Buíça (1) aí uns cobres!

 

 

Segundo o Público, Mário Soares está raladíssimo com a crise em que o PSD se afunda. Sabedor como poucos do tipo de contratempos que a travessia no deserto da oposição significa para um Partido, M.S. diz que é necessário dar uma ajuda ao grémio laranja. No mundo onde roda a engrenagem das rotativas – na imprensa e no Parlamento -, são sempre necessários dois comparsas para a dança do costume. É que todas as precauções são poucas, pois embora o colega Silva Lopes, jovenzinho de setenta e sete anos – proveniente do caetanismo pró-terceira via – tenha cometido a proeza de se fazer nomear para a gestão de uma grande empresa "com ligações ao Estado", estes lugares jamais poderão deixar de ser cativos: "ou são para vós, ou são para nós, nada de penetras!"

 

E agora, só para irritar os do falso mas miliardário Centenário, aqui vai mais um naco de prosa de um ex-republicano, que em 1912 decidiu dizer (2):

 

"Com a República não há salvação possível. Uma esperança! Uma única! A restauração monarchica poderia trazer uma reacção benefica. Uma salutar licção para monarchicos e para republicanos. Talvez retardasse um pouco, pelo menos, a queda rapida, escorregadia e lobrega em que vamos para o abysmo. Mas com a república, está inteiramente, e desde já, tudo perdido."

 

Homem Christo, in Banditismo Político, Madrid, 1912.

 

(1) Buíça: em dialecto do sul de Moçambique, quer dizer "dá cá". Nada de confusões, p.f.

 

(2) isto não foi escrito após o debate do Prós e Contras de segunda-feira. O Português escrito é pré-Costa/Formiga Branca/Camioneta Fantasma/Leva da Morte.

 

Comments

  1. Nuno, o maniqueísmo prossegue. A opinião do Homem Christo vale o que vale – é o lamento de um despeitado. O que interessa o que Buíça queira dizer no dialecto maconde ou lá o que seja? O Buíça era um excelente professor do ensino secundário que teve o azar de ser apanhado nas malhas de uma organização implacável. Foi manipulado por conspiradores monárquicos que queriam que o rei morresse. Por que insiste em não querer contar a verdade? Em, pelo menos, ocultar a verdade que não leva a água ao seu moinho? A utopia da restauração monárquica é respeitável como qualquer outra, mas não pode ser defendida com mentiras ou com meias-verdades . Hei-de publicar aqui uma biografia do Buíça que conte a verdade sobre a sua participação no Regicídio. Era um bom homem. Até os monárquicos que o manipularam tinham aspectos positivos. A verdade, geralmente, é mais complicada do que os chavões, do que as propagandas e do que os maniquísmos pretendem.

