Apanhei algumas, deve haver mais, mas como não ganhei as eleições tenho de ir trabalhar. É a vida (como diz alguém mais abaixo).
Aritméticas:
Perdeu 8,5%. Perdeu 24 deputados. Perdeu, perdeu, perdeu. Poderá festejar, com legitimidade, já que foi o partido mais votado. Mas chamar a isto uma vitória extraordinária é que é uma coisa extraordinária. Basta dizer isto: José Sócrates teve um resultado pior do que Ferro Rodrigues, quando este perdeu as eleições acabado de chegar à liderança.
(…)
E nisso o BE pode queixar-se de algum azar: com mais 700 votos em Lisboa, Setúbal e Porto o BE elegeria 19 deputados, suficiente para a maioria e mais próximos da sua votação real. Mas é a vida.
Os resultados explicados ao povo:
o PS ganhou o campeonato à justa, na última jornada. o PSD desceu e não vai às competições europeias, BE e o CDS vão à Taça Europa e a CDU desceu de divisão
José Freitas, Aventar em versão chat
Lucidez, de esquerda:
O que nos deixa com a constatação habitual: o sistema político-partidário português não está divido entre direita e esquerda, mas entre direita, PS e esquerda «radical». A última está, por acordo tácito mútuo e nunca escrito, excluída do poder. (Tem a ver com o 25 de Novembro, como tentei explicar há uns tempos.) Mas isso significa que a esquerda, como um todo, fica coxa. Ou melhor, a divisão funcional não é, realmente, entre esquerda e direita. E não foi por mais de um milhão de eleitores ter votado à esquerda do PS que deixará de ser assim. E portanto, a política real, as decisões que realmente contam, continuarão a ser negociadas no pseudo-centro que não o é, ali entre o PS e a direita.
Nota a reter: como eu apontei, em campanha houve mais ataques da esquerda «radical» ao PS do que da esquerda «radical» à direita. E mais ataques do PS ao BE do que do PS ao CDS. O resultado está à vista, com uma subida do partido mais poupado às críticas, o CDS. Continuai assim. O bloqueio da esquerda portuguesa está para durar.
Ricardo Alves, Esquerda Republicana
Sai uma pastilha Godard para a mesa do canto que o cliente está com azia:
Ele, Louçã, devia ter aprendido com Godard, Jean-Luc, que, já agora, não sei se é um cineasta de cabeceira de Louçã como é meu (permita-se-me que o diga). O BE perde estas eleições. O BE fracassou, porque não impediu a direita dura de Portas de ficar em terceiro lugar, nem impediu Sócrates de cantar vitória.
Carlos Vidal, 5dias, sublinhado na fonte
Bem visto:
Mas nem tudo é mau para o BE. Note-se que, perante a actual composição do Parlamento, o BE não terá de ‘sujar’ as mãos nesta próxima legislatura, e não será acusado de ‘estar ao lado do PS’. Talvez não fosse aquilo que ambicionavam os líderes bloquistas, mas a médio/longo prazo terá talvez sido o melhor que poderia acontecer ao BE, que ganha tempo para crescer sem arriscar a perda do seu eleitorado de ‘ruptura’ e ‘protesto’.
Alexandre Homem Cristo, Aparelho de Estado do Expresso
Perde-se tudo menos a boa vontade:
Apesar do resultado, começo por dar os parabéns a Manuela Ferreira Leite. Há um ano, pegou num partido em estado comatoso, com uma liderança alienígena e sondagens à volta dos 20%, e trouxe-o até aqui. Contra tudo e contra todos, sendo tudo e todos um dos governos mais demagógicos da história da democracia portuguesa, uma comunicação social adversa e a permanente oposição interna, levou o PSD a ganhar as europeias e a discutir as legislativas palmo a palmo. Agora que se afiam as facas longas, fica a minha homenagem.
Chá das Cinco:
Em credibilidade distinguiram-se Medeiros Ferreira, Francisco José Viegas, Pedro Picoito e Eduardo Pitta, exemplos de inteligência, estilo e boa educação. Perdeu Fernanda Câncio, a prova de que o poder, se nem sempre corrompe, torna os seres humanos malcriados.
Há aqui coisas com que concordo, especialmente a de que o BE teve muita sorte, perante a situação real do país bem pode esperar para momentos mais felizes.