Medicamentos. O cordeiro e o lobo

Vou dar um exemplo que se passa comigo. Por ser hipertenso tomo um comprimido diário. Quando exerci funções no Ministério da Saúde estas questões já se colocavam o que me levou a fazer um pequeno estudo. Que medicamentos existiam no mercado com o mesmo principio activo e qual o seu preço? O que eu tomava custava-me cerca de 70 euros(14 contos na moeda de então) e eu sabia que era o mais caro. O médico tinha-me avisado que os outros não tinham o mesmo efeito e que por isso eram mais baratos. O preço do mais barato era cerca de metade (7 contos)!  A questão óbvia que se colocava era: um deles estava a enganar-me. Ou o mais caro não devia ser tão caro ou o mais barato não teria o efeito desejado. Mas se não tinha o mesmo efeito que o mais caro como poderia ser comercializado?
Claro que os genéricos vieram tornar os medicamentos mais baratos.N ão é só a patente que caíu no domínio público mas é também o processo de produção que é mais barato.
Tudo isto que já era óbvio naquela altura, até porque nos países com capacidade de negociação já haviam imposto os genéricos há muito, em Portugal demorou este tempo todo. O que mudou? Antes de mais a impossibilidade do país suportar estes aumentos anuais com medicamentos. Depois porque os médicos andavam em roda livre e prescreviam conforme o interesse das farmacêuticas. E, ainda (e não menos importante) porque a comercialização nas farmácias era e ainda é, altamente protegida não permitindo a sã concorrência.
Acresce que a ANF (do sr Cordeiro cuja família por concurso tem quatro farmácias,segundo o próprio) consolidou o seu monopólio, enquanto único interlocutor com o Estado, e investiu na distribuição dos genéricos!
Foi quanto bastou para que o interesse do preço do medicamento se tornasse uma preocupação social!
E num mercado onde só havia lobos querem agora convercer-nos que só há cordeiros!
A bem do doente como não se cansam todos de dizer!

Comments

  1. Os medicamentos são um dos melhores negócios e dos mais rentáveis. Melhor, talvez só mesmo o sector da alimentação, mas neste a concorrência existe em larga escala. No sector farmacêutico em todo o mundo mas sobretudo em Portugal, o conceito de concorrência é quase ausente. Acontece que os opções de prescrição dos médicos também não são tão claras assim, desprezando, muitas vezes, os genéricos. No fundo, este é um daqueles casos em que se pode dizer que quem se lixa é o mexilhão.

  2. Luis Moreira says:

    Mas a política do medicamento está muito para além dos genéricos.Desde logo na não liberalização das farmácias e correspondente concorrência.Depois nas farmácias hospitalares e de instituições sociais que estão proíbidas de fornecer os seus próprios doentes em ambulatório. E a prescrição por quantidade.Todos nós temos medicamentos em casa que pagamos e foram deitados ao lixo.Precisamos de 10 comprimidos e o menos que nos vendem são 30!Mas estes cordeiros que estão tão preocupados com o cliente não falam disso. Esta é só uma guerra de milhões, não tem sequer credibilidade para perdermos tempo com ela.Há só que a desmitificar.

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