  2. Carlos,Temos então conceitos diferentes acerca do que é um bom homem. Não me impressionam nada as piedosas pajelas a respeito de “embargos ou soluços de voz” do Junqueiro, nem chilrear de passarinhos amarelos, criancinhas felizes de bibes azuis, etc. É que logo a seguir, são exactamente os mesmos que patrocinam “O Caçador Simão”, e resmas de páginas em jornais a apelar ao crime e à violência, para nem sequer falar da torpeza absoluta do “Marquês da Bacalhoa”, que o Teófilo dizia ser uma pedra basilar da república. Enfim, o meu conceito de homem bom não se coaduna absolutamente nada com a reunião no Gelo e de facto, a escola que aponta o dedo aos Dissidentes é conhecida. Mas eram eles quem?  seriam diferentes do Costa e do Bernardino? Dizerem-se monárquicos é uma coisa, mas outra foi compactuar com o crime que todos sabemos a quem aproveitou. Não vou aborrecer os colegas do Aventar, aqui publicando os cartões e posters em que o Buíça+Costa surgem como mártires ao lado do Afonso Costa, Bernardino, Almeida, etc. Existem e em boa quantidade. É ou não a plena reivindicação do crime, assumido como essencial? Temos de ver a mentalidade da época, bastante efervescente, mas isso não exclui a responsabilidade. Já agora, deixe-me que lhe diga que fui totalmente contra aquilo que fizeram à dupla Ceausescu e ao sr. Saddam Hussein, pois sou irredutível contra a Pena de Morte. O rei D. Carlos estava longe, a milhões de anos-luz de qualquer um destes cavalheiros e mesmo assim…Quanto a ter utilizado o nome do “bondoso setôr” Buíça, enfim, foi apenas uma curiosidade, uma brincadeira. Não contei mentira alguma. O Homem Cristo era um despeitado? Talvez, mas viu o que viu e viveu o que o país inteiro viveu. Nesse caso, o que foi então o Bernardino, o Costa, o Leão ou o Almeida, senão uns despeitados, mas neste caso perigosos, porque da vontade deles dependia a vida física de muita gente? Veja o caso do homem da Rotunda, o Machado Santos e pense naquilo que escreveu acerca de gente a quem o sr. Cavaco e antecessores baterão palmas daqui a um ano. Daqui a momentos, estamos a aplaudir o Iezhov e o Himmler, “porque na altura foi necessário” fazer algo. A verdade acerca do Regicídio, seria uma excelente coisa. O pior é que o prp, ou melhor, o sector Costa fez desaparecer todos os exemplares do processo! Aliás, ele próprio, como ministro, teve um deles na sua posse e bem fechado no cofre do seu gabinete. Onde está? Ou teremos de ir pedinchar a ajuda ao sr. dr. António Reis? Duvido do sucesso, até porque todos os exemplares devem ter participado num luminoso auto da fé, algures numa lareira.Carlos, não quero ofendê-lo seja de que forma for, porque o que de si tenho lido, só exige o respeito, pois não faz parte “de esquemas”, no qual tanta gente mergulhou não sei com que fim. Utilizo fontes republicanas. Uns despeitados, nas suas palavras. E o que dizer do José Relvas e do João Chagas, por exemplo?

  3. Prosseguindo, a questão da restauração monárquica. Faz muito bem em chamar-lhe de utopia, porque é isso mesmo. Como se a a simples modificação da forma de representação do estado resolvesse os graves problemas que enfrentamos!? No entanto, estamos numa hora de grande perigo para a própria existência do país e se não sou nacionalista – conceito que repudio por ser exclusivista -, creio ainda poder chegar ao fim dos meus dias como português. patético? talvez, mas as coisas são assim mesmo e contra o que sinto, é difícil fazer algo.O trabalho é imenso. Requereria uma nova fórmula eleitoral que aliás, já funcionou – e bem – em Portugal. De facto os círculos uninominais consistem num terrível problema para as cliques liderantes do sistema partidário, pedindo, claro está, uma drástica redução do número de deputados – completamente anónimos e inúteis! – e a criação de uma Câmara Alta onde possam estar representantes de partidos, mas sobretudo, gente nomeada pelos sindicatos, patrões, academias, gabinetes técnicos, etc. Já sei que tudo isto cheiraria a corporativismo, se não existisse o entrave das eleições livres e partidárias para a Câmara Baixa.É a única fórmula possível para exigirmos mais e  responsabilizarmos quem se quer arriscar a uma carreira que antes de tudo, se destinará a servir outrem. É idealista, pois é. Em suma, a existência de gente especializada e independente, apta para julgar o que é de mais relevante para o país – e aqui estamos a falar do escasso dinheiro -, obrigaria à selecção natural dentro dos partidos (talvez). 

