Esta cidade morre a cada dia

Rua Formosa, ontem à noite No Porto ruiu mais uma casa. Desta vez foi um primeiro andar inteiro e só o facto de àquela hora, cerca das 23h00, não ir a passar ninguém, evitou que alguém ficasse ferido. É assim esta cidade, arruína-se aos poucos. Todos os dias caem pedaços de azulejos das fachadas, bocados de estuque, fragmentos de telhas. Não vai há muito, passava eu do outro lado da rua, vi cair umas enormes lâminas de vidro do prédio que ruiu ontem à noite. Mais uma vez por sorte, não passava ninguém nesse momento. Esta cidade desintegra-se minuto a minuto. Esvoaçam das fachadas arruinadas uns farrapos de cortina enegrecida pelo tempo e pelo pó. Vemos a cidade morrer a cada dia à nossa passagem, e as ruínas que ainda se aguentam de pé acabarão por desabar, em dia e hora incertas. Passam as caravanas partidárias, absurdamente ruidosas, e fica o silêncio de uma cidade envelhecida, empobrecida, desolada na sua solidão de granito que se vai esboroando.

Comments

  1. Porra! Que texto fantástico, que imagem absolutamente real deste meu Porto amado. Aqui está um exemplo de um texto que vale por mil imagens.Obrigado Carla R.

  2. Luis Vieira says:

    É verdade a nossa cidade morre lentamente.Não são só os edificios mas a alma Tripeira,solidária e de gesto simples.Estámos a perder a nossa identidade mas nunca é tarde para seguirmos em frente e a recuperarmos.

  3. isac says:

    Há quem ande a tentar voltar para o Porto mas parece haver um bloqueio. Eu que o diga.Mas não acho que estamos (os tripeiros) a perder a nossa identidade. Ela começa a faltar no Porto, porque a estamos a levar connosco para outras cidades.

  4. Carla Romualdo says:

    O que mais me custa ver é o adormecimento, aceitamos tudo sem inquietações, sem o mínimo estremecimento.

  5. Um punhado de homens e mulheres chegam para mudar o estado do sítio. Basta querer, basta acreditar. Basta amar esta cidade…..estou um utópico, desculpem lá.

  6. Luis Moreira says:

    Ah, fiel e invicta cidade !

  7. […] por causa desta posta de excelência recordo o tempo em que Paulo Rangel defendia, isto antes de o mandarem de castigo […]

  8. Fulano says:

     A mim o que me dói é ver uma (belíssima) casa de agricultor rico do século XIX, mais as centenárias alfarrobeiras e os vários hectares, esperar 5 anos para ser salva da ruína por mor de 700.000 euros enquanto se vendem casarões de gosto “hollywoodesco” por vários milhões na Quinta do Lago. «Cada país tem as elites que merece», e é bem verdade.

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