Medina Carreira: A crise só nossa (II)

Depois da primeira parte, aqui fica a segunda e última parte do conjunto de entrevistas a Medina Carreira:

“A minha opinião desde há muito tempo é TGV- Não! Para um país com este tamanho é uma tontice. O aeroporto depende. Eu acho que é de pensar duas vezes esse problema. Ainda mais agora com o problema do petróleo.
“Bragança não pode ficar fora da rede de auto-estradas? Não? Quer dizer, Bragança fica dentro da rede de auto-estradas e nós ficamos encalacrados no estrangeiro? Eu nem comento essa afirmação que é para não ir mais longe… Bragança com uma boa estrada fica muito bem ligada. Quem tem interesse que se façam estas obras é o Governo Português, são os partidos do poder, são os bancos, são os construtores, são os vendedores de maquinaria… Esses é que têm interesse, não é o Português!”

“Nós em Portugal sabemos é resolver o problema dos outros: A guerra do Iraque, do Afeganistão, se o Presidente havia de ter sido o Bush, mas não sabemos resolver os nossos. As nossas grandes personalidades em Portugal falam de tudo no estrangeiro: criticam, promovem, conferenciam, discutem, mas se lhes perguntar o que é que se devia fazer em Portugal nenhum sabe. Somos um país de papagaios… Receber os prisioneiros de Guantanamo? «Isso fica bem e a alimentação não deve ser cara…» Saibamos olhar para os nossos problemas e resolvê-los e deixemos lá os outros… Isso é um sintoma de inferioridade que a gente tem, estar sempre a olhar para os outros. Olhemos para nós!”

“A crise internacional é realmente um problema grave, para 1-2 anos. Quando passar lá fora, a crise passará cá. Mas quando essa crise passar cá, nós ficamos outra vez com os nossos problemas, com a nossa crise. Portanto é importante não embebedar o pessoal com a ideia de que isto é a maldita crise. Não é!”

“Nós estamos com um endividamento diário nos últimos 3 anos correspondente a 48 milhões de euros por dia: Por hora são 2 milhões! Portanto, quando acabarmos este programa Portugal deve mais 2 milhões! Quem é que vai pagar?”

“Isso era o que deveríamos ter em grande quantidade. Era vender sapatos. Mas nós não estamos a falar de vender sapatos. Nós estamos a falar de pedir dinheiro emprestado lá fora, pô-lo a circular, o pessoal come e bebe, e depois ele sai logo a seguir…”

“Ouça, eu não ligo importância a esses documentos aprovados na Assembleia…Não me fale da Assembleia, isso é uma provocação… Poupe-me a esse espectáculo….”

“Isto da avaliação dos professores não é começar por lado nenhum. Eu já disse à Ministra uma vez «A senhora tem uma agenda errada”» Porque sem pôr disciplina na escola, não lhe interessa os professores. Quer grandes professores? Eu também, agora, para quê? Chegam lá os meninos fazem o que lhes dá na cabeça, insultam, batem, partem a carteira e não acontece coisa nenhuma. Vale a pena ter lá o grande professor? Ele não está para aturar aquilo… Portanto tem que haver uma agenda para a Educação. Eu sou contra a autonomia das escolas. Isso é descentralizar a «bandalheira».”

“Há dias circulava na Internet uma noticía sobre um atleta olímpico que andou numa “nova oportunidade” uns meses, fez o 12ºano e agora vai seguir Medicina… Quer dizer, o homem andava aí distraído, disseram «meta-se nas novas oportunidades» e agora entra em Medicina… Bem, quando ele acabar o curso já eu não devo cá andar felizmente, mas quem vai apanhar esse atleta olímpico com este tipo de preparação… Quer dizer, isto é tudo uma trafulhice…”

“É preciso que alguém diga aos portugueses o caminho que este país está a levar. Um país que empobrece, que se torna cada vez mais desigual, em que as desigualdades não têm fundamento, a maior parte delas são desigualdades ilegítimas para não dizer mais, numa sociedade onde uns empobrecem sem justificação e outros se tornam multi-milionários sem justificação, é um caldo de cultura que pode acabar muito mal. Eu receio mesmo que acabe.”

“Até há cerca de um ano eu pensava que íamos ficar irremediavelmente mais pobres, mas aqui quentinhos, pacifícos, amiguinhos, a passar a mão uns pelos outros… Começo a pensar que vamos empobrecer, mas com barulho… Hoje, acrescento-lhe só o «muito». Digo-lhe que a gente vai empobrecer, provavelmente com muito barulho… Eu achava que não havia «barulho», depois achava que ia haver «barulho», e agora acho que vai haver «muito barulho». Os portugueses que interpretem o que quiserem…”

“Quando sobe a linha de desenvolvimento da União Europeia sobe a linha de Portugal. Por conseguinte quando os Governos dizem que estão a fazer coisas e que a economia está a responder, é mentira! Portanto, nós na conjuntura de médio prazo e curto prazo não fazemos coisa nenhuma. Os governos não fazem nada que seja útil ou que seja excessivamente útil. É só conversa e portanto, não acreditem… No longo prazo, também não fizemos nada para o resolver e esta é que é a angústia da economia portuguesa.”

“Tudo se resume a sacar dinheiro de qualquer sitío. Esta inter-penetração do político com o económico, das empresas que vão buscar os políticos, dos políticos que vão buscar as empresas… Isto não é um problema de regras, é um problema das pessoas em si… Porque é que se vai buscar políticos para as empresas? É o sistema, é a (des)educação que a gente tem para a vida política… Um político é um político. E um empresário é um empresário. E não deve haver confusões entre uma coisa e outra. Cada um no seu sítio. Esta coisa de ser político, depois ministro, depois sai, vai para ali, tira-se de acolá, volta-se para ministro…é tudo uma sujeira que não dá saúde nenhuma à sociedade.”

“Este país não vai de habilidades nem de espectáculos. Este país vai de seriedade. Enquanto tivermos ministros a verificar preços e a distribuir computadores, eles não são ministros! Eles não são pagos nem escolhidos para isso! Eles têm outras competências e têm que perceber quais os grandes problemas do país!”

“Se aparece aqui uma pessoa para falar verdade, os vossos comentadores dizem «este tipo é chato, é pessimista»…. Se vem aqui outro trafulha a dizer umas aldrabices fica tudo satisfeito… Vocês têm que arranjar um programa onde as pessoas venham à vontade, sem estarem a ser pressionadas, sossegadamente dizer aquilo que pensam. E os portugueses se quiserem ouvir, ouvem. E eles vão ouvir, porque no dia em que começarem a ouvir gente séria e que não diz aldrabices, param para ouvir. O Português está farto de ser enganado!
Todos os dias tem a sensação que é enganado!”

Comments

  1. Afinal, Portugal tem um homem lúcido.

  2. Luis Moreira says:

    Lúcidos há mais o que não há é homens independentes dos favores do Estado.Cá , de uma maneira ou outra, todos dependem do Estado e quem mija fora do penico está tramado.As grandes empresas, gabinetes de assessoria, de advogados está tudo à mama .Veja os empresários, só o Belmiro e o José Neto têm coragem de protestar.O resto amocha!

  3. M. Abrantes says:

    O Medina Carreira não vive em Bragança. Puta que pariu os tios da capital.

  4. Ricardo Santos Pinto says:

    Nisso tem razão, M. Abrantes. E mais haveria a dizer sobre o Medina Carreira nesse sentido.

  5. José dos Figos says:

    Vocês dizem mal do Sócrates e mando-vos prender, vejam lá se se portam com juizinho

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