  4. Além da eterna educação na escola, outro ponto essencial, é a questão regional que carece de urgente resolução, até porque o actual esquema autárquico, está cada vez mais afastado da realidade económica de um país cada vez mais depauperado em termos financeiros, industriais, etc. Inevitavelmente, surge por arrasto a sempre escaldante questão fiscal, onde a própria adesão à UE facilitou um certo estado de coisas que só pode interessar às grandes potências. Intervenção? Não pode ser. Expropriação de terrenos pelo interesse geral? Praticamente impossível. Já nem sequer temos moeda, Carlos! Como já há 110 anos D. Carlos dizia a Hintze, os …”impostos devem e têm de ser progressivos. Quem mais pode, mais deve pagar”… e sinceramente, não consigo, ao fim de um século, vislumbrar outro tipo de lógica, até para maior conforto e segurança pessoal e patrimonial dos sectores mais ricos. A política externa, um dos grande desastres deste regime.A total aposta na Europa – em suma, na Espanha -, trouxe-nos ao actual estado de coisas e estes senhores nem sequer foram capazes de aprender com a primeira descolonização, que mesmo durante muitas décadas após a independência do Brasil -em boa hora – possibilitou uma forte relação entre os dois países. O que fizemos? Deixámos escapar os mercados naturais, com os quais tínhamos uma certa complementaridade que eles próprios – Angola e Moçambique à cabeça -, terão todo o interesse em defender. E isto, porque de Portugal já não temem qualquer tipo de intuitos neo-coloniais, porque nem sequer temos capacidade política e anímica para tal. veja o caso de Timor Leste: uns amigos que estavam exilados em Lisboa, diziam-me na véspera do referendo, que faltava a terceira questão, ou seja, a inclusão do território como região autónoma à semelhança dos Açores e da Madeira. Fiz-lhes ver as condicionantes da política internacional e a total incapacidade portuguesa em organizar um sistema administrativo local – com quadros da Metrópole, claro – e ainda por cima, num cenário de isolamento e de política de terra queimada. Desiludi-os? Sim.

  5. Continuando, parece agora despertar, em causa de desespero, o desejo de um regresso ao Ultramar, quer dizer, em apertar os laços e a cooperação com os antigos territórios que estiveram sob nossa soberania e até alargá-los a outros países – como a Venezuela -, vitais para a viabilização das nossas empresas. Tudo isto pressupõe uma enorme atenção aos mercados e sociedades emergentes, tanto em África, como na América do Sul e até, na Ásia. Sinceramente, não creio que a gente do sector dos Negócios Estrangeiros se dê sequer ao trabalho de procurar conhecer o importantíssimo capital que a nossa história ainda representa em países tão distantes, como por exemplo, a Tailândia, Indonésia ou a Malásia.  Há que ousar e acredito ser possível virmos a ter uma versão bem nossa daquilo a que os ingleses chamam de Commonwealth.  Com o actual estado de coisas, não acredito, porque é tudo muito aleatório, sem perspectiva sequer de médio prazo e que apenas satisfaz o imediatismo com que se faz política. Não pode ser.Por outro lado e para que isto fique bem claro, sou frontalmente contra a hipótese de integrarmos a Coroa espanhola. Não. Tal pressupõe a liquidação das nossas representações no estrangeiro, a representação das grandes empresas internacionais em Portugal, a submissão completa aos desígnios centralizadores – disfarçados de autonomias – de Madrid. Liquidação das nossas Forças Armadas, enlanguescer do ensino da nossa língua e o puro e simples desaparecimento do ensino da nossa História. Dê uma vista de olhos nos manuais escolares vizinhos e constatará com incredulidade, o que é o reescrever da história, a manipulação ou ocultação de acontecimentos e pior que tudo, um gélido silêncio em tudo o que se refere ao atrevido vizinho a ocidente. Para nem sequer falarmos da inclusão de Portugal nos conflitos internos da monarquia que dentro de alguns anos inevitavelmente caminhará para um esquema belga, ou até, quem sabe, austro-húngaro. Não pode ser.

  6. Como vê, creio que nada existe para restaurar, assim como 1974 não consistiu na restauração da 1ª república, felizmente. Até tenho uma posição que o vai deixar admirado, porque tenho a certeza de que o momento que vivemos nestes nossos dias de descontentamento, é o que de mais parecido – passe o anacronismo – podemos encontrar com o período da monarquia constitucional. Assim sendo, quando aqui trago textos de republicanos irritados com o estado de coisas e com os seus pares, é apenas para mostrar a outra face de um regime que foi mitificado em contraposição à 2ª república que como é evidente, surgiu exactamente pelo desastre da 1ª. Enquanto viveram as gerações que sofreram as vicissitudes do período 1907-1935, o Estado Novo nada teve que temer, pois a recordação era pesada como chumbo. O Carlos sabe bem o que quero dizer.Finalizando – sou um incorrigível chato! -, ao longo deste escasso ano e meio que ando nesta divertida coisa dos blogs – que não têm qualquer relevância em termos de grande público -, jamais participei, ou participarei, em campanhas de insultos a esta ou aquela personalidade do Estado. Critico Cavaco, pois conheço-lhe o percurso e as por mim consideradas erradas opções – facilitistas – que assumiu enquanto governou. Se está cercado daquilo a que o povo denomina de “vigaristas”, tal não quer dizer que o presidente também o seja. No entanto, numa questão sou irredutível: quem desempenha um cargo público relevante no aparelho do Estado, não pode tudo subverter em função das amizades pessoais, nisso tenham a santa paciência. Nem ele, nem o primeiro-ministro, nem qualquer ministro, seja ele quem for. Há que ter consciência daquilo que são ou devem ser as Instituições e sinceramente, preferia que os seus titulares fossem mais comedidos, sem terem a necessidade de ser discretos. É a velha máxima salazarista, por sinal muito acertada, que dita que …”em política, o que parece, é!”

