A Turquia

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A propósito da visita do Presidente da República à Turquia vou ressuscitar uma posta que coloquei em tempos na blogosfera sobre a pátria de Ataturk – foi a 14 de Maio de 2007 e como resposta a um Amigo. Por acaso desconheço a posição do nosso PR sobre a matéria. Aliás, desde a sua célebre declaração aos portugueses sobre o Estatuto dos Açores pouco sei das suas opiniões sobre o que quer que seja.

Meu caro Amigo,

As últimas eleições francesas foram disputadas por dois candidatos, Segolenè Royal e Nicolas Sarkosy. A primeira representava a esquerda francesa e o segundo, a direita. Isto em termos muito simplistas pois, como bem sabes, Segolenè não representava assim tanto a esquerda socialista tradicionalista (que a detesta, profundamente, por a considerar demasiadamente liberal) nem Sarkosy representa certas franjas mais moderadas da direita francesa. Era o que tinham e a mais não estavam obrigados.

O Povo francês, de forma esmagadora, decidiu votar e com o seu voto fez uma escolha clara: Sarkosy. Como já escrevi antes, espero que não se arrependa. Entendo o voto francês: a insegurança que se vive nas grandes cidades francesas (que eu próprio sou testemunha no caso de Paris ou Marselha); o “papão” Europa provocado por aqueles que não querem respeitar o “Não” francês à Constituição Europeia e o desemprego crescente dos licenciados (lá como cá), sem esquecer alguma intolerância religiosa da comunidade Árabe residente em França. A tudo isto se soma a intranquilidade provocada por uma certa esquerda radical que não sabe respeitar a vontade da maioria – como, aliás, se viu posteriormente. Foi um voto profundamente “nacional”. O que se entende.

Contudo, desconfio muito das intenções de Sarkosy. Desde logo, porque entendo que violência gera mais violência e não resolve problemas de segurança. Temo que se resvale da “força da autoridade” para a prática do “autoritarismo”. A seguir, não esqueço que Nicolas Sarkosy não nasceu ontem, esteve no governo francês nestes últimos anos – mais dedicado a cimentar uma posição forte como candidato da inevitabilidade do que a governar. Mas, mais grave, considero perigoso (no mínimo) a sua posição face a uma integração da Turquia na UE. Como bem sabes, Sarko, é completamente contra. O que, a meu ver, é uma estupidez e um erro trágico para a segurança da Europa e do Mundo.

Não sendo um “turcófilo”, como se afirma Pacheco Pereira num lúcido artigo de opinião do Público (Sábado, 12 de Maio), considero a Turquia como um país europeu. Mais, é fundamental para a Turquia e para todos nós, um forte apoio da Europa aos enormes movimentos “pró-europa” existentes nas classes intelectuais e nas elites turcas. Os povos Árabes sofrem às mãos de tiranos sem escrúpulos, refugiam-se no verdadeiro ópio do povo que é o fundamentalismo religioso (todo ele, seja qual for a crença) e vivem desgraçadamente – experimentem visitar um qualquer país árabe, mesmo aqueles aqui ao pé da porta como o Magrebe e facilmente compreendem esta minha afirmação, basta olhar-lhes nos olhos. Os povos Árabes só se vão libertar deste ofensivo colete-de-forças quando, tal como nós, tiverem acesso a liberdade de expressão. Quando conseguírem ter aquilo que nós temos e que nem sempre sabemos valorizar. Ora, a Turquia, não é apenas uma das portas da Europa, é também uma importante porta na Ásia e nos países Muçulmanos. Com o desenvolvimento económico que uma entrada na UE acarreta (como connosco antes e agora nos países do leste), a Turquia seria um motor de desenvolvimento e uma alavanca democrática para todo o Mundo Muçulmano. Sabes porquê, meu caro PJ, porque todos nós, queremos o melhor para os nossos filhos e os Árabes (como antes os Russos, pegando numa célebre canção de Sting) também amam os seus filhos.
É esta a tragédia de uma certa direita quando na mão dos “Sarkos” deste Mundo.

