. E também esta medida vem com o rótulo de higiénica e bem-intencionada. Para quê forçar a convivência de pessoas que, não fosse a vaga de imigração africana que assola a Europa, nunca se teriam cruzado? Naturalmente será mais prudente isolar estes imigrantes para que a sua frustração, o seu sentimento de impotência e de injustiça não venham a encontrar expressão numa espiral de violência que se acenda com um olhar, um insulto, o encontro súbito de dois seres humanos assustados. Deparei-me com a notícia hoje e a coincidência deixou-me um sabor amargo na boca. É que hoje cumpre-se mais um aniversário, o 41º, do assassinato de Martin Luther King.

Comments

  1. Gloria Colaco Martins says:

    Sim. Há coisas misteriosas y que não se explicam sem o travo amargo a impregnar cada palavra…Vivo numa aldeia minúscula, aonde os autócnes nos anos 50 foram surpreendidos por uma vaga de migração das gentes do Alentejo que aí se fixaram y prosperaram y recriaram as suas raízes.Hoje essa leva de migrantes vai despedindo-se deste mundo. Acontece que toda a Aldeia Pára para a despedida de um autócne, mesmo que este tenha sido de Ruim rés a vida inteira y que nas últimas décadas nem um bom dia tenha trocado com os honradores da sua despedida deste mundo. Sucede também que ao funeral dos migrantes do Alentejo ninguém vai, mesmo que este tenha sido pessoa de bom trato y de generosa palavra… sim aqui só se pode ser generoso na palavra … é tudo pobre y remediado. Bem, estou a assinalar um fenómeno entre gente Branca. … quanto mais a escala diminui maisvisível fica insanidade da espécie. Mas n deixamos de ser “boas pessoas” se vistas à lupa, aqui y ali … Tem dias.PS.: É como o Muro na Palestina … “soluções de recurso”.

  2. Luis Moreira says:

    Só reforça o medo que espreita das convulsões sociais devidas à crise,com o desemprego à cabeça.

  3. O racismo, de facto, veste-se sob diversas formas. Esta é uma delas. Não será, estou certo, o único facto do género de que ouviremos falar nos próximo tempos.

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