  7. Estamos num momento muito perigoso e ninguém poderá sequer garantir que dentro de cinco anos possamos estar tranquilamente a trocar galhardetes na internet. Assim sendo, se não formos os primeiros a manter um prudente distanciamento em torno de alegadas vigarices deste ou daquele agente – o diz-se diz-se -, então estaremos em apuros muito sérios. O caso Sócrates é típico. Dá-se com gente que aparentemente não presta? Parece que sim, tal como o seu conhecido adversário de Belém. Ora , isto não é novidade, mas continuo a acreditar que se por azar o meu irmão fosse um bandido – e não é, porque na verdade é uma pessoa seríssima! – isso não faria de mim um escroque.  Existe até agora alguma prova factual, irrecusável e retinta de qualquer roubo descarado? Parece que não. Então como é que ficamos? Não será melhor falarmos nestes assuntos com uma certa circunspecção, para evitarmos um novo 1908/1910/1926/1974?É certo que alguns acontecimentos, como a nomeação pateta de um senhor abastadíssimo e de 77 anos para um milionário Conselho, não passa de mais um exemplo da inabilidade e falta de senso desta gente. Podemos falar disto à vontade, sermos mordazes e cáusticos, porque é a verdade. Mas daí a acalentarmos velhas narrativas acerca de tráficos de diamantes, quedas de avionetas, tráfico de marfim, armas ou estupefacientes, coisas da imobiliária, etc, etc, etc, vai uma grande distância. A terem acontecido, talvez um dia saberemos, mas entretanto, não executemos ninguém na praça pública. Sei bem que é dificílimo evitar comentar, até porque os agentes políticos “colocam-se em boa posição para a seringa”. Mas, sinceramente, temos de repensar muito bem aquilo que andamos a fazer e que queremos para o futuro. Por mim, prefiro engolir em seco e esperar.Para não o aborrecer mais, deixe-me deixar claro que não duvido das boas intenções de muitos dos republicanos do primeiro sistema. Seria disparatado e injusto, até porque o meu próprio bisavô – republicano e maçon que acabou por se desiludir – também era um patriota e homem honestíssimo: afastou-se.  No entanto, um homem de Estado tem de ter a plena consciência das realidades e evitar seguir ímpetos que podem em muito transcender as capacidades de resolução de problemas que inevitavelmente são muito complexos.  Eles não olharam ao interesse geral e caíram exactamente nos erros dos seus colegas Regeneradores e Progresistas (o PSD e o PS daquele tempo).  Pagaram por isso e o modus operandi até foi da sua autoria. O problema, é que a memória dos homens é curta. Males que de longe vêem, como dizia o próprio D. Carlos. Tinha razão, sabia do que falava.

  8. Nunca disse que os monárquicos eram uns canalhas e que, chegada a República, passámos a ser governados por santos. O que critico naquilo que o Nuno escreve é precisamente essa ideia que nos pretende transmitir de que a partir de 5 de Outubro de 1910 tudo ficou pior, passámos a ser governados por gente desonesta, etc. Claro, muito do que diz é verdade, ou melhor, é a tal meia-verdade , pois não diz que antes dessa data as coisas se passavam praticamente da mesma maneira – canalhas, corruptos, oportunistas. Nem digo que é uma característica do nosso povo, pois encontramos tudo isto noutros países. Pegar em exemplos, nem sempre muito isentos, de erros e desonestidades praticadas por republicanos, só seria aceitável se não se esquecesse de falar nas traficâncias e cambalachos obscuros que se fieram antes da proclamação da República. É a tal meia-verdade , mais perigosa do que a mentira. E depois há outra oisa: não pode pensar no futuro evocando o passado – experimente conduzir o seu carro a olhar para o retrovisor e logo verá o que acontece. O que importa é – o que é que a Monarquia pode fazer por nós que a República não possa fazer? – Deixemos os mortos em paz.

