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eriosa, construída a seguir ao terramoto de 1755, onde desde então, habitando numerosa galerias, como toupeiras, as gerações se sucediam. Como peça jornalística era inverosímil, mas como novela era potencialmente brilhante. Recentemente, ao ler um romance de Douglas Preston, sobre uma comunidade de «toupeiras» habitando sob Manhattan, em galerias desactivadas do metro de Nova Iorque, lembrei-me das «reportagens» de Reinaldo Ferreira.
Personagem louca esta. Eu imagino este, à mesa, a tomar um cafézinho com o Camilo Pessanha. Deveria parecer uma porta para outra realidade! Não sei porquê, mas um lembra-me sempre o outro…
Não se devem ter encontrado. Em todo o caso, tiveram em comum os seus grandes talentos, a tuberculose e a toxicodependência – o Camilo relativamente ao ópio e o Reinaldo com a morfina e a cocaína.
Existirá alguém como ele? Para que precisamos nós de inventar um 007, quando o RF daria para uma ininterrupta série a não perder? Feita por ingleses, claro ;)Quanto ao filho, o Reinaldo ferreira de Lourenço Marques, há que dizer que a rua com o seu nome, por lá continua. Não quiseram substitui-lo por um Idi Amin ou um Kim jong-Il, por exemplo. Antes assim…
também não acredito que se tivessem encontrado, porque se tivesse acontecido de certeza que era um evento para a posteridade. ou talvez não, já que são dois génios esquecidos.
Fizeram bem os moçambicanos que, aliás, reivindicam a nacionalidade do Reinaldo Ferreira. Grande poeta. Já soube de cor um poema dele que se chamava,salvo erro, «A que morreu em Madrid». Um dia, hei-de dedicar um texto ao Reinaldo Ferreira, filho.
essa é uma grande falha portuguesa. se o reporter X fosse inglês ou americano era uma fonte inesgotável de inspiração para outros e era uma celebridade mundial. nós, portugueses, não sei muito bem porquê, temos uma tendência natural para menosprezar os nossos. e deixá-los cair no anonimato e esquecimento. Vá-se lá perceber.
Em Portugal, para já, é crime estar vivo. Os génios querem-se mortos. Veja-se aqui, no pequeno universo do nosso blog, o que vai por aí de raiva ao Saramago que, para além de todos os dislates e incontinência verbal, é um grande escritor. Tem de morrer para ser exaltado e, depois, esquecido…
A que morreu às portas de Madrid, com uma praga na boca e a espingarda na mão, teve a sorte que quis, teve o fim que escolheu. Nunca,passiva e aterrada,ela rezou. E antes de flor,foi,como tantas,pomo. Ninguém a virgindade lhe roubou depois de um saque – antes a deu a quem lha desejou, na lama dum reduto, sem náuseas,mas sem cio, sob a manta comum, a pretexto do frio. Não quis na retaguarda aligeirar entre champanhe,aos generais senis, as horas de lazer. Não quis,activa e boa,tricotar agasalhos pueris,no sossego dum lar. Não sonhou minorar, num heroísmo branco, de bicho de hospital, a aflição dos aflitos. Uma noite,às portas de Madrid, com uma praga na boca, e a espingarda na mão, à hora tal,atacou e morreu. Teve a arte que quis. Teve o fim que escolheu.
Ora aí está, Adão, o poema que, adolescente reviralhista , eu sabia de cor. Obrigado por mo teres recordado, bem hajas!
E eu que tive a minha primeira casa, minha, na Rua Reinaldo Ferreira a Alvalade?
Nada contra o escritor Saramago, Carlos.
Pois, Luís, desde o princípio que eu só estou a defender o escritor Saramago e o seu direito a criticar a Bíblia e tudo o que quiser criticar. O homem Saramago não interessa.