Estranhas aventuras… na praia de Inverno

Normalmente sou “obrigado” a ir à praia durante as férias de Verão, por causa do meu miúdo, por isso uma ida à praia de livre e espontânea vontade é um acontecimento raro. Não é que não goste de praia, mas sinceramente prefiro o campo e a montanha. Por isso mesmo, prefiro ir à praia no Inverno; o clima é mais agreste como o da montanha e como bónus, fica-se muito mais à vontade porque não há “montes” de pessoal a acotovelarem-se por um sítio livre onde possam ver e ser vistos por toda a gente. Isto faz-me pensar que na realidade as pessoas gostam do calor do sol e não da praia propriamente dita. A prova disso é que no Inverno a praia está sempre vazia.

Tenho de reconhecer que não entendo o fenómeno da praia-praia. Aquela normal praia de Verão. Não percebo como se consegue estar para ali espraiado a esturricar ao sol, tentando avidamente obter o bronzeado mais homogéneo e escuro possível. Nem sequer entendo o próprio fenómeno do querer ficar bronzeado.

Não tenho paciência nenhuma para estar sentado/deitado na areia a queimar a pele ao sol, cronometrando precisamente o número de vezes em que preciso de me virar para obter “aquele” bronzeado uniforme e espectacular. Até o conseguiria suportar se volta e meia conseguisse mergulhar na água. O problema é que as águas do Norte têm essa característica peculiar de serem absolutamente gélidas. É como acabar de tomar um banho quente e depois ir meter os pés num bidé cheio de pedras de gelo. Depois é a própria lógica da coisa que não faz sentido: aquecer o máximo possível ao sol, até a um nível insuportável que depois torne suportável entrar em águas geladas, que por sua vez tornam novamente suportável o facto de se estar tecnicamente a esturricar aos poucos… não entendo.

Mas também não vejo mal nenhum nisso. Pelo menos, existe um contacto directo com a natureza, coisa rara nos dias de hoje, repletos de betão e centros comerciais. É apenas a lógica da coisa que eu não entendo.

As raras vezes que vou à praia de livre vontade é porque me apetece apenas olhar o mar. Sentir a sua imensa força e poder, o seu cheiro e o medo que me inspira. Adoro o som forte e seco das ondas a rebentar nos rochedos. Convida à reflexão. E estando aqui a olhar para o mar não consigo deixar de me perguntar: donde veio toda esta água? Sendo que o ciclo da água é um ciclo fechado, e que eu saiba, não é possível “criar” água, portanto, donde terá vindo esta água toda? E porque é que este planeta coberto em dois terços da sua área por água se chama Terra?

Muitas mais questões me surgem enquanto olho o mar, mas sinceramente, não consigo responder. Sentado sozinho na areia, gelado pelo vento, a escrever num velho caderno preto, sem acesso ao grande cérebro digital que é a internet, sem “googlar” e “wikipediar”, chego à conclusão que não sei muita coisa básica porque tomo estes e outros "factos" como garantidos. Sentir o mar “põe-me no meu lugar” perante a complexidade e força da natureza. Põe-me no meu minúsculo lugarzinho no Mundo, mostrando-me, verdadeira e friamente, o que é a pequenez e a insignificância. Mas mostra-me acima de tudo que não é nada boa ideia ir contra a natureza e continuar na senda de destruição deste belo planeta azul. Por um lado, porque o empenho humano não tem limites (assim como a sua estupidez) e portanto, é bem capaz de o conseguir, mas por outro lado, o mais importante, é porque o planeta é capaz de “ripostar”, e já é mais ou menos evidente que  vai mesmo fazê-lo. É nitidamente uma má ideia, porque este planeta além de ser bipolar (muito inspirador belo numas alturas e muito agressivo e brutal noutras) não me parece que vá alinhar em grandes conversações, discussões ou políticas diplomáticas… Veremos se as nossas grandes acções têm ou não, grandes repercussões.

A praia de Inverno e especialmente o mar revoltoso fazem-me reflectir.

Fazem-me pensar em coisas que eu não entendo. Questões complexas e coisas simples, lá está, como ir à praia de Verão. Estender um pano no chão e bronzear ao sol. A minha visão dessa “praia de Verão” é esta: um lugar onde as pessoas se deitam em cima de um material de construção civil, a esturricar com o efeito da combustão de hidrogénio e hélio a milhões de quilómetros de distância, para depois irem mergulhar numa quantidade enorme e gélida de água que ninguém sabe donde veio.

