FREEPORTGATE

Como se nada fosse, o povo Português assiste impávido e sereno à novela do caso Freeport.
Pelo que se vai sabendo, ou pelo que se julga que se sabe, estamos a falar de suborno, de dinheiro que alguém pagou e outro(s) alguém recebeu para que se licenciasse uma obra que não o deveria ter sido.

Pelo que se vai sabendo, ou pelo que se fala, estamos a falar de leis e de direitos que alguém, porque possivelmente recebeu dinheiro que não poderia nem deveria ter recebido (fala-se em quatro milhões de euros, pagos aos bocadinhos para não dar nas vistas), esqueceu e das quais fez tábua raza, para que outro alguém pudesse ganhar milhões de euros de mais valias e de lucros indevidos.

Pelo que se vai sabendo, ou pelo que se diz à boca cheia, estamos a falar do envolvimento de um membro do governo, ministro à altura dos acontecimentos e Primeiro ministro na actualidade.

Ninguém sabe ao certo, porque ninguém nos diz, e também porque ninguém se acusa, se é verdadeiro esse envolvimento. Mas aos poucos vai-se adensando a nuvem que cobre este nosso governante, que cada vez mais se mostra revoltado com a situação. Mas o homem é perito em mudar o nome e as cores das coisas e das situações. E a história do menino pastor e do lobo, todos a conhecemos.

O que mais me confunde, é a passividade do povo do meu País. Noutra altura qualquer, ou com outro qualquer personagem, já os meus concidadãos tinham saído para a rua, exigindo saber a verdade, ou a demissão do governante enquanto não se apurasse tudo direitinho. Com este, nada se ouve. Com este tudo se cala. Com este tudo e todos se dobram. Que terá ele dado ao povo? Noutras circunstâncias e noutros contextos dir-se-ia que lhe tinha dado água de c. lavado.

Agora até já se fala na possibilidade de arquivamento do caso Freeport. Fala-se de pressões sobre os magistrados que estão com o caso. O presidente do sindicato dos magistrados do ministério público pede uma audiencia de urgência com o Presidente da República. Que poderá sair daí?

Todo este caso cheira mal, e a campanha dita negra, só o é se se revelar que tudo é uma mentira. Até lá não há campanha de cor alguma, seja ela branca, cinzenta ou negra.

Tudo isto é um espelho do nosso País.

Tudo isto me dá vomição.

(In O Primeiro de Janeiro, 09-04-2009)

Comments

  1. Ora aqui um texto que lança muitas questões, deixa entrever algumas possíveis respostas e uma ou outra dúvida em redor do ‘homo lusitanus’. É coisa para outra oportunidade. Por entre as muitas razões deste drama, aqui vai uma: os portugueses gostam de um chefe. Se for dos mandões tanto melhor, até porque já nos habituamos a isso, ao longo de gerações.

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