  9. Pois é, ao designar o desiderato da restauração monárquica como utopia, não estou a querer ofender. Tenho muito respeito pelas utopias. Eu defendo a abolição deste sistema de democracia parlamentar e a implantação de uma democracia directa em que os cidadãos participem nas grandes decisões. Com as novas tecnologias, isso nem seria impossível. Mas o que é isto senão uma utopia? Relativamente à Monarquia vs República, acho que a República é um sistema mais avançado. A Monarquia, além do tal perigo de termos patetas como chefes de Estado, iria ressuscitar uma cambada que, felizmente, foi neutralizada – a nobreza. Quanto ao sistema democrático que preconiza, nada tenho contra ele, tanto mais que na Câmara Alta não coloca lordes, mas sim representantes de partidos, sindicatos. E o pateta da coroa, o que faria nesse cenário? Francamente, parece-me uma inutilidade total restaurar a Monarquia. Bem sei que não há esse «perigo». Perigo, entre aspas, porque não considero a Monarquia uma coisa perigosa – acho só uma ideia pirosa, própria de leitoras da Hola. O Nuno é um homem inteligente, caramba!

  10. A absorção de Portugal pelo estado espanhol seria horrível e não por se tratar de uma Monarquia, mas também por isso – os Bourbons são uma linhagem desprezível! Deveríamos, de uma forma discreta, apoiar as independências da Galiza, da Catalunha e do País Basco. Este gigante aqui ao lado é pernicioso. Espanha é um estado artificial – já vi dois estados artificiais irem à vida – a URSS e a Jugoslávia. Gostava de viver o suficiente para assistir ao desmembramento da maldita Espanha e do não menos maldito Reino Unido. Utopias…

  11. No que diz respeito ao Sócrates estou de acordo a cem por cento – parece-me excessiva e quase paranóica a obsessão de o acusar de felonias que talvez ele tenha cometido ou talvez não. Supõe-se e inventa-se o que ele terá dito nas tais conversas telefónicas, sem ter a paciência de esperar pela transcrição das escutas. O Sócrates é um lacaio dos bancos, dos grupos internacionais, dos grandes empresários. As pessoas, inclusive aqui no Aventar, estão desejosas de que ele caia, esquecendo-se que outro lacaio o irá substituir. Não gasto um minuto para ajudar a substituir o Sócrates pelo Rebello de Sousa, por exemplo.

  12. Quanto à questão da nobreza, ela existe hoje e em república. O que pensa serem os comendadores beneficiários do regime? Proletariado?O que acha ser  qualquer uma das monarquias europeias, comparada com as suas congéneres republicanas da mesma Europa? Por acaso, estão todas à frente de Portugal, da Itália e até – a maioria – da França!A questão do Chefe do estado é simbólica e o Carlos sabe bem que o bicho homem vive aferrado à ideia de símbolos: o que significou a múmia de Lenine ao longo destes oitenta anos?A democracia directa é uma utopia? talvez sim, talvez não. Mas para tê-la, o que de mais parecido existe está na Suíça, embora a o nível mais alto da organização do estado, as coisas sejam depois diferentes, no que respeita à grande política. Como decidiria a política externa? De braço no ar? E as obras públicas nacionais, sublinho, nacionais? Com um premir de botão no computador? Talvez daqui a cem anos, quem sabe.Os países carecem de estabilidade e sinceramente, não sei em quê Portugal é mais estável, justo, igualitário e democrático que qualquer uma das monarquias nossas aliadas. perdemos em tudo e para sermos concretos, esta república vive essencialmente através de gente que decide e que jamais foi eleita! Basta ver o campo da magistratura, em todos os eus patamares. E ainda dizem que existe separação de poderes…A partilha da Espanha. Ora, Carlos, afinal é mais nacionalista que aquilo que eu estava à espera. Crê verdadeiramente que a explosão da Jugoslávia acabou por ser uma coisa boa? O erro foi consumado em 1918-19, mas de facto, a Europa acabou por se habituar à sua existência. Agora, imagine o que seria termos a implosão da Espanha, aqui mesmo ao lado. Pode começar logo no dia em que um atrevido qualquer do PSOE e do PP lhe apetecer ser presidente de uma república qualquer. Sabemos no que dará e era só o que mais nos faltava. A situação de “rodillas” em que nos encontramos hoje em dia, aliada à turbulência aqui ao lado? Não, obrigado. Os Bourbons que façam o frete os centos de anos que forem necessários, desde que não nos arranjem sarilhos. Quanto à Hola – que não me interessa nada -, olhe o que pelas suas capas vai com as Carlas Brunis, os Sarkozys, Obamas, etc. Até o Sócrates e a Fernanda Câncio. Vou ao Dia, o supermercado aqui ao lado de casa e todos os dias temos republicanas novidades, ehehehehehe