A praia de Verão, esse sítio estranho onde, em público, se pode passear de roupa interior.

Comments

  1. Isac, o que dizes é muito bonito e importante, mas não esqueças que a pégada do homem, por mais pequena que seja, besunta a natureza. Uma vez à entrada aí do Sto António estava um grupo de “verdes” a protestar contra a incineradora do hospital. Afinal salvar pessoas não merece o fumo de uma incineradora?

  2. isac says:

    pode parecer mas eu não sou um extremista “verde”. Sei bem quais são as minhas pegadas e o meu peso no planeta. Noto principalmente um distanciamento da natureza, fruto das cidades, que acaba sempre em prejuízo para todos, incluindo nós. O problema é a falta de equilibrio. como em tudo. na ecologia, na política, nos negócios, no que quer que seja. E ultimamente anda tudo desiquilibrado.

  3. isac says:

    até eu ando “desiquilibrado” pelos vistos. Desequilibrado, assim é que é.

  4. Eu sei que não és extremista, ma o que quero dizer é que a actividade humana é poluidora, o que não justifica grande parte dos crimes que se praticam.

  5. Muito obrigado pela excelente posta. Independentemente da questão ecológica, com q concordo em absoluto, n pude deixar de sorrir com a leitura das suas opiniões sobre o mar, a praia – e o que este e esta representam para a maioria das pessoas, consoante seja Verão ou Inverno. N só me identifiquei com a sua opinião como também com o facto de ter ido mtas vezes à praia, no Inverno, por razões de saúde de uma das minhas filhotas. Cumps

  6. isac says:

    mas eu gosto sempre de ressalvar essa parte do nãoextremismo porque estou constantemente a bater no mesmo tema que, já se deve ter notado, me interessa. Tenho consciência das nossas acções no planeta e sei bem que o planeta aguenta com muito, mas não pode aguentar com tudo. Há coisas muito erradas neste campo mas acho que estamos a endireitar o “barco”.

  7. isac says:

    obrigado pelo elogio e continue sempre a ir à praia. Faz bem ao corpo e à mente. cumprimentos.

  8. Caro Isac CaetanoN tem q agradecer. O “aventar” está na lista dos meus favoritos e visito-o diariamente.Qto a ir à praia, 100% de acordo, sobretudo no Inverno, qdo n tenho q tropeçar nos corpos espalhados plo areal, nem suar as estopinhas sem me poder refrescar devidamente (a minha magreza n se conforma com as frígidas águas deste Atlântico).Abraço

  9. Aí vai um comentário à Dalby. Adoro a praia, mas detesto a areia e o mar quando está gelado. Adoro a praia por causa do sol, da luz. Adoro beber uma cerveja numa esplanada em frente ao mar. Adoro a praia, mas ninguém me peça para entrar lá para dentro. <object width=”425″ height=”344″><param name=”movie” value=”

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    Rosalinda
     se tu fores à praia
     se tu fores ver o mar
     cuidado não te descaia
     o teu pé de catraia
     em óleo sujo à beira-mar
    
     a branca areia de ontem
     está cheiinha de alcatrão
     as dunas de vento batidas
     são de plástico e carvão
     e cheiram mal como avenidas
     vieram para aqui fugidas
     a lama a putrefacção
     as aves já voam feridas
     e outras caem ao chão
    
     Mas na verdade Rosalinda
     nas fábricas que ali vês
     o operário respira ainda
     envenenado a desmaiar
     o que mais há desta aridez
     pois os que mandam no mundo
     só vivem querendo ganhar
     mesmo matando aquele
     que morrendo vive a trabalhar
     tem cuidado...
    
     Rosalinda
     se tu fores à praia
     se tu fores ver o mar
     cuidado não te descaia
     o teu pé de catraia
     em óleo sujo à beira-mar
    
     Em Ferrel lá p´ra Peniche
     vão fazer uma central
     que para alguns é nuclear
     mas para muitos é mortal
     os peixes hão-de vir à mão
     um doente outro sem vida
     não tem vida o pescador
     morre o sável e o salmão
     isto é civilização
     assim falou um senhor
     tem cuidado

     

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