De capa e batina

Uma vez ali em Alcochete estava com uma namorada num restaurante quando entrou um grupo de rapazes e raparigas de capa e batina, com violas e outros instrumentos musicais. Como não há por ali nenhuma universidade (não havia, agora crescem como cogumelos) pensei que a rapaziada andava a fazer pela vida, isto é, a arranjar condições para o namoro se aprofundar e, como tal, podia nascer entre nós uma espécie de cumplicidade.

Logo que a dificil me deu uma oportunidade e me deixou só, eu acertei com o grupo de capa e batina, eh!, pá, vocês fazem aqui uma serenata à dificil e eu pago-vos o jantar, que tal? Que sim o dinheiro é pouco vem mesmo a calhar.

Lá voltou a adúltera, dizia-me que era divorciada e só quando levei com um gajo com 90 Kgs é que percebi que não, e os capas e batinas vá de fazer uma serenata. Joelhos em terra e vá de cantar e tocar os poemas ” que eu não ouvia, era o vento na ramaria, que murmurava só para nós” cantava o gajo com os olhos a tremilicar.

A dificil ficou-se por ali mas logo que me vi aliviado comecei a pensar cá para mim , mas que fazem estes gajos de capa e batina? No meu tempo quando entrei para o primeiro ano do Liceu, havia uns gajos, filhos de gente rica, que andavam no sétimo ano e que podiam ser meus pais. Era a vida deles não faziam mais nada, sempre nos copos e na má vida, usavam a capa e batina porque não havia tempo de ir a casa, era trajo que servia para as alegres e para as tristes, sempre impecável, quanto mais rugas melhor, buracos tapavam-se com emblemas e farrapos de cores diversas.

Mas agora que os “jeanes” são ao preço da “uva mijona”, há roupa porreira por tuta e meia, agradavel e cómoda, porquê o trajo académico?

Hoje, na baixa de Lisboa, lá andava o pessoal de capa e batina a fazer um grande alarido, com uns penicos na cabeça e a fazer umas flexões, tudo muito envergonhado e muito academicamente,correcto.

O problema, é que apanhavam sol uma loiras turistas lindas de morrer ,mas eu não consegui pôr ninguem a cantar!

Comments

  1. Nos anos 50 e 60, pelo menos em Lisboa, só alguns estudantes liceais (por razões económicas, diziam) usavam capa e batina. Era uma coisa ridícula, uma espécie de certificado de cretinice. Creio que no Porto se passava o mesmo. Em Coimbra, era diferente – havia as duas correntes – a favor e contra a praxe (identificadas, respectivamente, com a direita e com esquerda. Conheces aquele jogo «onde está Wally?» Experimenta numa fotografia das crises académicas dos anos 60, na Alameda da Universidade, na Cantina, no Estádio, entre as centenas de estudantes encontrar um de capa e batina.

  2. Luis Moreira says:

    E agora, então, é cretino até dizer chega…

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading