Clube dos Poetas Imortais: Eugénio Tavares (1867-1930)

 

 

 

Alguém já chamou a Eugénio Tavares o Camões de Cabo Verde. Na verdade, a ele se deve a consciência que, a partir de finais do século XIX, os cabo-verdianos foram tomando da existência de uma cultura genuinamente sua. Eugénio Tavares foi um poeta, sim, mas também um agente consciencializador da cabo-verdianidade, actuando no palco político, jornalístico, lutando contra as injustiças de que o seu povo era vítima. Sofrendo as inevitáveis perseguições por parte do poder colonial, foi obrigado a exilar-se. Descendente de europeus, foi dos primeiros a proclamar que as gentes do arquipélago tinham direito a uma cultura diferenciada a uma expressão idiomática distinta, a uma identidade própria.

Pouco conhecido em Portugal ou conhecido sob a forma redutora de «criador de mornas», Eugénio Tavares foi um apreciável escritor, um jornalista e polemista de grande valor.  No ano em que o Prémio Camões, o mais alto galardão literário do mundo lusófono, foi atribuído ao poeta cabo-verdiano Arménio Vieira (1941) e em que a literatura do arquipélago se afirma como uma das mais pujantes do universo lusófono, com nomes como o do romancista Germano Almeida, sem esquecer o grande Daniel Filipe, e o de Arménio Vieira, faz todo o sentido lembrar e homenagear Eugénio Tavares, pioneiro das letras de Cabo Verde.

 

 

Eugénio Tavares, nasceu na ilha Brava a 18 de Outubro de 1867, onde faleceu em Junho de 1930. Autodidacta, adquiriu grande cultura, transformando-se na figura literária e jornalística mais importante de Cabo Verde nas primeiras três décadas do século XX. Com apenas quinze anos, publicou os seus primeiros poemas no «Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiras», deixando uma vasta produção, em português e em crioulo – poemas, narrativas, peças de teatro e, sobretudo, artigos jornalísticos. Quando exilado nos Estados Unidos, fundou o jornal «Alvorada» em New Bedford. Com colaboração intensa na «Revista de Cabo Verde» e no jornal «A Voz de Cabo Verde», foi postumamente publicado um volume com as suas «Mornas». Da sua produção poética escolhi um poema em português, pois neste «Clube» só entram poetas lusófonos – é um poema do exílio:

Exilado

Pensa no que há de mais sombrio e triste;

terás, destes meus dias vaga imagem;

soturnos céus – como tu nunca viste –

nunca os doirou o halo de uma miragem.

O sol – um sol que só de nome existe –

envolto na algidez e na brumagem

dum frio como tu nunca sentiste,

do nosso sol parece a morta imagem

imerge o retransido pensamento

nas noites mais escuras, mais glaciais,

prenhes de raios e vendavais;

verás que anos de dor, esse momento

passado, na saudade e no penar,

longe do sol vital do teu olhar!

(Fairhaven, 1900)

 

Comments

  1. Fazes mais pela cultura que os dois últimos ministros da “pasta” fizeram…

  2. Se te referes ao Governo cabo-verdiano, acho que a política cultural deles é a possível, considerando os orçamentos de que dispõem. O problema são as comunidades emigrantes, os cabo-verdianos da diáspora precisavam de mais apoio a todos os níveis e no plano cultural também.

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