  13. A implosão do estado espanhol seria bom para nós, mas sobretudo (e isso é que tem importância) seria justo para catalães, bascos e galegos. Porque carga de água têm eles de ser dirigidos por estrangeiros? No dia 30 deste mês e 1 de Dezembro publicarei um texto escrito em colaboração com um amigo catalão. Agradeço a sua atenção para ele. Quanto à pirosice, tem razão, não é exclusiva dos monárquicos. Antes fosse…

  14. Gosto dos seus textos, já o tenho dito. Pelo menos de alguns deles. Já lhe disse também, que aprecio mais os seus comentários. Não têm aquele ar de quem monta a banquinha e anuncia o jornal da causa monárquica (como é que se chama agora?). Penso que, tirando a questão do regime e expurgado o seu discurso do tal maniqueísmo que tudo põe a preto e branco, poderíamos estar de acordo quanto às coisas importantes. A Monarquia (a República, para si) é folclore – devíamos falar de coisas sérias.

  15. Acha mesmo que seria bom para nós, logo agora que estamos numa situação de quase total dependência económica? Quando há cem anos se berrava contra os 27% de comércio externo com a Inglaterra, hoje em dia a coisa, no que se refere à Espanha, é muito superior. Quanto a isto, já pouco podemos fazer. Nos anos 30, Salazar tirou aos ingleses o caminho de ferro da Beira (Moçambique), limitou as Companhias Majestáticas inglesas em Moçambique, acabou com eles na Carris, Marconi, Electricidade, Correios e Telefones. Podia fazê-lo, porque a Inglaterra estava numa fase descendente e o Portugal tinha alguma estabilidade financeira. Hoje, não me parece acertado investir na instabilidade.Se o Carlos for até à Catalunha, decerto surpreender-se-á com a paranóia nacionalista mais exacerbada, a lembrar a pré-Croácia de 1990. Está tudo em catalão, “fazem de conta” não entender castelhano – uma grosseria para com os estrangeiros – e só nos entendem SE houver interesse monetário envolvido. Parlamento próprio, bandeira (uma espécie de tecido idêntico ao do Vietname do Sul, ehehehe), o “Els Segadrs” como hino, enfim, são praticamente um país independente. Comandantes militares à frente das mais importantes unidades do Estado, ministros, etc. Tem o mesmo Chefe de Estado, no essencial, assim como uma  mesma representação externa e defesa. Como português, já tive o desagradável ensejo de escutar todo o tipo de dislates proferidos por catalães, sempre ansiosos por comparar o seu sucesso com a nossa aparente “desgraça”. mais, nem conseguem distinguir o nosso percurso histórico que firmou a língua em quatro continentes, com aquilo que a realidade catalã demonstra à saciedade. De facto eles sabem estar dependentes do mercado interno espanhol e há uns dois anos, quando de certas clivagens a propósito do estatuto, os castelhanos (andaluzes, valencianos e galegos incluídos), decidiram-se a um boicote dos produtos provenientes da região. resultado? O vinho Cava teve uma estrepitosa queda nas vendas que ia arruinado os produtores. eles são 5 milhões e a quem venderão a produção? Há que pensar em todas as hipóteses.Somos independentes há 800 anos (mais), mas se não tivesse existido 1640, é provável que hoje não andasse por aí a pugnar a colocação de bombas. A melhor hipótese para eles, a meu ver, será firmarem o mais que puderem, o seu poder em Espanha. É aborrecido e talvez abusivo dizer isto, mas não vejo outra hipótese. Fora do seu território, não têm qualquer tipo de âncora, coisa que não se pode dizer de Portugal. Veja o sucesso das independências em África, pelo menos no que se refere à língua portuguesa. Compare o português de ministros de Angola, com aquele falado hoje em S. Bento e até por alguns membros do governo. O que podem dizer os catalães?o problema deve ser resolvido por eles,é verdade. Mas quando ouço o sr. Rovira e o seu fascismozinho de tintas vermelhos, fico logo com vontade de o juntar ao Jean Marie Le Pen. É que em Espanha não existe qualquer tirania. Aqui no nosso Portugal há algum Baltazar Garzón? 

