Domingos Lopes sai do PCP

Domingos Lopes abandonou 40 anos de militância no PCP. É da natureza de classe dos seus dirigentes, funcionários afastados da realidade e do mundo do trabalho, vendidos à sua condição pequeno-burguesa de pequenos e sumo-sacerdotes  que os partidos estalinistas alimentam a sua fé.

Depois de deixar de ser funcionário, obtendo autonomia financeira e regressando ao mundo real, Domingos Lopes compreendeu finalmente que “o PCP continua a ser o único partido no mundo que mantém o apoio à invasão da Checoslováquia, em 1969, pelas tropas do Pacto de Varsóvia, ao golpe militar da Polónia que levou Jaruzelsky ao poder, à invasão do Afeganistão pelas tropas da URSS”.

Na sua carta de afastamento, hoje revelada pelo Público, constata igualmente que “a direcção do PCP considera, de acordo com o seu último congresso, que países como Coreia do Norte e China se orientam para o socialismo, quando o primeiro não passa de uma ditadura familiar brutal que abusivamente se apoderou do simbolismo do socialismo para o ridicularizar” e a China “emerge como uma ditadura do aparelho do partido e do aparelho militar com vista à implantação do capitalismo com o mínimo de sobressaltos sociais”.

Mais vale tarde do que nunca. Mas temos de convir, em particular no caso da brutal invasão da Checoslováquia, que a realidade tem muitos anos, a capacidade de a ver é que tardou em chegar.

Comments

  1. As pessoas têm o direito de mudar de ideias sem que sobre elas caiam os anátemas que PCP costuma lançar sobre os que saem. No entanto, não é bonito pessoas como Cândida Ventura, Zita Seabra e Domingos Lopes, que pertenceram ao comité central e, por certo, foram cúmplices de actos que, após a saída, condenam, virem prestar declarações públicas acusando o partido que resolveram abandonar. Sobretudo em período eleitoral. Nada tenho a ver com o PCP (nem nunca tive), mas ensinaram-me que é feio cuspir no prato onde acabámos de comer a sopa.

  2. Luis Moreira says:

    É assim mesmo, Carlos. parece que a notícia não é a saída deles é virem dizer que o PCP é o que sempre foi.

  3. Não acham um bocado estranho este timming?E as razões perfeitamente arqueológicas?continuo sem perceber o que é que o Partido Comunista PORTUGUÊS tem a ver com os desmandos políticos no leste…É que, por essa lógica, PS, PSD e CDS estariam implicados na ditadura de Pinochet e noutras…

  4. Tiago: o problema não é o que teve a ver. É o PCP continuar sem perceber, e pior do que isso acreditar que a Coreia do Norte e a China são experiências socialistas. Não deixando de ser verdade que as relações entre o PS e o soba de Angola, por exemplo, são na prática bem mais preocupantes.

  5. E da reacção de Jerónimo de Sousa ninguém diz nada? Estranho…

  6. Luis Moreira says:

    António, o que há a dizer? Alguem ainda se surpreende?

  7. Jerónimo de Sousa levantou uma questão filosófica: «Pode alguém sair dum sítio onde não está?». Querendo dizer que o Domingos Lopes já não estava no partido. Até pode ser verdade, mas todos conhecemos a perícia com que os partidos comunistas refazem o passado e o ajustam às conveniências do presente.

  8. António Luís Carvalho says:

    A maioria dos comentários sobre a saída do PCP de Domingos Lopes, é que só debitam um anti_comunismo primário. Existe uma vasta lista de dissidentes do Partido Comunista Português e no entanto o Partido continua vivo na sua luta diária contra as injustiças de que tem sido alvo pela oligarquia do meu País. O Partido Comunista Português, com os seus 81 anos de existência e desde que o conheço, sempre esteve ao lado dos mais desfavorecidos e a grande maoiria do povo português.

  9. António Luís Carvalho says:

    OBS: Quando disse que o Partido Comunista Português tinha 81 anos de idade, queria dizer que fará 89 anos de idade em 6 de Março. Foi o Partido que lutou contra o “Salazarismo” e que muitos dos membros foram assassinados pela escória da PIDE.

    • Luís Moreira says:

      António, ninguem esquece isso, mas em democracia é uma cabeça ,um voto!

