A esquerda anti-democrática aos sábados, domingos e feriados, descansam o resto da semana

O episódio do periódico Sábado, que resolveu tirar de um denominado blog de esquerda as pessoas de esquerda que lá andavam, não me parece ter nada de inovador. Nem será tão grave como isso. Bem vistas as coisas é de esquerda quem quer, e de direita quem o invoca.  Sócrates descobriu-se agora de esquerda, o que além de algumas gargalhadas faz parte do seu legítimo direito à liberdade de expressão.

Já quanto ao ser-se democrata a conversa é outra.

Normalmente para encontrar um representante da “esquerda autoritária” procura-se um daqueles rapazes sempre ávidos em defender o capitalismo chinês ou o feudalismo norte-coreano.  Pelos lados do tal sábado encontraram Tomás Vasques, paladino nacional da causa pinochelitizadora nas Honduras:

Hoje chegou a notícia de um «golpe de Estado» nas Honduras, acontecimento «pouco apropriado» nos dias que correm, apesar das tradições latino-americanas. Os militares foram ao palácio presidencial e levaram o presidente, Manuel Zelaya, eleito em 2005, pelo Partido Liberal, depositando-o, literalmente, na vizinha Costa Rica. Mas estas «histórias» nunca são lineares. Manuel Zelaya termina o seu mandato este ano e a Constituição hondurenha não lhe permite a reeleição. Mas ele não estava de acordo com a Constituição. Estorvava-lhe o projecto de poder pessoal. E tentou, contra o partido pelo qual foi eleito, contra o Congresso, eleito democraticamente, e contra o Tribunal Constitucional, um «golpe de Estado» à Chávez, com o qual começou a ter estreitas relações desde 2007, e que o inspirou a realizar um referendo que o perpetuasse no poder. Em boa verdade, os militares hondurenhos, hoje, ao contrário do que escrevem os jornais, foram protagonistas de um «contra-golpe» e não de um «golpe de Estado». A via chavista para a ditadura nem sempre funciona.

O facto de tudo isto ser completamente mentira, e desmascarado como tal por toda a comunidade internacional (pelo menos em palavras, que em actos não é bem assim), não tem importância nenhuma. Se Chavez está dum lado, o Vasques está do outro. Está deste lado:

Pedro Magdiel Muñoz Salvador, hondurenho torturado e assassinado pelos golpistas.

Pedro Magdiel Muñoz Salvador, hondurenho torturado e assassinado pelos golpistas.

E fica a matar, no tal blog de esquerda.

Comments

  1. Adão Cruz says:

    UM ABRAÇO CARO JOÃO CARDOSO POR ESTA INTELIGENTE E PEDAGÓGICA INTERVENÇÃO.

  2. Luis Moreira says:

    É isso João, os militares defenderam e cumpriram a constituição democraticamente em vigor!

  3. Um post potente, bem construído. Mas há ainda muito a explicar neste processo hondurenho.

  4. […] sei se é da juventude, ou da ignorância, ou provavelmente da sua natureza, mas TV esquece que existiu durante muitos governos desta República, presididos por Mário […]

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