  16. Nuno, conheço bem a realidade catalã. Durante mais de vinte anos vivi entre Barcelona e Lisboa. O falarem catalão não significa arrogância – é o idioma deles. O grande problema, o grande obstáculo à independência são os interesses dos grandes empresários catalães. Integrados no estado espanhol, têm à sua mercê um mercado que, se se tornarem independentes, perdem. São muito patriotas, mas negócio é negócio. Agora, o povo em geral quer a independência. E, olhe, na sua maioria, os catalães são republicanos.

  17. Acredito piamente no que me diz, mas é verdade, negócios são negócios. Já agora, os catalães trabalham em peso para eles e não me parece estarem prontos a perder o emprego e a indústria. São republicanos? Claro que sim, até o João Carlos diz que só aceita ser rei de uma república!Os decretos reais, mesmo no tempo do iluminismo, invariavelmente falavam no …”no bem da república”, entendida esta no sentido mais lato, ou seja, no que verdadeiramente importa.

  18. No tal texto desdobrado em duas partes, com que comemorarei o 1º de Dezembro, com a ajuda do meu colega catalão, falo sobre as circunstâncias que permitiram que Portugal se separasse da Coroa da Casa de Áustria e os catalães tenham falhado nesse intento. Agradeço uma leitura sua. O pragmatismo catalão é um dos obstáculos à sua independência, mas creio que a virão a obter primeiro do que os bascos que, quanto a mim, persistem numa via que sendo correcta durante a ditadura franquista, deixou de o ser na actual situação. Quanto aos galegos, a luta está mais atrasada. Trata-se de ver reconhecida a autonomia da língua e da cultura galegas face à aculturação castelhana. Mas, não sendo profeta, como diz o Saramago, acredito precisamente no contrário daquilo que ele preconiza – não só Portugal não será absorvido, como Espanha terá de se contentar em ficar com as províncias que, como a Andaluzia, por exemplo, não têm anseios independentistas. No médio-prazo , Espanha é um estado inviável.

  19. Esqueci-me de um pequeno esclarecimento sobre a bandeira catalã, que o Nuno acha parecida com a do Vietname. Salvo erro (estou a falar sem apoios documentais) é a mais antiga da Europa, pois vem do século XII. Quatro faixas vermelhas em campo amarelo. Um conde de Barcelona, numa batalha, antes de morrer, com o polegar dobrado, como é normal, molhou os quatro dedos no próprio sangue e passou-o pelo seu escudo amarelo. Lenda ou História esta é a exolicação para a bandeira. O idioma, pertence ao grupo oriental das línguas neo-latinas (com o francês e o italiano), enquanto o galego-português e o castelhano formam o grupo ocidental. É tão antigo e respeitável como os outros. Já agora: Espanha é um estado moderno – nasceu formalmente em 1812 nas Cortes de Cádiz – pelo casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, no século XV, as coroas de Leão e Castela, por um lado, e de Aragão e Catalunha, por outro, passaram a ser cingidas pelo mesmo rei, mas sem que os estados se unificassem. E assim foi até que na Constituição saída das Corte de Cádiz nasceu o estado espanhol que, a partir de então, passou a ter existência formal.  

  20. Cádis, em português é Cádis – Cadiz em castelhano – misturei.

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