TEXTO RECEBIDO DA ASSOCIAÇÃO ATEISTA PORTUGUESA

Prezado consócio:

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) está indignada com a forma como a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) se infiltrou no aparelho de Estado e conseguiu privilégios intoleráveis num Estado de Direito e indignos de um país laico.

A chantagem que a Igreja exerce sobre o Governo é da sua natureza, mas a capitulação do Estado é uma indignidade. Os bispos rejubilam com o acordo a que chegaram sobre a assistência religiosa.

Durante a ditadura salazarista havia assistência religiosa nos hospitais e nas forças armadas, agora foi alargada às forças de segurança. Só ficaram de fora os polícias municipais e os bombeiros. Um indivíduo com farda, um simples porteiro de cabaré, arrisca-se a ser borrifado com o hissope, na sequência do acordo sobre assistência religiosa assinado com o Estado Português.

O País paga à peça. A assistência passa a ser uma espécie de prestação de serviços ao Estado, sendo pagos segundo a tabela em vigor e tendo em conta o número de pessoas assistidas. Assim, se um bispo rezar pelas Forças Armadas e de Segurança, teremos de pagar dezenas de milhares de actos pios. Resta saber se um presidiário que se confesse a prestações, 10 vezes por dia, custa 10 vezes mais do que outro que pede a remissão dos pecados a pronto. Tudo isto sem taxa moderadora.

Há uma frase que me deixa perplexo, no telegrama da Lusa, referido no DN: «Um dos aspectos que ressaltou diz respeito ao artigo 16.º. Desta forma, quando um casamento for declarado nulo perante a Igreja, o Estado terá de o reconhecer». Fica a dúvida se esse «O» é pronome pessoal ou demonstrativo. Não sei, se em caso de anulação de um casamento pela Igreja – embora caro e difícil – o Estado tem de «O» reconhecer (a «ele», casamento, ou a «isso», anulação).

Como me parece uma monstruosidade a integração do direito canónico no ordenamento jurídico português, penso que é um pronome pessoal, mas tudo é possível de uma Igreja que pôs o PR e o presidente da AR a fazerem parte de uma comissão de honra da canonização de D. Nuno. Quando a ICAR obtém a conivência de Cavaco e Jaime Gama para o reconhecimento da cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo de fritar peixe, por intercessão do espectro de D. Nuno, Portugal deixa de ser um país e torna-se um pântano de água benta.

Caro Consócio, enquanto não averiguo se o tal «O» é pronome pessoal ou demonstrativo, chamo a sua atenção para a regulamentação de matérias como o património da Igreja, a fiscalidade e o ensino da moral e da religião católica cujo acordo temo para breve. Aguardo os seus comentários e sugestões.

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) não deixará de denunciar e repudiar esta escalada beata e os atropelos cometidos contra a laicidade, na proximidade das eleições e no período de férias.

Saudações ateístas e votos de boas férias
Odivelas, 28 de Setembro de 2009
Carlos Esperança TM – 917322645

Comments

  1. Nuno Castelo Branco says:

    Estou muito à vontade para criticar, pois apenas sou baptizado e sei o Pai Nosso e a Avé Maria, por uma questão de educação. O mesmo não poderão dizer muitos “ateístas” que se crismaram e sei lá eu o que mais. A verdade é que este tipo de fanatismo ateísta não passa de uma outra forma de religião, na boa senda da ridícula paródia do Ente Supremo pós-1789. Os antecessores desta dita AAP, fizeram a escabrosa 1ª república, que deu no que se sabe: padres sovados, património roubado e queimado, profunda clivagem social e pior que tudo, a Igreja deixou de depender do estado, passando a nomear bispos ultramontanos a seu bel-prazer. Enfim, o conhecido “tiro no pé”.Como diz muito bem Fátima Bonifácio – insuspeita de direitismo – a Europa só o é se for cristã. A grande diferença entre nós verifica-se num ponto essencial: não sendo crente, sei que a Europa tem a sociedade de liberdadesque prezamos, DEVIDO á essa por vós negregada herança cristã-católica-protestante. Os senhores, pelo contrário, acham que atingimos estes estádio APESAR dessa dita herança. Um erro crasso que abre as portas à própria dissolução da nossa identidade, coisa a que me recuso totalmente em condescender. Em suma, esse ateísmo militante que segue à tona do comunismo e do nacional-socialismo que de facto o propalaram, nãos serve aos nossos interesses, isto é, a uma sociedade civil – como se costuma dizer – ainda muito incipiente e em fase de consolidação.Uma nova guerra religiosa a propósito de patetices de antanho e sucedânea de uma propaganda tão incessante como estupidamente mentirosa em termos históricos, torna-se numa insignificância, logo, numa excrescência.É totalmente inócua a atribuição de lugares no protocolo do Estado à Igreja católica que aliás, é sem dúvida uma das criadoras do mesmo já há mais de oito séculos. Torna-se ainda risível, a constante ânsia em agradar a “confissões marginais” como os islamitas, os encantadores de serpentes, adoradores de cabritos do mato, seguidores de Rê, etc, etc. para essas curiosidades, os AAP’s não tugem nem mugem, porque no fundo acham que se trata …”exactamente da mesma coisa e ao mesmo nível”… Pois estão errados. Curem-se e dediquem-se a causas mais úteis, por amor da santa!

  2. Nuno Castelo Branco says:

    Perdoem-me as frequentes gralhas no comentário mais acima. Nunca corrijo textos e assim, arrisco-me…

  3. Luis Moreira says:

    O texto está datado de 28 de Setembro de 2009 ? Isto é algum milagre?

  4. isac says:

    Um ateu tem de acreditar em Deus, porque Deus é ateu!

  5. Á parte algumas considerações inúteis (baptismos, crismas e quejandos, adoradores de serpentes e do demo) revejo-me no que de fundamental o Castelo Branco, o nosso monárquico de serviço, aqui aduz. Mas há um ponto que é perfeitamente inútil para o autor deste post, a história do devido e do apesar, pois que o postador se trata sem dúvida de um homem do apesar. Sendo eu ateu não militante, nesta histórias dos devidos e apesares quando muito serei do talvez sim ou talvez não, (quem sabe?). O facto é que sei que d (D)eus existe, afinal de quem estamos a falar?Quanto ao teor do texto tudo se resume a questões fiscais (pertinentes sem dúvida) e protocolo (irrelevantes portanto).

  6. Luis Moreira says:

    Miguel, bateste no ponto. Acho que há grande confusão de conceitos. Está aí um poste para amanhã, mas acreditar ou não em Deus tem pouco a ver com a hierarquia religiosa, embora tenha muito,claro…não vá o diabo tecê-las…)

  7. Pois é, fui grosseiro, como já é costume, mas tenho a mania de apimentar um pouco a língua, para animar a discussão. Não levem a mal. Mas na verdade, ainda perdermos tempo a discutir as visões do sr. faraó Akhenaton que conseguiu a proeza de ser o pai das três religiões monoteístas, não lembra ao diabo. Ei!, será que também existe, esse mafarrico?O protocolo faz parte, ou melhor, é a liturgia do Estado, resumindo séculos de história, da qual aliás poucos se apercebem. Assim, continuo a acreditar que o facto de o cardeal-patriarca ser convidados para as grandes cerimónias, não quer dizer que o Estado tenha de rastejar até Fátima, caramba! Mas há que “ser esperto” e não andar por aí a dizer que os engolidores de espadas, os faquires ou os “meninos de Deus” são exactamente a mesma coisa que a igreja católica. É um erro crasso, porque desnecessário e evidente.

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