O regresso de Jaime Ramos

 Atarantados com as questões bíblicas, esquecemo-nos, ou deixamo-nos distrair, do novo livro de Francisco José Viegas, “O Mar em Casablanca”. E, isso sim, é imperdoável. Com a devida vénia, permitam-me que transcreva aqui parte do parágrafo inicial. Um retrato impressionista de uma paisagem outonal, a do Passeio Alegre tomado pela mais portuense melancolia:

 

“(…) Noites destas eram vulgares quando vinham as primeiras neblinas de Novembro – e as manchas de nevoeiro passavam pelos feixes de luz  amarelada dos candeeiros da ponte. Nuvens baixas, podia ser. Nuvens que tinham descido até à cidade e a deixavam molhada. Primeiro, pegajosa, manchada de poeira. Depois, com o tempo, apenas molhada, escorregadia, obrigando o trânsito a circular com lentidão, as portas dos cafés a fecharem-se. Não havia ainda o frio do Inverno, rigoroso, silencioso – ao longe, o rumor nas ruas, despedindo-se do dia. Folhas de árvores arrastadas pelo vento, juntamente com lixo e jornais abandonados nos parques.”

 

É o regresso do detective Jaime Ramos, inspector da PJ do Porto. Haverá quem desdenhe a comparação, mas, se Mafalda teve direito a estátua em Buenos Aires, fosse eu autarca no Porto e erguia uma estátua a Jaime Ramos. Com cigarrilha entre os dedos e o rosto do Ben Gazzara. 

Comments

  1. O Saramago sempre foi um eucalipto. Seca tudo à sua volta.

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