  10. Carlos Loures says:

    António Luís Carvalho, o PCP tem a seu crédito ter sido a única organização que, desde que a ditadura se implantou até que foi derrubada, nunca deixou de a combater. Muitos dos melhores combatentes antifascistas saíram das fileiras do PCP e essa dívida. todos os que amamos a Democracia, têmo-la para com o seu partido. Porém, esse crédito não nos pode impedir de criticar o que entendemos estar errado na linha política do PCP (ou de qualquer outro partido). E sabe uma coisa, António, pior do que o anticomunismo primário, é o comunismo primário. Assumir cegamente uma ideologia, sem nunca a questionar, é uma atitude religiosa que quadra mal num militante político. O fanatismo é sempre negativo, seja numa religião, seja numa ideologia.

  11. António Carvalho says:

    Carlos Loures, tenho a dizer-lhe que dispenso as suas «lições moralistas» sobre a minha posição em relação ao Partido Comunista Português, a que aderi após a Revolução do 25 de Abril de 1974. Nunca assumi, não assumo e nunca assumirei cegamente a minha ideologia. E sabe porquê? Porque quando à conversa com amigos, sejam eles “brancos” “pretos” “amarelos” “vermelhos” ou de outra cor qualquer não os questiono sobre a sua (deles) opção política. E não é por isso que não deixo de ter a sua (deles) estima e respeito. Costumo até dizer que tenho “clube” e tenho “partido” e que esse partido é o PCP mas sem qualquer tipo de fanatismo o que, aliás, é contra os meus princípios. Quando o Carlos diz que “assumir cegamente uma ideologia, sem nunca a questionar, é uma atitude religiosa que quadra mal num militante político. O fanatismo é sempre negativo, seja numa religião, seja numa ideologia.” Tudo isso não passa de pura retórica. É claro que me questiono e bastantes vezes. E quem não tem dúvidas? Quanto ao fanatismo (vejo muito mas é nos estádios de futebol), religioso? Não tenho religião. Ideologia? Sou do PCP e sem fanatismo. Hoje, à entrada do Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) estavam vários activistas da Comissão Concelhia de Sintra do PCP a distribuir um comunicado aos utentes, o qual reivindica “MELHOR SAÚDE EM SINTRA”. Transcrevo excertos do Comunicado: “Com este objectivo o Grupo Parlamentar do PCP vai novamente apresentar para o PIDDAC do Orçamento de Estado de 2010, as seguintes propostas: Construção Hospital de Sintra. Esta proposta tem sido sucessivamente apresentada pelo Grupo Parlamentar do PCP. Construção Centro de Saúde de Queluz. Construção Centro de Saúde em Belas._ Construção Centro de Saúde de Agualva. _ Construção Centro de Saúde da Abrunheira. _ Construção Centro de Saúde de Sintra. _ Construção Centro da Rinchôa/Fitares. _ Construção Centro de Saúde da Tapada das Mercês”. E o comunicado termina assim: ” A divulgação destas propostas na qual participa o deputado à Assembleia da República, Bernardino Soares, insere-se na acção constante do PCP por melhores condições de saúde para as quais são essenciais a construção urgente destes equipamentos”. Fim de citação. A isto chama-se: estar em contacto no dia-a-dia com as populações e durante o ano de 2010 ( 365 dias ). É na acção que o PCP é diferente! Viva o Partido Comunista Português!

    • Luís Moreira says:

      António, meu caro, aproveitar para difundir o comunicado do PCP dá muita razão ao Carlos…

  12. António Carvalho says:

    Caro Luís Moreira, não sabia que era « Advogado de Defesa» do Carlos Loures Não lhe fica nada bem essa «delicadeza», porque estou convencido que o Carlos Loures não precisa de «Guarda Costas». Ao aproveitar para difundir o comunicado da Comissão Política do PCP de Sintra, foi a melhor prova de divulgar a acção do Partido Comunista Português, junto das populações durante todo o ano (365 dias!), ao contrário de «outros», que só aparecem quando há eleições. Disse.

  13. Carlos says:

    Já fui militante do PCP, mas não virei a casaca, continuo o votar no PCP.
    Claro que discordo de algumas posições, como a maioria dos comunistas, mas são pormenores, não questões ideológicas. Também me parece um bocado estranho o relacionamento do PCP com a China quando aqui à uns anos eram inimigos. Quanto à Coreia do Norte segundo as fontes ocidentais aquilo parece mais uma dinastia exótica. Se o PCP apoia estes regimes com certeza deve ter as suas razões e interesses que que nós não conhecemos. Às vezes nem tudo o que parece , é. Não são estes pormenores que justificam mudanças radicais de ideologia, outras coisas estão por trás. A ambição é uma delas, disputas pessoais, etc.
    As pessoas entram e saem, mas o Partido continua.

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