Autarquicas 2009 – Os "meus" concelhos (Porto, Trofa e Setúbal)

Começando no Porto, concelho onde de tudo me fazem para me retirar tempo para “bloggar”, pouco terei a acrescentar aos rios de tinta que já se dirigem para montante.

É evidente que Rui Rio é um dos melhores presidentes de câmara do país atualmente. Tomou muitas decisões controversas, e por isso ganha. A curva descendente do Porto não é obra de Rui Rio. É bem anterior. No entanto, em face disto, Rui Rio tomou várias decisões polémicas. Concordo com algumas, discordo de outras.

E pergunto: qual é o autarca que, no seu perfeito juízo, tem coragem para tomar decisões controversas? Não dúvido que, estivesse Rio quieto em muitos dos domínios em que tocou, e a sua maioria seria ainda mais confortável.

Prezo ainda a tónica de seriedade que Rui Rio introduziu na política autárquica. A gestão da CMP é transparente como nunca e os interesses que à volta dela aviltam degladiam-se, agora, segundo a lei da concorrência, ao invés da do compadrio. Isto marca uma diferença significativa em relação aos seus antecessores recentes. Rui Rio conquistou-me logo no inicio, no momento em que decide enfrentar os obscuros interesses ligados ao Futebol Clube do Porto e ao sector imobiliário. Percebi logo que se tratava de um homem de coragem e com elevada ética. Sem dúvida um sério candidato a primeiro-ministro. Graças a Rui Rio, o Porto tem um pouco mais de Porto, e um pouco menos de Palermo. Como lamento o facto de ele não ser de esquerda…

Quanto a Elisa Ferreira, nem considerei como muito relevante o facto de ser eurodeputada. Até penso que devia ser um ponto positivo, porque conquistando o Porto, sofreria um enorme revés salarial, o que considerei salutar. No entanto, fez uma campanha péssima. Pessoalmente, deixei de a ouvir depois do lamentável debate televisivo. Por mero acaso, os meus olhos cruzaram-se, posteriormente, com a solução que ela propunha para o Bairro do Aleixo: a solução judicial. Nem comento tamanha demagogia/populismo. Estando o prémio de cromo do ano atribuído, atríbuo-lhe a medalha de lata. Para condizer com o bairro (alusão às fracas instalações, porque a população genéricamente considerada merece-me todo o respeito).

A grande surpresa da noite veio da Trofa, cidade que herdei da minha mãe. Desta não estava mesmo à espera. Quando, no desenrolar da noite eleitoral, me contaram, mandei o meu interlocutor “pastar”, por se estar a aproveitar de uma situação de acesso privilegiado às fontes para gozar com a minha ignorância. No entanto, horas depois, o STAPE confirmava a hecatombe do PSD.

Conhecendo um pouco a autarquia, abri os jornais para perceber se já havia acontecido algum fenómeno parecido com os suicidios em massa da France Telecom, mas se aconteceu, os jornais ainda não se aperceberam.

Foi, efectivamente, uma enorme surpresa para mim. No entanto, indaguei melhor sobre os motivos de tal hecatombe e parece que Joana Lima, que até aqui apenas governava o munícipio “de facto” que é a concelhia da Trofa do PS, conseguiu aproveitar o facto de ser deputada para ter uma  disponibilidade inexcedivel durante os ultimos 4 anos. Todos os sectores da sociedade trofense cruzaram-se com Joana Lima nos últimos 4 anos. Mesmo em termos de trabalho de vereação, começou a instalar-se um “a Joana resolve” na Trofa. Cavalgando a onda socialista que varreu o país nestas eleições autárquicas, a deputada destrona, com um trabalho aparentemente cheio de mérito, o PSD. Vejamos se consegue ser tão boa presidente de câmara como candidata.

Quanto à maravilhosa Setúbal, herdada do meu pai, também temos novidades. Em 2001, o PS, na pessoa de Máta Cáceres, foi despedido pelos Setubalenses com justa causa. Uma gestão autárquica atroz que, inclusivamente, tornou necessária a intervenção do Governo para garantir a solvabilidade da autarquia, atirou o PS para mínimos históricos. Em 2005, um pouco recomposto, o PS atinge os 21%, ainda atrás do PSD (o que, para quem conhece Setúbal, é um estrondoso insulto ao PS). 2009 traz-nos, agora, duas novidades: o PS inverte posições com o PSD e, com 29%, torna-se a segunda força mais votada. A CDU, que cai de 40% para 38%, alcança uma maioria absoluta que lhe havia fugido em 2005. Provavelmente, a mais pequena maioria absoluta do país. Tudo graças a um trambolhão do PSD, de 25% para 14%, que o recoloca em níveis mais consentâneos com aquela que, históricamente, é a sua votação típica.

Resta a Maia, a cidade que um filho meu herdaria de mim. Também aqui há alguns elementos surpreendentes. Fica para um outro post.

Comments

  1. Caro João Santos,prezamos muito a leitura que faz do Porto, mas aqui nesta sociedade ainda que esforçando-nos por ser apolíticos (pura utopia, nós sabemos), mesmo assim ficamos na dúvida de que cidade estaria a falar, se de ‘Porto Alegre’ ou de ‘Porto Santo’.E nós ainda só agora começamos…

  2. Hehe. Não faço muita questão em defender Rui Rio. Repare que falo permanentemente na honestidade, o que não quer dizer que concorde com muitas das medidas. Mas sou todo ouvidos a alternativas… No entanto parece-me que são inexistentes.

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