Pode ser que eu esteja enganado. Deus queira.

Julgo que, agora, percebes melhor as minhas profundas reticências e até alguma rejeição a Sarkosy. A mesma que tenho para com certas franjas da nossa direita, agora entretidas com a “perseguição” aos estrangeiros que querem vir trabalhar para Portugal (cuja resposta dos Gatos Fedorentos foi absolutamente genial), que não entendem a importância desta força de trabalho e acréscimo cultural. Não entendem hoje, como ontem e nunca entenderão. É preciso conhecer Mundo, compreender a natureza humana e não confundir casos de polícia com problemas de segurança (que sempre existiram). Como não entenderam (nem reconhecem) a importância “dos de fora” na nossa epopeia dos descobrimentos – o período mais áureo da nossa história. Coincidência? Não me parece.

Comments

  1. Desculpem mas não sei fazer aquela coisa do: (mais…).

  2. Antes de mais é sempre bom ver, o PR como um vulgar director comercial à frente dos delegados comerciais que acompanha. Fica bem vincando o intuito estritamente comercial destes périplos pelo estrangeiro. Eu sou a favor da inclusão da Turquia na UE. E do Cazaquistão, do Turquemenistão, do Quirguistão e do Afeganistão, isto só para resolver alguns problemas relacionados com a ameaça terrorista que paira sobre a Europa. A inclusão da Abecássia também poderia por algum travão ao crescente autoritarismo russo. Para terminar, A UE deveria reconhecer e incluir o Estado Palestiniano e resolveria um dos maiores problemas de instabilidade mundial. Pode ser que os Gatos Fedorentos aproveitem para fazer um sketch com este mapa geopolítico mundial. Porque, afinal o que é um país europeu? Porque, afinal a Europa acabará mesmo nos Montes Urais? Porque, afinal o que é a Europa? Eu fico sempre na dúvida se será “a união faz a força”, ou se será apenas mais uma arma de arremesso americana. Ainda ando a descobrir…

  3. Certo, a Eurásia. É um caminho. Quiça, o caminho do futuro.

  4. Luis Moreira says:

    Nem pensar!Acaba na Turquia e é porque pode ser a ponte para o diálogo com os países muçulmanos moderados. A Rússia e os países “asiáticos” devem tambem avançar para uma “União Soviética”.O futuro joga-se ao nível de continentes e o pior será “encurralar” a Rússia!

  5. Ter a Rússia na UE não é para a “encurralar”, antes pelo contrário. Sempre que a Europa a ignorou teve problemas e quem mais sofreu foi o povo russo e todos nós por tabela.

  6. Luis Moreira says:

    Mas a Rússia é um líder e nunca deixará de o ser.Não entrará nunca na UE! Aqueles países e povos são demasiado diferentes de nós.Tenho mesmo dúvidas que a organização política deles alguma vez seja uma democracia tal qual a conhecemos.

  7. Resolvidos alguns “detalhes” de grande importância, não vejo porque não poderá entrar a Turquia na UE. É um país demasiado importante, do ponto de vista económico, social e político-estratégico para ficar à margem de uma UE que se queira levar a sério. Não é só a França que não quer a Turquia. A Alemanha também não, além do ‘grupo dos Cristãos’.Quanto a Sarkozy, dois anos depois, começamos já a ficar fartos. Nós e os franceses.

  8. Nos anos 80 ninguém acreditava que a Rússia (a URSS para ser mais preciso) mudaria como mudou. Bastou cair o muro. É o que falta fazer, derrubar o novo muro. Martelada a martelada lá se chegará e uma delas chama-se Turquia. A outra já está em parte: os países de Leste na UE.

  9. Caro Zé, quando escrevi esta posta em 2007 fui apelidado de “perigoso bloquista” pelos meus amigos de direita e tu bem sabes que é insulto parecido com chamarem-me lampião, ehehehe. Agora alguns deles também estão fartos do Sarko. Nem com a Carla lá vai, ehehehehe.

  10. Breve pausa:Ó Luís Moreira, fiz-te a vontade e larguei o tema FCP, eheheheeheh.Mas continuo a achar que isto ficava melhor de Azul e Branco com um Dragão a cuspir a palavra AVENTAR a fogo, eheheheh.

  11. Luis Moreira says:

    Fernando, com o Dragão a cuspir a a palavra aventar já é outra coisa, é mesmo capaz de ser uma grande ideia. Quanto à Turquia tambem sou a favor pela razão apontada.Muito do que se vai passar com os países moderados muçulmanos passa pela Turquia.A UE com 400 milhões de habitantes já tem massa crítica suficiente e com a Turquia fica com uma grande dimensão economica,cultural e política.Não me parece que alguem queira que a Rússia e os países “asiáticos” se juntem à UE!A diferença é de tal ordem que seria ingovernável.Isso vê-se nas ruas de Moscovo e noutras cidades, são culturas e escolas políticas diferentes.

  12. Se estiveres a escrever o texto em modo HTML, é só pores o cursor no sítio onde queres cortar e clicares em «more».

  13. miguel dias says:

    Gostei muito deste post. bem melhor que as cuspidelas de dragão.Quanto ao conteúdo só não concordo com a inclusão da rússia. primeiro porque os próprios não o querem e depois sempre que se tentou ocidentalizar deu merda. foi assim com o comunismo um projecto ocidental que stalin se encarregou de russificar e com o liberalismo democrático que após a queda do muro provocou o descalabro e ruína daquela sociedade e que putin se encarregou de meter na gaveta, com óptimos resultados diga-se. é uma ilusão pensar-se que a democracia é exportável, vide o caso do iraque. e não pensem que vem muito mal ao mundo por causa disso, bem pelo contrário. há pessoal que simplesmente não quer ser democrata.

  14. Obrigado r. Vou ver se não me esqueço.Caro Miguel, até aceito que assim possa ser no caso da Rússia. Mas essa do Putin…um tiranete de primeira apanha. A Democracia, como se viu em Portugal e noutras paragens é um excelente produto de exportação. Só não é consumível da mesma forma e com a mesma rapidez em todo lado. Mas é inevitável.PS: Não há nada melhor que as cuspidelas de Dragão. São quentes e boas, ehehehe.

  15. miguel dias says:

    Inevitável. isso julgas tu, erradamente digo eu. wishfull thiking. tenta lá democratizar o iraque, o afeganistão, o irão, a arábia saudita, a jordània e o egipto, a china, ou a rússia, e vê o sarilho em que te metes. A democracia, e sem qualquer tipo de relativismo, é apenas um sistema político entre muitos outros. e que aliás não traz por si só prosperidade nórdica aos quatro cantos do mundo, bem pelo contrário pode ser altamente precioso para a segurança do mundo e riqueza dos povos. a invasão do iraque bem o prova, provocou o caos e a matança como nunca o saudoso saddam ousara perpertrar. e inflamou o sarilho do terrorismo que tinhamos entre mãos

  16. Luis Moreira says:

    Não sei se quando falamos em democracia se estamos todos a falar na mesma coisa, mas tenho para mim que na Rússia nunca teremos um homem/um voto, como tambem não temos nos USA!Isso não implica que não seja representativa .

  17. Adalberto Mar says:

    eu estou farto de me rir..um amigo meu gay enviou-me um link, pois lê o nosso blog e diz que está farto desta polémica e disse que o que o Durão Barroso tem medo ., é de que a Turquia entre na Europa…e… é por causa disto (o que eu me ri ja hoje que caraças..eles vão inventá-las às profundas dos infernos!!) DIZ ELE, ESTE É O MEDO DA EUROPA PELA TURQUIA: http://www.hairyturks.com …o luis que se cuide!!!

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