Ética e Educação – 2ª Parte (10)

Ética e Educação – Parte 2 (10)

 

Educação no tratamento dos problemas éticos ligados à esfera da saúde. Considerações sobre a necessidade de integração de conhecimentos ligados à saúde no âmbito da educação escolar e social

 

Uma pessoa que não entenda o mundo, que não compreenda a razão das razões, que não agarre a essência e a substância dos complicados fenómenos com que tem de lidar, que não saiba o valor da humildade, que não reconheça o mal da presunção e da arrogância, que não aceite a indispensabilidade do bom-senso, que não seja capaz da linguagem falada, escrita, gestual e psicológica, não pode ser bom prestador de cuidados assistenciais, e não veicula, nem de longe nem de perto, os elementos indipensáveis à criação de uma boa relação com o doente. A relação médico-doente, profundamente pedagógica, não se deve pôr, contudo, em termos de educador e educando. A relação médico-doente é um fenómeno bem mais complexo e profundo, implicando a criação de uma confiança mútua, base indispensável do sucesso terapêutico.

 

Perante um doente, o primeiro e mais sagrado mandamento da medicina é não o prejudicar, seja de que forma for – Primum non nocere -. O segundo mandamento impõe o empenho, a vontade e a sabedoria dos agentes de saúde não só na procura esclarecida de uma solução que satisfaça o doente e dignifique o acto médico, mas também na aceitação e compreensão de doentes agressivos e difíceis, bem como na descoberta do seu lado positivo. Tem vindo a registar-se um aumento de agressões a médicos, cada vez mais graves, transformando-os no bode expiatório de tudo o que corre mal na saúde. Isto acontece porque o doente ou familiar se sente justificado na sua fúria. A retirada dos direitos de assistência no SNS a estes agressores, sugerido pela OM, se bem que tentadora, poderá não ser justa, dado que a grande culpa não é do utente mas do sistema, cujas insuficiências, negligências e incompetências se tornam difíceis de suportar. Mais uma vez penso que a atitude humanizante do agente de saúde pode ter um importante efeito profilático neste campo.

 

 

Para falar de saúde e, sobretudo, de ética na saúde, é necessário retirar o nevoeiro da frente dos olhos, tome esse nevoeiro a forma que tomar, irreflexiva, conformista, acomodatícia ou acrítica. O homem tem de se habituar a pensar. Só pelo pensamento se entende que o tempo presente vive uma intrincada teia de paradoxos e contradições que, sem regras ético-morais, levam o homem a tornar-se permeável ao irracional.

 

 

A avaliação médica e assistencial é uma tarefa eminentemente política que requer profunda lucidez. Exige do não-médico um esforço de investigação pessoal e exige do médico a redescoberta de uma medicina autêntica, ainda que desenvolvida e apoiada nas novas ciências. De outra forma, a medicina moderna corre o risco de perder a sua independência, a sua pureza original e a sua eficácia humana. As novas tecnologias, e eu falo com conhecimento de causa porque com elas sempre tenho trabalhado, tanto aumentam a possibilidade de progredir como aumentam a possibilidade de perverter se não forem acompanhadas de uma séria defesa da consciência ética e moral do médico e dos agentes de saúde.

 

 

A medicina de hoje trsansformou-se num monumental negócio, e numa oficina de reparação e manutenção do homem gasto por uma vida desumana. O universo de uma boa parte dos nossos políticos e agentes de saúde tem para eles a grande vantagem de uma conjuntura sem expressão, de um quadro sem cores, de um mar sem ondas de moral e de escrúpulos em que a desonestidade e a corrupção apagam a dignidade, fundindo princípios, meios e fins numa amálgama argentária sem qualquer tipo de pudor. (Continua)

 

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