ALMA EM PENA QUE CONQUISTOU A SUA LIBERDADE

Se tivesse que falar em Aula, no dia de hoje, penso que diria: Meu Senhores, hoje, 5 de Outubro, é o aniversário da liberdade da opressão imposta ao país pela Monarquia governante, com o apoio de parte do seu Parlamento. Faz 99 anos que conquistámos a liberdade de opção que vivia sobre os nossos ombros desde 1139. As monarquias são uma forma de governo na que, para ter direitos, deve-se ser parte da corte ou ter posses suficientes para privar com o monarca, família e amigos. Se não privarmos com eles, não temos direitos. Por causa da falta desses direitos, é que um grupo largo de cidadãos de Portugal, rebelou-se, organizou-se em partido político e elegeu representantes para o Congresso, base do seu debate contra a tirania de pessoas de meios que se moviam na corte do monarca para obtenção de benefícios. Poucas eram as que tinham essa regalia real. Poucas, essas prebendas nascidas de louvar um monarca que se pensava absoluto e mandava como entendia, apesar da Constituição do Estado de 1820 e do Parlamento que tentava controlar e não conseguia. Cansados já de tanta tirania, um grupo de homens valentes, vários deles tímidos, organizaram um grupo político que intitularam Republicano para contrariar a vontade monárquica e a dos seus adeptos .
Seria isso o que eu diria na aula? Tenho definido ao detalhe em Aventares anteriores, o que representa o 5 de Outubro. A essas reflexões remeto as de hoje, mas sinto-me na obrigação de insistir na ideia central dos textos referidos sobre esses homens valentes que, como o povo, a populaça, não suportaram mais e procuraram o caminho da liberdade, que não se define com palavras, mas sim com formas de agir.
republica
Liberdade Guiando o povo, óleo de Éugene Delacoix, 1830, museu do Louvre, Paris

De momento não é minha intenção falar e explicar esta pintura de um francês que viveu dias de comoção no seu país, entre uma Revolução falida, uma Primeira República, um Primeiro Império, Monarquia Restaurada, Segunda República, Monarquia Implantada, Segunda República, Segundo Império, Terceira República. Uma premonição do que Portugal viria a ser a partir de 1910 até 1974.
Homens valentes e republicanos, que sofreram Regimes Transitórios,
revoltas, várias repúblicas, uma tentativa de restaurar a monarquia, uma guerra civil e uma ditadura. A liberdade não é grátis, paga-se com sangue. Não há palavras para a descrever. É assim:
goya
Três de Maio de 1814 em Madrid, óleo de Francisco de Goya y Lucientes

A seguir aos massacres na procura da liberdade, as almas ficaram em pena. Não há palavras para as consolar. Primeiro, a opressão da casa reinante, depois, a morte dos valentes, quer em França, quer em Portugal. A alma em pena é a dos vivos, pela tristeza causada na procura do seu direito à opção, e a dos mortos que não consegue lutar mais.
Mas em França o povo revoltou-se contra os usurpadores da sua soberania e em 1871, criou a Comuna de Paris, de curta duração, bem sabemos, mas que ensinou a lição de que o povo sabe-se governar. Karl e Jenny Marx e as suas filhas e genro Lafargue, ficam horrorizados. Os pais escrevem em 1871 o texto Guerra Civil em França enquanto Paul Lafargue luta em prol da comuna e mais tarde, já casado com Laura Jenny Marx, escreve as suas memórias sobre a comuna de Paris.
Em Portugal, o mais afamado republicano, Afonso Augusto da Costa é assassinado, uma guerra civil começa, para continuar por uma ditadura de 50 anos e comemorar, finalmente, a Liberdade definida por Delacroix, a 25 de Abril de 1974. Bem sabemos que são os soldados e os seus capitães que libertam as almas em pena que viviam a ditadura e as revoltas prévias, como está tão delicadamente definido entre nós por José Mattoso, Joel Serrão, Maria Alegria Fernandes Marques, António Matos Reis, João Silva de Sousa, Bernardo Vasconcellos e Sousa, Avelino de Jesus Costa e Oliveira Marques, entre outros.
A alma em pena do povo de Portugal começa a arrebitar com o 25 de Abril de 1974 e, especialmente, com a sua entrada na Comunidade Europeia.
É o que dá o direito a debates e disputas entre partidos, as suas convenções e coordenações. Uma santa revolução permanente que o 5 de Outubro conquistara para nós e afiançara em 1974, no dia 25 de Abril, sempre por baixo deste símbolo da Pátria:
bandeira
Foto de António Vale

E é assim que acaba a alma em pena, com essa alegria do debate são, aberto e directo. Portugal entra, por fim, a ocupar o seu lugar entre os países do Velho continente.

Comments

  1. Luis Moreira says:

    muito bom texto, caro professor.

  2. Nuno Castelo Branco says:

    “A alma em pena do povo de Portugal começa a arrebitar com o 25 de Abril de 1974 e, especialmente, com a sua entrada na Comunidade Europeia”.”Portugal começa a arrebitar”? Não sei onde vê isso. Pelos vistos, continuamos a viver nas nuvens!

  3. maria monteiro says:

    Viva a República porque… o povo SOMOS nós ontem, hoje e assim continuaremos a ser no futuro

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