A formidável derrota de Maria de Lurdes Rodrigues: Balanço de um mandato (2005)

No final de um longo mandato de 4 anos, é hora de fazer o balanço de Maria de Lurdes Rodrigues como Ministra da Educação.
Dividirei este balanço em cinco «posts», escritos através de uma leitura atenta da Bíblia dos Professores, «A Educação do Meu Umbigo», do Paulo Guinote, e através da minha visão pessoal dos acontecimentos.
Irei procurar caracterizar aquela que foi, na minha opinião, uma formidável derrota da mais duradoura titular da pasta da Educação em Portugal no pós-25 de Abril. Maria de Lurdes Rodrigues deixa uma classe de professores unida como nunca esteve e admiravelmente preparada para lutar pelos seus direitos; e deixa milhares de alunos muitíssimo mal preparados para o futuro que é, afinal, o futuro de Portugal. Mais mal preparados do que alguma vez estiveram, apesar das estatísticas – a única preocupação da Ministra ao longo de quatro anos – dizerem exactamente o contrário.
Uma Ministra que tomou posse em 12 de Março de 2005. Uma antiga professora primária, que fez o curso do Magistério Primário como forma de acesso à função pública. Omitindo estes factos, o «curriculum» oficial revelava-nos uma socióloga formada no ISCTE e cuja experiência profissional nos vinte anos anteriores se resumia a muita teoria – projectos de investigação, representações em grupos do Eurostat e da OCDE, liderança do Observatório das Ciências. Em termos de prática, leccionou no ISCTE e pouco mais.

Referi antes que a preocupação com as Estatísticas comandou o mandato de Maria de Lurdes Rodrigues. Aliás, já em finais de 2005,
Paulo Guinote insurgia-se contra essa verdadeira obsessão que dominava a Educação em Portugal. Ou queremos um sucesso educativo estatístico, mesmo que à custa de uma galopante iliteracia funcional, e então está certo continuar a soterrar em papelada a questão da avaliação dos alunos e a acusar os docentes de serem os culpados de não conseguirem encontrar a solução para o insucesso dos alunos, ou queremos uma sucesso educativo efectivo, só possível com o aumento do rigor, do esforço e do grau de exigência colocado a TODOS os agentes no processo educativo (alunos, docentes, famílias e poder político), recuperando a Escola como um local de trabalho e fruição e o Professor como alguém que não é um mero gatilho da aprendizagem mas um guia dessa aprendizagem, qualificado para o efeito e digno do respeito dos seus alunos, dos seus pares profissionais, das famílias e da sociedade.Mas para isso era necessário reformar a Educação a sério e não limitar a intervenção à cosmética legislativa do costume

As aulas de substituição estavam então na ordem do dia. Aulas de substituição que foram implementadas, relembre-se, a meio do 1.º Período, já com o ano lectivo a funcionar em pleno. De repente, tiveram de ser feitos, em cada escola, novos horários para os professores, mexendo, em consequência, com os horários das próprias turmas. Não foi dado tempo às escolas para se prepararem, não foi anunciado que no ano seguinte iriam começar as aulas de substituição – não, tinha de ser de imediato porque a estratégia junto da opinião púbica era mesmo essa.
Paulo Guinote ainda admitia que tanto pode correr mal como bem, mas desde cedo se notou que tudo não passava de uma encenação e de uma palhaçada que tinha como único objectivo manter os alunos enclausurados dentro de uma sala de aula durante todo o tempo que estavam na escola. Era assim na altura e continua a ser assim agora, mesmo que o assunto tenha deixado de ser notícia. As horas que são gastas de forma estapafúrdia podiam ser aproveitadas em horas de apoio para os alunos com dificuldades, mas a Ministra da Educação pensará que é melhor que os alunos nada façam durante 90 minutos desde que ninguém os veja no recreio.
Como já escrevi aqui, os alunos que se esforçam, mas não conseguem, é que deviam ser apoiados com aulas de recuperação constantes às disciplinas em que têm dificuldades, em vez da fantochada que, hoje em dia, continuam a ser as aulas de substituição.
É tempo perdido para os alunos, que nada aprendem enquanto estão nessas aulas. O que vêem à sua frente é um professor que não conhecem, que não respeitam e que nada percebe daquela disciplina, mesmo que leve uma ficha de trabalho deixada pelo colega em falta. Admito aula de substituição no caso de ser leccionada por um professor da disciplina, nada mais, e apenas para o ensino básico.
Curiosamente, porque o professor tem de estar na escola um número determinado de horas, é colocado em aulas de substituição, ou então na Biblioteca, Sala de Estudo, etc.. Se está em aula de substituição e nenhum colega falta, fica na Sala de Professores, duas horas ou mais, sem fazer nada. Se vai para a Biblioteca, Sala de Estudo, etc.., nada tem para fazer, porque os alunos estão em aula ou em substituição, por isso não podem sair da sala. Não seria difícil aproveitar melhor o trabalho dos professores de forma a beneficiar também os alunos, sobretudo através de aulas de apoio individuais para todos os que precisassem.

(continua)

Comments

  1. deste discurso «gótico-educativo» podem vir I, II, II , mil… que eu nunca fico farto… abraço de parabéns..dalby

  2. FALTA ALGUÉM COM TOMATES FALAR DO CAOS E TERROR QUE REINA NA ESCOLA PUBLICA. OS ALUNOS NÃO SÃO SANTOS NEM INOCENTES. E TU, QUE SOFRESTE COM A SITUAÇÃO COMO NINGUÉM DEVES FAZÊ-LO!

  3. […] (continuação daqui) […]

  4. e continuam a fazer ouvidos moucos em todo o lado ..ninguém toca NO MONSTRO ‘ALUNO’!!!

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